Antonela jogou a cabeça para trás e fechou os olhos assim que ouviu as palavras de Henrico. No segundo seguinte, antes que ela pudesse pensar sobre o que ele havia dito, Henrico continuou com suas argumentações.
— Ele pode auxiliar no tratamento do Adam – aproximou o rosto, olhando para ela – e ele merece saber que tem um filho.
Ao ouvir isso, Antonela se virou para encará-lo.
— O senhor não pensava assim quando a Alessia iria se casar com ele – levantou-se irritada.
Naquele momento, os olhos de Antonela estavam gelados, enquanto ela fervia por dentro. Abandonou a xícara ainda cheia de café em cima da mesa e subiu as escadas em direção ao banheiro. Ela não queria ouvir nem mais uma palavra sobre esse assunto. Adam não precisava de Benjamim, ele precisava ser curado e ela cuidaria dele sozinha, como havia feito durante aqueles quase quatro anos.
Lá embaixo, na sala de estar, Henrico ficou em silêncio, pensando que Antonela estaria tão abalada que não enxergava a gravidade da situação. Era muito mais do que a necessidade de Benjamim saber da existência daquele filho, era também pela saúde de Adam. Benjamim podia ser a cura do garoto.
Pensava nisso, quando ela descia as escadas, pegava a bolsa sobre o sofá e se direcionava a ele, dessa vez aparentemente mais calma.
— Sou grata pelo seu apoio nesse momento difícil – ela prendeu a respiração e só soltou quando concluiu o pensamento – mas por favor, não fale mais sobre isso. Não existe nenhuma possibilidade de o Benjamim saber da existência do Adam.
— Está condenando o seu filho a viver longe do pai – sua testa se contraiu em uma careta de insatisfação - o Benjamim pode auxiliar a curá-lo.
Um sorriso incrédulo repuxou os lábios de Antonela.
— O senhor não pode estar falando sério – ela revirou os olhos como um gesto de desprezo as palavras de Henrico – o Adam vai reagir bem ao tratamento e não precisará de um doador de medula.
— E se ele precisar? E se nem eu ou você não formos compatíveis? Deixe de ser uma menina egoísta e comece a pensar no melhor para o seu filho.
Irritado, Henrico girou os calcanhares, pegou seu chapéu pendurado no batente da porta e saiu da casa com passos pesados e resmungando palavras que Antonela não soube decifrar.
Antonela olhou intensamente para a porta, agora fechada e pensou sobre o que ele dissera. Qual era a possibilidade de esconder Adam de Benjamim para sempre? Ela acreditava mesmo que aquilo seria possível? Evitou pensar que Henrico estivesse certo em sua conclusão e manteve a fé de que Adam reagiria bem ao tratamento inicial e que ela não precisaria se humilhar ao Benjamim para pedir a ele qualquer favor.
Saiu de casa e viu Henrico do outro lado da rua esperando por ela. Voltaram para o hospital com o céu já escurecendo. O caminho foi silencioso, como se caminhasse ao lado de um estranho que apenas lhe fazia companhia.
Contendo a frustração enraizada em seu coração, Henrico olhou para Antonela antes de entrar no hospital e lhe disse:
— Volto para a fábrica amanhã – ele lhe disse e ela estranhou o fato dele informar isso a ela – você retorna quando o Adam estiver melhor.
Ela o olhou percebendo o quanto ele estava envolvido emocionalmente em toda aquela situação. Henrico se preocupava com a segurança de Adam como jamais havia se preocupado com ela, mas Antonela sentiu-se feliz ao presenciar isso.
Estava pronta para conversar com ele sobre aquilo, quando viu Dominique sair aflita de dentro da emergência e correr em sua direção.
Fechou os olhos contra a onda de dor. Sentia seu coração partir pela décima vez somente naquele dia. Uma pequena parte dela esperava que aquele pesadelo terminasse, mas ela sabia que não acabaria tão cedo.
— Onde está a mãe de Adam Bianchi? – a voz profunda do médico cortou o silêncio, interrompendo a tensão que pairava no ar, ou certamente aumentando-a.
Antonela deu um salto, colocando-se de pé rapidamente e caminhando na direção dele. Carmélia estava certa quando dizia que o semblante do médico indicava que a situação não era nada favorável ao Adam.
Um nó se formou na garganta dela ao olhar nos olhos do homem e imaginar o pior.
— A anemia está causando alterações renais e urinarias no Adam – os olhos de Antonela encheram-se de lágrimas – ele não está reagindo ao tratamento inicial.
— E o que isso significa? – Antonela esfregou o peito tentando aliviar a dor e temendo a resposta que o médico lhe daria.
O homem abaixou o olhar, inspirando o ar como se quisesse enchê-lo de coragem.
— Precisamos encontrar um doador de medula óssea compatível – fez uma pequena pausa, olhando nos olhos dela dessa vez – Urgentemente.
Agora, Antonela respirava com dificuldade. As palavras saíram da boca do homem como uma bala, atingindo o seu coração. Antonela não conseguia dizer mais nada, apenas chorar, deixando o desespero dominar tudo ao seu redor.

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