Me olhei uma última vez no espelho da suíte. Meus cachos estavam controláveis hoje caindo pelos ombros e meus olhos estavam marcados com o rímel. Eu tinha posto uma blusa de manga comprida verde escura que tinha florezinhas rosadas e que ia até a altura da metade das minhas coxas. Coloquei um cachecol verde também. Além disso, tinha posto uma calça legging e botas de cano curto tentando parecer um pouco apresentável para Zurique noturna. Quando achei que estava aceitável, prendendo metade do meu cabelo e a outra metade deixando solta – para controlar realmente bem os meus cachos – decidi encarar Seth para jantar.
Seth já me esperava na parede oposta à porta do meu quarto, com as pernas cruzadas e os braços cruzados. Seus olhos estavam fechados e a cabeça dele estava encostada na parede, esperando-me pacientemente, sem reclamar. Tomei o cuidado de o olhar rapidamente e, como sempre, Seth estava formidável.
Ele também estava usando uma blusa de manga comprida de cor azul marinho, ainda que tivesse posto uma jaqueta preta por cima. Tinha enrolado no pescoço um cachecol também azul marinho e o que para muitos poderia até parecer meio afeminado, nele parecia ainda mais galanteador e sedutor. Usava uma calça jeans larguinha nas pernas e coturnos nos pés. Acho que era difícil eu me acostumar com um Seth casual e não um Seth de roupas do seu costume ou um Seth de terno e gravata.
Ele abriu os olhos, mas pareceu não notar que eu o estava fitando. Deu uma rápida olhada para mim, desviando o olhar logo em seguida. Baixei meu olhar para meus pés quando vi que ele tinha corado ao me olhar. Acho que era costume por não poder ficar olhando outra mulher com esmero já tendo noiva. Ele era realmente muito educado ao tentar seguir sua religião.
– Vamos? – Ele perguntou e eu concordei. Passamos a andar lado a lado.
– Já sabe onde comer? – Perguntei e Seth me respondeu sem sequer lançar-me um olhar.
– Sim. – Inspirou profundamente. – Você vai ver. – E terminou nossa conversa com uma resposta fria e sem papo para continuações. Voltei ao meu estado de governanta séria e responsável abraçando os meus braços quando saímos para fora do hotel. Eu não ia atrasar mais Seth indo atrás de um casaco. Já estava tarde e ele já tinha um restaurante em mente. Dei de ombros e fiquei a pensar que o frio era apenas mental. Seguimos pelas ruelas de Zurique.
A noite tão bela que era quase difícil de não a notar. Eu estava encantada com aquela cidade. E nem a tinha conhecido direito. Ainda nem sabia me movimentar por lá. Respirei o ar úmido e gélido. O frio é passageiro, pensei por fim.
– Chegamos. – Anunciou Seth e sem me olhar adentrou o restaurante. Dei de ombros. Já estava acostumada à insignificância. Segui logo atrás dele. Não seria isso que me impediria de jantar. E com esse pensamento em mente, adentrei o local.
Seth fez os pedidos enquanto eu ainda me sentava. O local era aconchegante. As mesas de madeira, a pouca luz, as conversas baixas entre as pessoas enquanto comiam. Fora a falta de vento que não mais eriçava a minha pele me fazendo sentir raiva de ter esquecido meu casaco. Ou achado que não precisaria dele.
– Suco? – Me perguntou e eu concordei meneando a cabeça. Ainda estava absorta nos meus pensamentos.
Ele novamente fez o pedido para um homem que nos atendia que saiu em busca dos pedidos. Fiquei a contemplar o seu falar alemão e não pude deixar de comentar:
– Você fala alemão. – Me senti uma idiota. Era óbvio que eu tinha constatado isso.
– Sim. – Seth voltou os olhos para mim. – Você também fala, não? – Perguntou.
– Sim. – Umedeci meus lábios que estavam secos. – Muito pouco na verdade.
– Não é tão difícil quanto o português, acredite. Pelo menos para mim.– Ele murmurou e eu ri. – E olha que já tentei por muito tempo. – Confessou.
– E o que você sabe falar na minha língua materna? – Perguntei e ele sorriu.
– Eu entendo quase tudo, se quer saber. Só não consigo falar. – Segredou-me. – O pouco que sei resume-se a responder perguntas e dizer que não entendo. – Não pude deixar de rir baixinho.
