Era domingo. Eu estava com minha agenda abarrotada de coisas que precisávamos comprar pela cidade próxima da Mansão. Shadique e Tomas estavam do meu lado, sem dizer uma palavra sequer e eu estava usando uma burca preta que me cobria todo o corpo, tudo. Sra. Zilena preferia não arriscar que eu fosse reconhecida como uma estrangeira, pelo menos não pelas vestimentas.
Ela nos acompanhou como pode. Também estava vestida com burca andando ao nosso lado. Por um momento, acabou saindo de perto da gente para ver outras abayas, mas Shadique falava bem melhor que eu, árabe, e conseguiu falar por mim tudo o que precisávamos para levar para a mansão. Encomendamos algumas coisas, que seriam deixadas no carro, já que eram pesadas demais e outras, nós mesmos carregamos.
Era um dia calmo e me fazia lembrar do fato de que já fazia uma semana que eu estava na mansão. A semana tinha se passado muito rapidamente, com acontecimentos fora do comum, mas que eu preferia não lembrar enquanto estava ali no mercado encarregada das coisas.
Zilena foi até a mesquita rezar e eu e os empregados voltamos para a mansão, primeiro de carro, depois de avião, pousando na ilha na qual a mansão do Senhor Rashid estava. Quando alcançamos a mansão, pouco tempo depois, eu estava cansada e morta. Contudo, como Zilena tinha me deixado tirar o resto do dia de folga, acabei fazendo o que mais precisava naquele momento: Dormindo.
Acordei um pouco assustada, sabe-se lá pelo que. Percebi que o sol já estava se pondo agora que eu acordava. Talvez fosse isso que tivesse me acordado. O sol se pondo, a escuridão chegando por fim. Ainda assim, estava com o coração palpitando e peguei o meu celular calmamente, tentando ligar para minha mãe mais uma vez. O celular deu apenas dois toques e ela rapidamente atendeu:
– Agnes, querida! Você está bem? – Perguntou minha mãe parecendo feliz pela ligação. Sorri, embora soubesse que ela não seria capaz de ver meu sorriso.
– Estou ótima, mãe! A semana foi bem trabalhosa, mas cá estou. Como a senhora está? – Perguntei e minha mãe começou a contar do seu trabalho, mas a barulheira atrás dela começou e logo eu ouvi a voz de Fernanda:
– Oiiiiiiie. Diga oi Sofia. – Ela disse e minha irmã riu enquanto dizia:
– Oi. – Ri do que as duas faziam e minha mãe parecia levemente irritada agora que Fernanda tinha pego o celular dela da mão. Adorava Fernanda e a forma como ela agia. Minha mãe já a via como filha e ela, por sua vez, já agia com intimidade suficiente para uma.
– Você liga para todos menos para mim, né? – Disse Fernanda e percebi que ela falava com a voz como se fizesse biquinho. Ri. Meu coração apertava-se por dentro de tamanha saudade que eu tinha delas.
– Estou com um pouquinho com falta de tempo, Fer. – Disse e Fernanda bufou enquanto dizia:
– Não importa. Vou passar o telefone para sua irmã e para sua mãe. Depois eu falo mais com você. – Revirei os olhos. Fernanda era bem maluquinha, eu gostava muito dela. Logo ouvi a voz de Sofia no telefone e meu coração se acendeu de um amor muito grande e quente.
– Oi Agnes. Como está aí? – Perguntou Sofia. Sorri.
– Eu vou bem. Alguns problemas com trabalho demais, mas está tudo certo. E você, como foi? – Sofia suspirou.
– Peguei mais um tubo de oxigênio essa semana. A Dra. Gabriela disse que o câncer não cresceu mais, continua do mesmo tamanho. Ainda assim, ela disse que preciso esperar mais um pouco para começar o tratamento. – Assenti.
– Ponha na viva voz, Sofia. – Pedi e ela logo o fez. – Mãe? – Chamei e minha mãe demorou para responder, do jeito avoada dela enquanto dizia:
– Oi. Eu. – Ela disse. Tentei não parecer que estava à beira do colapso.
– Mãe, no fim desse mês vou te depositar o que estou ganhando. Aqui ganho em dólar, então acho que consigo dinheiro o suficiente para começar o novo tratamento da Sofia. Esse tratamento não é pago pelo SUS, mas acredito que dará certo. Qualquer coisa, qualquer mesmo, que tu precises para a Sofia, você me diga, viu? Não quero que nada dê errado com ela. Agora tenho dinheiro o suficiente para ajudar, dinheiro suficiente para ela começar. – Minha mãe demorou para responder. Pensei por um momento que ela tinha desligado o telefone, ou posto mudo, mas, quando ela voltou a falar, percebi que ela estava tentando não chorar, não na minha frente. Apertei um lábio sobre o outro.
– Agnes, você é uma filha tão boa. A Dra. Disse que ainda precisa analisar por esses dias se Sofia está dentro para começar o novo tratamento. Se o câncer continuar em sua margem de erro, como ela espera que ele faça, Sofia está dentro. E acredito que vai dar tudo certo. – Concordei balançando a cabeça. Não queria chorar também. Céus, meus olhos já estavam molhados.
– Vai dar, com certeza, mãe. E você, Sofia, é bom se cuidar, se não quando eu voltar para o Brasil vou te encher de cócegas. – Sofia riu com o que eu disse, mas logo o telefone fora pego por Fernanda novamente, impedindo que minha mãe e minha irmã dissessem outra coisa novamente, embora eu imaginasse que o celular ainda estivesse no viva-voz.
– Ok. Ok. Parem com toda essa tristeza. Pensamento positivo que eu sei que vai dar certo. Agora, Agnes, é com você. Conte me tudo sobre esse bonitão aí. – Disse Fernanda como se eu estivesse prestes a contar uma fofoca. Não pude deixar de rir da forma como ela falava.
– Ele é filho do meu chefe, Fernanda. O nome dele é Seth. E está noivo. Então, infelizmente, não vou poder te apresentar a ele. – Fernanda bufou do outro lado.
– Eu não sou ciumenta. Sei dividir. – E ele também, pensei com meus botões, tentando não rir.
– Não, não, não Fernanda. Você precisa de um relacionamento sério, sem essa de ficar com os outros. – Acredito que Fernanda revirou os olhos do outro lado do telefone, como era bem típico dela.
– Não quero compromisso com uma pessoa que vai me galinhar depois. Além do mais, já disse Agnes, só vou namorar quando achar alguém que realmente possa valer a pena, alguém que realmente venha a me amar. – Dessa vez eu não pude deixar de revirar os olhos. Fernanda e seu discurso de sempre.
– Você não dá chance para os homens para saber se é realmente esse que vai vir a te amar. – Comentei e Fernanda riu.
– Talvez eu desse uma chance para esse tal de Seth aí. – Disse Fernanda com uma voz maliciosa. Ri.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: O Sheikh e Eu(Completo)
adorei a historia......