O Padrasto 1 romance Capítulo 25

Eu te amo, Christopher, te amo

com todas as minhas forças.

Julha Thompson

Três anos depois...

Faz três anos que saí de casa e ainda sinto muita saudade dos meus amigos, das nossas conversas animadas, das festas, enfim, de tudo que fazíamos juntos. Durante todo esse tempo, Lucca tem sido o meu companheiro, um amigo que está ao meu lado em todos os momentos. Também sinto falta da casa da minha mãe e confesso que às vezes fico curiosa para saber como andam as coisas por lá. Eu vejo a foto do Júnior, meu irmãozinho, nas redes sociais da minha mãe, que faz questão de exibi-lo. Sabendo como o seu marido é, tenho certeza que ele se sente incomodado com isso. Meu irmãozinho é muito lindo, bem parecido com Christopher. Só espero que não se meta em roubadas assim como o seu pai. Um sorriso aparece em meus lábios quando me lembro dos seus pequeninos olhos azuis expressivos.

No ano seguinte a minha mudança para a casa de vovó ele nasceu, ninguém esperava por essa antecipação e eu fiquei muito preocupada, então não pensei duas vezes para ir até Nova Iorque. Com a ajuda de Ane, eu entrei na maternidade e ao colocar os meus olhos naquele lindo garotinho, que não parecia ter nascido de sete meses, pois era uma criança grande e forte, foi amor à primeira vista e, por um momento, pensei que aquela criança poderia ser fruto do meu amor com Christopher.

Quando estava saindo da maternidade, eu vi Christopher de longe e a felicidade estava estampada em seu rosto. Fiquei contente por ele, eu sei o quanto ele gosta de crianças. Foi então que Ane me disse sobre as inúmeras vezes que Christopher a procurou para ter informações a meu respeito. Logo após a minha partida, ele se entregou a bebida e passou muitas noites em bares, chegando até mesmo a ir à casa dela totalmente alcoolizado implorando por qualquer notícia minha. Ao ouvir tudo aquilo senti uma dor insuportável, e sabendo que ele estava mais perto do que deveria, fiquei tentada a ir falar com ele, abraçá-lo e dizer que eu não o havia esquecido, mas eu não podia fazer isso. Christopher seguiu a sua vida e agora tinha um filho que dependia dele, assim como a sua família. Um dia espero ter a minha família e poder encontrar a felicidade, assim como aconteceu com ele.

***

Ao passar pela cozinha, eu me despeço da vovó e pego uma maçã, que como ao sair enquanto vou ao encontro de Lucca que me aguarda no seu carro.

— Finalmente — ele diz, visivelmente cansado.

— Desculpe-me por não ter nascido com a sua habilidade em me arrumar em tempo recorde — desdenho.

— Eu só posso lamentar por você — diz com um sorriso irônico nos lábios. —Vamos embora, eu não quero chegar atrasado.

Eu me sento no banco do passageiro e afivelo o cinto de segurança enquanto Lucca dá partida no carro. Como em todas as manhãs, seguimos para a faculdade em sua Mercedes percorrendo as ruas movimentadas de Vegas enquanto a voz de Axl Rose — vocalista da sua banda favorita, que de tanto ouvir eu acabei gostando —, ecoa através dos alto-falantes.

Eu olho para o meu primo de soslaio e vejo o sorriso doce de um menino sapeca, mas muito carinhoso, iluminando o seu rosto. Um sorriso lindo e sincero, assim como a nossa amizade. Lucca tem tido um papel muito importante em minha vida, ele é especial para mim e não pelo fato de ser o meu primo, mas por ter se tornado um grande amigo, uma pessoa com quem eu divido os momentos inesquecíveis da minha vida. Momentos bons e ruins. Eu o amo incondicionalmente e acho que ele não tem noção disso. Às vezes eu me pergunto se ele sabe o quanto a sua amizade é importante para mim. Eu quero que ele saiba que estarei ao seu lado sempre que precisar, sinto que a minha missão nessa vida é protegê-lo e farei isso com afinco.

Dou um sorriso divertido ao me recordar do seu comportamento infantil quando cheguei à casa da vovó. Nunca imaginei que em algum momento eu poderia nutrir um carinho tão grande por ele, e mesmo que se mostre durão, sei que ele sente o mesmo por mim.

— Está tudo bem? — ele pergunta, sem desviar o olhar da estrada.

— Sim, estou bem — afirmo e sorrio para ele, tentando acreditar no que estou dizendo.

— Está tão quieta. Aconteceu alguma coisa que eu não estou sabendo? Pietro aprontou alguma? — fala desenfreadamente. — Olha, se ele...

— Não se preocupe — eu o interrompo — Pietro não fez nada.

