LAIKA
Reunimo-nos ao redor das sepulturas dos que Alfa Khalid massacrou. O ambiente tornava-se cada vez mais aterrador. Alfa Khalid faria qualquer coisa para me recuperar — não porque gostasse de mim ou desejasse que eu fosse sua Luna, mas para transformar-me numa renegada, igual a ele.
Mães e esposas choravam, enquanto os guerreiros depositavam os corpos nas covas designadas. Aquele foi um dia lúgubre no Bando Titã. Na véspera, eu despertara e, tão logo gritei o nome de Karim, ele surgiu ao meu lado; sem sua presença, eu teria atravessado para o outro lado.
Após o funeral coletivo, o Conselho dos Lobos convocou uma reunião com Karim, ordenando que eu permanecesse na tenda. Ele parecia tomado de fúria — não contra o bando, mas contra Alfa Khalid, a quem jurava eliminar.
Karim enviou-me de volta à sua tenda para esperá-lo. Eu sabia que tudo aquilo acontecia por minha causa. Carrego a morte onde quer que eu vá, e isso me corrói. Por mais que tentasse crer num novo destino, sentia-me ainda amaldiçoada. Karim estava abatido, e isso me inquietava.
Eu percebia o amargor que ele nutria por Alfa Khalid: lhe sentia a raiva, a dor, e desejava poder fazer algo. Andava de um lado para o outro na tenda, aguardando seu retorno; metade dela permanecia destruída — culpa minha. A vontade de chorar me sufocava, mas eu não poderia cruzar os braços enquanto aquelas pessoas pereciam.
Karim irrompeu na tenda depois de uma hora. Seu humor estava azedo, e encolhi-me ligeiramente quando o tom da sua voz me assustou.
— Você precisa descansar, meu amor.
— Você está bem?
Ele recolhia suas armas, distribuindo-as pelo corpo. Usava um colete de pele sem mangas e calças de couro.
— Estou.
— Aonde vai? — Perguntei, temendo ficar sozinha naquela tenda.
— Vou caçar aquele desgraçado. — Rosnou.
Eu previra que isso aconteceria. Não temia pelo destino de Karim, mas desconhecia os planos de Alfa Khalid. Alguém o ajudara por dentro, pois conseguiu acesso ao bando. Quem seria? Malika era a única que me vinha à mente; ela mantinha certa proximidade com Alfa Khalid.
— Posso ir com você? — Perguntei.
— Não. Você precisa ficar aqui e descansar. Não quero que nada de mal lhe aconteça.
— Você me ensinou bem. Agora sei lutar por mim mesma.
Karim segurou-me pelos ombros e fitou meus olhos.
— Saia do seu esconderijo, se for homem bastante!
Um rosnado potente reverberou pela floresta. Meus homens posicionaram-se atrás de mim, e uma aura estranha nos envolveu — o poder agitava-se de forma anômala. Recuar jamais fora opção.
— Saia, covarde!
O rosnado tornou-se mais próximo; então criaturas bestiais, as mesmas que já haviam atacado meu bando, rastejaram para fora da mata. Meus soldados jamais as derrotaram em forma humana, mas eu confiava neles.
— Deem o controle aos seus lobos! — Ordenei.
Eles despiram-se num piscar de olhos; o estalar de ossos encheu o ar enquanto se transformavam em lobos gigantes. Um uivo coletivo irrompeu.
As criaturas, lembrando imensos escorpiões, avançaram em fúria. Meus guerreiros lançaram-se sobre elas, e eu empunhei a espada. Rasgávamos seus corpos, espalhando sangue por toda parte.
De súbito, uma força invisível ergueu-nos do solo e arremessou-nos a distância. Meu corpo chocou-se contra um tronco; a cabeça bateu com violência na casca. Quando desabei, lutei contra a vertigem que ameaçava arrastar-me para a inconsciência.

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