Finalmente aconteceu. Os olhos de Henrico se encheram de lágrimas e ele até tentou não demonstrar sua emoção com aquele momento, mas foi inevitável.
Enquanto Antonela e Fabrício o observavam admirados, ele virava as costas, engolindo toda a emoção. Ele sabia que Antonela voltaria para a fábrica, não porque ele tinha a intenção de humilhá-la, mas porque ele precisava dela. Henrico jamais havia dito isso para Antonela, mas ele a considerava inteligente demais.
— Eu estava esperando uma oportunidade para falar com você – disse Henrico, quando voltou a olhar nos olhos dela – mas, com a situação do Adam, não considerei um bom momento.
O rosto dele se transformou, como se tivesse sido banhado por uma tristeza sem fim. O coração batia descontroladamente, seria incapaz de falar depois das emoções daquele dia. Ele até tentava esquecer que Alessia havia fugido, mas era impossível.
— Aconteceu alguma coisa? – Antonela analisou mais um pouco o rosto do pai e percebeu que algo o preocupava.
Mas Henrico, em um primeiro momento, não conseguiu dizer nada.
— A Alessia fugiu da fábrica – a voz de Fabrício rompeu o silêncio – e deixou uma carta para o seu pai explicando os motivos.
Todos os olhares se voltaram para ele, mas o de Henrico o fuzilou. Fabrício imediatamente percebeu haver cometido um enorme erro falando sobre aquilo. Ao compartilhar aquele acontecimento, Fabrício fez dele alguém que não se podia confiar.
Percebendo a fúria estampada no rosto de Henrico, ele se encolheu e a culpa recaiu em seu coração.
— O que você continua fazendo aqui, Fabricio? – a voz foi como um trovão – não se meta em conversas que não são da sua conta e saia da minha sala imediatamente.
E ele saiu, deixando Henrico com a expressão contrariada no rosto e torcendo para que depois dessa falha não perdesse o seu emprego.
Mas uma vez o coração de Henrico se agitou dolorosamente, quando ele se viu sozinho com Antonela. Observou-a, se aproximar. Com a curiosa e deselegante impolidez, pegou a carta que Alessia havia escrito e estendeu a ela.
— É verdade o que o Fabricio disse – murmurou, assustada, enquanto olhava para o papel estendido em sua direção - porque Alessia fugiria?
— Porque é culpada de tudo o que está acontecendo com você – confessou e balançou o papel para que ela o pegasse – a Carlota pagou uma quantia para ela mentir sobre você.
O coração de Antonela afundou no peito. Ela pegou finalmente a carta e a leu. Sua expressão foi a mesma de Henrico quando leu as palavras pela primeira vez. Ela não deveria ficar perplexa, mas era como se Alessia não deixasse de surpreendê-la.
Um silêncio duradouro se estabeleceu entre eles, como se eles pensassem sobre aquilo. E havia muito o que pensar. Mas Antonela se lembrou de que precisava voltar ao hospital para ficar com Adam e que havia ido ali apenas para pedir um favor ao pai que ela dizia jamais perdoar.
— O que o senhor vai fazer em relação a isso? – levantou o papel, mostrando sobre o que falava.
— Não há nada que eu possa fazer – ele bufou e voltou a se sentar – está na hora de deixar Alessia viver a vida dela e sofrer as consequências disso.
— Pode ser – deu de ombros, mas sua atitude não resolvia as coisas – se vai trabalhar comigo, teremos que viver em paz.
— Esse é o problema do senhor – os olhos de Antonela encheram-se de lágrimas – passou a vida inteira me diminuindo e me tratando como se eu não fosse a sua filha e nem um pedido de desculpas consegue realizar.
Antonela fez uma pequena pausa ao sentir o ar fugir dos seus pulmões, como se o seu coração fosse parar de bater a qualquer momento.
— Estou aqui pelo Adam – concluiu – não se preocupe, eu não ficarei o suficiente para existir paz entre nós dois.
Dessa vez, ela virou as costas e partiu sem que ele tentasse impedi-la. Por um momento, Henrico ficou com muita raiva, mas quando se viu sozinho, teve vontade de ir atrás dela e tentar resolver as coisas.
Era só ter pedido desculpas, ele repetiu a si, tê-la tratado bem e com respeito e tudo ficaria bem.
Ele votou a se sentar, sentindo o peito doer. Ficou com medo de sofrer outro infarto. Seu coração estava cheio de angústia, coisa a qual ele experimentara poucas vezes em sua vida. Achava que Francesca ficaria feliz se ele se reconciliasse com Antonela, mas agora parecia tarde demais. Antonela o odiava.
Antonela jamais o perdoaria.
Quando se acalmou, tomou o chapéu nas mãos e saiu da fábrica. Ele precisava descansar. Ter ao menos um dia de paz em sua vida.

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