Benjamin leu o teste tantas vezes que perdeu, gradualmente, a noção do tempo ao seu redor. Estava atrasado para o próprio casamento. De repente seu celular vibrou insistentemente, uma chamada atrás da outra, uma mensagem após outra, mas ele estava interessado em apenas uma coisa, saber se o que Vladir dizia era realmente verdade.
— Como vou saber que se o que me diz é verdade? – voltou a olhar para o delegado, agora com o rosto coberto de suor – você está tentando arruinar meu casamento com isso, Vladir?
O delegado suspirou e voltou a olhar pela janela. Agora não havia mais luz na parte alta do céu. Um sorriso irônico repuxou seus lábios quando ele imaginou o escândalo que se instalaria assim que Benjamim se desse conta da verdade e abandonasse a noiva pela segunda vez no altar.
Ele não podia negar a si que sentia prazer naquilo e que arruinar o casamento de Benjamim era uma grande satisfação. Voltou a olhar para ele, dessa vez feliz por ser o causador de sua tragédia.
— Não considerou que eu estar contando a verdade já não seria uma vingança? – Benjamim ergueu uma sobrancelha, descrente – não acha que tenho coisas mais importantes para resolver do que falsificar exames de gravidez?
Benjamin se pegou pensando sobre o que ele disse.
— Quero falar com quem foi o responsável por isso.
Balançou o papel na direção dele, demonstrando a urgência em saber a verdade.
— Quer mesmo se atrasar para o próprio casamento? – Benjamim conseguiu ver o quanto Vladir se divertia com sua tragédia, mas ele não se importou, e insistiu um pouco mais.
Saiu do carro e dando a volta, pediu para que o motorista se retirasse e fosse até a igreja dizer que o casamento estava cancelado. Ao ouvir a frase dita por ele, Vladir vibrou discretamente. Era um enorme prazer ver Benjamim arruinado, afinal ele precisava pagar pelo mal que havia feito contra sua pobre irmã.
Mas o motorista se recusou a fazer o que ele ordenava. Balançava a cabeça negando, temendo algo muito maior.
Sabendo que ele mesmo teria que resolver aquilo, segurou o homem pelo paletó e o trouxe para próximo, dizendo em um timbre ameaçador.
— Se não fizer o que estou mandando, serei mais implacável do que a Carlota pode ser com você – soltou ele com agressividade – vá e faça o que estou mandando.
Seus olhos ferveram em direção ao homem, que permaneceu caído no asfalto até que ele e Vladir entraram no carro e saíram.
Não havia mais volta. Benjamin não sabia se o motorista cumpriria suas ordens, mas a decisão de cancelar o casamento estava feita. Ele sabia que, se Vladir estivesse mentindo, as consequências seriam devastadoras, mas Benjamim se negava a casar com uma mulher que provavelmente havia mentido para ele pela centésima vez.
Raivoso, desligou o celular para que assim não cometesse uma grande loucura.
— Para onde devo ir? – indagou atrás do volante sem olhar nos olhos de Vladir.
— Para minha delegacia – disse e olhou de esgueira para ele – o homem está preso.
— Você o prendeu por falsificar um exame?
— Não! Embora o que ele fez seja também um crime grave, não foi esse o motivo da sua prisão – ele pensou um pouco – vou deixar que ele mesmo conte como tudo aconteceu.
Os olhos de Fred estremeceram ao ouvir aquilo. Aquele homem não estava ali para tirá-lo da prisão, mas para afundá-lo ainda mais naquele enorme problema.
Caminhou até ele, sabendo que apenas uma grade os separava e tremulando de medo, disse:
— Sinto muito, senhor – gaguejou, sentindo que sufocaria com a própria saliva – eu precisava do dinheiro para salvar a vida da minha mãe e a Alessia prometeu uma boa quantia caso eu falsificasse o exame para ela.
Então era tudo verdade? O olhar de Benjamim tornou-se perdido e ele sentiu as pernas fraquejarem. Como ele permitiu que a situação chegasse àquele ponto? Como ele deixou que fosse enganado tão facilmente?
Voltou a olhar para o rapaz parado à sua frente, percebendo que não era só ele que estava afundado na dor. Fred agarrava as grades com tanta força que seus dedos se tornaram brancos e seu rosto, vermelho como pimentão, era encharcado pelas lágrimas.
— Ela não cumpriu o que prometeu – ele prosseguiu com o relato com a voz embargada, de modo que Benjamim precisou se aproximar para ouvi-lo melhor – ela não me pagou o restante do dinheiro e então fui obrigado a cometer uma loucura e por isso estou preso aqui.
— Qual é o seu nome, rapaz? – a pergunta fez Fred levantar os olhos até Benjamim e ver algo estranho em seu rosto.
— Eu me chamo Frederico – respondeu, passando a mão sobre o rosto.
— Muito bem, Frederico – Benjamim soltou o ar como se soltasse com ele toda a dor presa no peito – você vai me contar tudo o que aconteceu, todos os detalhes e depois prometo tirá-lo daqui.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: O filho secreto do bilionário