Ele me encara por alguns minutos parecendo desconfiado antes de dizer:

— Você sabe que pode contar comigo, não sabe? — Volta a me olhar com ternura.

— Eu sei e agradeço por isso. Estou pensativa por conta das provas, não tem nada com o que se preocupar.

— Claro — ele diz, mas não parece convencido, então volta a se concentrar na estrada.

(...)

O fim das aulas já havia chegado. Saio das dependências do campus na companhia de Pietro, Lucca e Lauren seguindo em direção ao estacionamento.

— Você só pode estar brincando — Pietro diz, incrédulo, não conseguindo evitar as gargalhadas que escapam dos seus lábios.

— Eu nunca falei tão sério em toda a minha vida — Laura diz, fingindo uma seriedade que não possui.

Descontraído, nós rimos da situação constrangedora em que Laura se colocou enquanto nos aproximamos do carro de Lucca. Meu primo conversa animadamente com a nossa amiga enquanto eu me despeço de Pietro, que me enche de carinho e promessas de amor eterno.

— O que foi? — pergunto ao perceber que ele tem os olhos cravados em mim. Levo uma mão ao seu rosto enquanto mantenho a outra em seu pescoço assim que paramos de nos beijar.

— Eu estou admirando a sua beleza. — Ele deposita um selinho estalado em meus lábios. — Eu me pergunto o que foi que fiz de tão bom nessa vida para merecer você. — Pietro segura o meu rosto entre suas mãos e dá outro selinho.

— Não seja bobo. — Sorrio, envergonhada.

— Estou apenas dizendo a verdade, você foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida. — Ele volta a me beijar.

— Você é muito gentil. — Sorrio em agradecimento.

— Eu não estou apenas sendo gentil. Eu te amo, Julha, te amo desde a primeira vez em que coloquei os meus olhos em você. Desde a primeira vez que saímos, e te amei mais ainda quando você aceitou o meu pedido de casamento.

— Eu também estou muito feliz por estar com você — digo com sinceridade.

Eu não amo Pietro como amei, ou melhor, amo Christopher. Quando eu o conheci senti que algo em mim havia mudado, algo diferente despertou e eu me permiti explorar mais esse sentimento. Pietro é a porra de um lindo italiano moreno dono dos olhos verdes-esmeraldas mais bonitos que eu já vi. Por onde passa ele chama a atenção das mulheres com seu corpo másculo, viril. Pietro é perfeito.

Lembro-me de quando eu o vi pela primeira vez. Mesmo tendo o meu coração ocupado por outro, não fiquei imune a beleza e sensualidade natural que o seu belo corpo exibe. Lucca nos apresentou no primeiro dia de aula, nós nos cumprimentamos com um breve aperto de mão e um pequeno sorriso. Depois de nos entreolharmos, eu senti que havia chegado a hora de seguir em frente, que o momento de me permitir recomeçar estava na minha frente.

Não demorou para que o meu primo me inserisse em seu grupo de amigos da faculdade, a maioria homens, o que era de se esperar. Tirando eu, a mãe dele e a vovó, meu primo Lucca só consegue visualizar as mulheres que atravessam o seu caminho nuas, em sua cama. Poucas eram as garotas dignas de participar do seu seleto ciclo de amigos, de acordo com ele, somente eu e Lauren — uma linda ruiva de pele branca como a neve, olhos cor violeta mais lindos que eu já tinha visto e um corpo escultural.

Como um ser humano igual a todos os outros, Lauren tinha suas virtudes, mas também cometia seus erros. E o seu grande erro foi entregar o seu coração ao meu primo, que não tinha nada a lhe oferecer além da sua amizade e um amor de irmão, e isso impedia que Lucca notasse o sentimento que ela nutria por ele. O coração parece sentir prazer em se apaixonar por alguém que não pode ter.

— Tchau, Ju, Pietro, até amanhã. — Aceno com a mão, retribuindo o cumprimento de Lauren, que se despede após beijar Lucca no rosto e caminhar em direção ao seu fusca vermelho. — Tchau, Lauren. — Sopro um beijo para ela.

— Eu a deixarei ir, mas quero que fique bem claro que ainda não consegui digerir tudo o que você disse — grita Pietro, brincalhão.

Ela solta uma gargalhada e joga a cabeça para trás, antes de dizer:

— Então, faça um esforço, meu amigo, ou poderá ter uma indigestão — ela rebate e dá um piscadela.

Pietro, Lucca e eu seguimos até o carro do meu primo, onde me despeço do meu noivo sob seus protestos com um longo beijo com a promessa de nos encontrarmos mais tarde para discutirmos assuntos relacionados ao nosso casamento durante o jantar.

— Parem já com essa porcaria e vamos logo. — Lucca diz, irritado e visivelmente enciumado.