– Interessante. Então está melhor do que eu no árabe. – Seth sorriu.
Rapidamente nossos pratos chegaram e eu senti o cheiro daquela comida quente e agradável. Juntou-se saliva sob minha boca e eu só consegui analisar o prato com uma fome instantânea. O garçom continuou ali, nos servindo com o que parecia ser suco de uva e, então, foi-se deixando-nos com aqueles pratos que pareciam incrivelmente apetitosos.
Era algo com batatas e uma carne diferente que eu nunca tinha comido. Estava tão gostoso que, novamente, eu só conseguia comer. Dessa vez, com mais calma. Seth me fitou.
– Conte-me mais sobre você, chatinha. – Murmurou e eu engoli um pedaço da carne antes de respondê – lo.
– Não tenho muito o que contar sobre mim. Fale sobre você. – Tentei mudar o jogo. Seth bufou revirando os olhos.
– Meu nome é Seth, tenho 24 anos agora, acabei de fazer aniversário, tenho uma noiva mais chata que você e uma sogra que não vê a hora de que eu a dê netos. Minha cor favorita é vermelho e embora eu possa parecer um babaca e criança, senhorita Agnes, eu sou homem e sigo minha religião com o empenho que posso. Ainda mais agora que decidi seguir mais seriamente. – Senti minhas bochechas queimarem. Na verdade, não esperava um diálogo tão direito. Esperava que ele insistisse para eu falar sobre mim, mas ele concordou que fosse uma troca de informações.
– Nossa, que rápido. – Comentei e Seth deu de ombros colocando um pedaço de carne na boca. Agora era minha vez. Me senti um pouco incomodada enquanto me ajeitava na cadeira para tirar um pouco do desconforto.
– Meu nome é Agnes. – Comecei e Seth permanecia me olhando, interessado, esperando que eu continuasse. Voltei meu olhar para o prato. Se eu o olhasse ia me embasbacar mais uma vez, como eu sempre fazia, e ia complicar tudo, porque eu era dessas. – Tenho 24 anos também, faço aniversário no dia 26 de maio, ou seja, sou três meses mais velha que você. Rá. – Achei que seria necessário comentar. Que estúpida. Ele abriu um pequeno sorriso, mas eu só conseguia pensar onde estava a parede mais próxima para eu bater minha cabeça. – Tenho um namorado que… – E de repente eu fiquei muda. Seth continuava me olhando.
Eu só não sabia. Simplesmente me sentia confusa naquele momento. Sobre contar sobre Matheus. Eu não conhecia Seth o suficiente para contar as coisas para ele. Ele não era meu amigo para eu dividir o meu passado com ele e dizer como andava meu relacionamento com Matheus. De repente, me senti muito tonta. A dúvida sobre contar ou não contar me incomodando.
– Que...? – Perguntou Seth arqueando a sobrancelha direita. Parecia curioso ainda que não estivesse parecendo me pressionar de propósito. Suspirei.
Seria problema eu contar para Seth sobre minha vida? Afinal, depois de um tempo não nos veríamos mais e certamente ele esqueceria o meu passado como certamente esquecera de muita gente que contou o seu passado para ele. E, mesmo assim. Que mal faria? Talvez só a mim mesma ao confessar algumas coisas que eu não confessava a quase ninguém.
– Que namora comigo há três anos. Mas não seguidos. A gente terminou antes de eu vir por descrença em relacionamento a distância. Mais descrença minha. Mas acabamos voltando. – E de repente percebi que eu realmente não queria que Seth perguntasse porque motivo tínhamos voltado.
Como contar para ele que tinha dedo dele nessa história? Que eu estava me sentindo severamente distante e sozinha noutro país e que a imagem de um homem bonitão como ele todos os dias, a todos os momentos, naquela mansão, vinha mexendo com o meu interior de uma maneira nada legal, me fazendo tentar me esconder num relacionamento no qual eu já me sentia mais acostumada por conta da rotina? Não, não era fácil.
Principalmente, porque eu não admitia isso nem para mim mesma. Quem dirá para outro. Dizer uma coisa dessas era atestar o meu óbito e eu não estava atestando nem a minha vida ultimamente, quem dirá a morte.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: O Sheikh e Eu(Completo)
adorei a historia......