Fico observando Pietro tomar lugar em seu carro, que está ao lado do de Lucca, e o colocar em movimento.

— Estou pronta, apressadinho, podemos ir.

Lucca desativa o alarme e abre o carro, mas logo em seguida seus olhos observam algo às minhas costas. Imediatamente, a expressão relaxada em seu rosto é substituída por espanto.

— O que há com você? Por que está parado feito uma estátua? — Eu me viro lentamente e descubro o que roubou a sua atenção. E assim como Lucca, eu congelo, minhas pernas estremecem e minha pulsação acelera a ponto de me fazer perder o fôlego.

Há muito tempo esperei por esse momento, foram longas noites em claro imaginando como eu me comportaria caso visse Christopher à minha frente. Pensei milhares de vezes o que diria e como agiria, e agora, após três anos de preparação, não sei o que fazer e nem se devo acreditar no que estou vendo.

Os nossos olhos se cruzam e o meu corpo reage de uma maneira que há muito tempo não acontecia, nem mesmo quando estou com Pietro. O meu coração acelera, fico toda arrepia, minha boca fica seca, sinto um frio na barriga, como se milhares de borboletas levantassem voo no meu estômago e, de repente, o mundo parece parar e só consigo ouvir o som que vem do meu coração.

Penso se devo ignorá-lo ou dizer tudo o que senti durante esse tempo longe, mas nem que eu quisesse conseguiria, minha língua pesa dentro da boca, meus olhos ardem com as lágrimas insistentes clamando por liberdade, porém, no fundo, só quero que ele responda o que o trouxe até mim. Agora. Depois de tanto tempo.

— Oi — ele diz com um tom de voz mais rouco do que eu me lembrava.

O sorriso que me lembro tão bem e que senti tanta falta ilumina o seu rosto, me fazendo engolir em seco em um tentativa de impedir que um sorriso apareça em meus lábios.

— O que você quer aqui, Christopher? — digo entredentes.

Não posso negar que o ver aqui, lindamente vestido em seu terno Armani, não me deixa feliz. Sim, fico imensamente feliz, mas não sou a mesma menina inocente que entregou o coração e corpo para alguém que jamais poderá me pertencer.

— Pimentinha...

Eu o encaro, meus dentes cerrados em reprovação ao ouvir o apelido ridículo que ele me deu. Eu sei que o cretino do meu primo vai usar isso contra a mim, mas não é com ele que tenho que me preocupar nesse momento.

— Julha, me desculpe por ter vindo sem avisar, mas não posso mais adiar esse encontro e...

— Eu sinto muito — eu o interrompo, irritada —, mas você chegou em uma hora errada. Eu tenho um compromisso.

Que direito ele acha que tem de chegar aqui, convicto de que aceitarei ter essa conversa?

Eu me viro para sair, mas ele me alcança e agarra o meu braço, impedindo-me de dar mais um passo. Meu corpo estremece, então me livro do seu contato ao me sentir incomodada. Estranha é a palavra que eu resumo diante dessa situação. Alguém com quem já tive muita intimidade hoje parece um estranho. Um estranho que despertou os sentimentos que pensei estarem mortos, mas só agora sei que estavam adormecidos.

— Eu não irei roubar muito do seu tempo, prometo. — Ele me encara com o mesmo olhar sedutor que muitas vezes eu me perdi.

— Então, vamos lá. Sou toda ouvidos. — Eu seguro o meu material na frente do corpo, como um escudo. — Então me diga, aconteceu algo com a minha mãe ou com meu irmão? — pergunto, já ficando aflita.

— Não se preocupe, pequena, eles estão bem.

Christopher se aproxima e, como se utilizasse uma espécie de hipnose, o meu olhar se prende ao dele. Quando me dou conta, estamos muito mais perto do que eu gostaria. A sua mão desliza pelo meu braço e sobe até o pescoço, deixando-me toda arrepiada, enquanto seu polegar acaricia o meu rosto. Não querendo sucumbir aos seus encantos, eu fecho os olhos.

— Christopher, por favor — minha voz não soa convincente, então saio do meu momento de transe, completamente desorientada com a sua aproximação.

Eu quero mandá-lo embora, exigir que ele volte para o lugar de onde nunca deveria ter saído, mas quero também essa aproximação, quero abraçá-lo, mandar embora a saudade que me fez sofrer com a sua distância.

— Me desculpe, não consigo evitar, é mais forte que eu.

Eu me afasto, tomando uma distância em que eu me sinta segura estando na presença dele sem correr o risco de ter uma recaída. Ter Christopher de volta à minha vida nesse momento é algo que não preciso, tudo está indo muito bem agora. Ele não tem o direito de voltar e bagunçar a minha vida.

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