Perdição de Vizinho romance Capítulo 37

Sonhos chegam devagar e se vão muito rápido

Você a vê quando fecha os olhos

Talvez um dia você vai entender o porquê

Tudo o que você toca, morre

Let Her Go - Boyce Avenue

(...)

Justin

Foi assustador ver minha mulher sangrando daquela forma, esse episódio já tinha acontecido algumas vezes durante esses seis meses, entretanto, nunca dessa maneira. Foi quase impossível controlar minhas emoções o tempo todo, enquanto a trazia para o hospital, mas era necessário, eu precisava ter um pouco de sangue frio nesse momento, do contrário, teríamos os dois sucumbido. 

É verdade o que dizem: sempre que algo bom nos acontece, outra situação ruim vem para ferrar com nossa vida. 

Ela passou por todos os exames necessários e, mesmo que a obstetra dissesse que estava tudo bem, ou melhor, que ficaria tudo bem, sentia como se apenas tivesse dito isso para confortar minha mulher, vi nos olhos da doutora a preocupação, poderia até mesmo dizer que havia um pouco de aflição.

— Eu já volto, meu amor. Vou ao banheiro rapidinho. — informo, beijando sua testa.

— Não demora, por favor… — ela pede em tom de súplica e segura minha mão com força, como se não quisesse soltar.

— Prometo que será rápido, não seria capaz de te deixar sozinha agora. — forço um sorriso reconfortante.

Ela meneia a cabeça em concordância.

Saio do quarto do hospital e procuro pela obstetra, vejo-a de frente ao balcão da recepção.

— Doutora? — toco de leve em seu ombro.

— Sim, doutor Coleman. — ela olha para mim.

— Apenas Justin, não estou em horário de expediente. — tento soar o mais gentil possível.

— Tudo bem.

Nos afastamos do balcão.

— Também sou médico e sei quando as coisas não estão boas, não precisa mentir para mim. 

Ela solta uma lufada de ar.

— Olha, Justin, você entende do que se trata um descolamento de placenta? 

— Sei pouca coisa a respeito.

— Bom, de forma resumida, a placenta onde está localizado o bebê, se desprendeu da parede uterina e essa condição pode privá-lo de receber oxigênio e nutrientes, dessa forma o bebê pode não resistir por muito tempo, sendo necessário uma cesariana de urgência.

Me frustro ainda mais, suspirando pesadamente e murchando os ombros.

— O que acontece se ela continuar sangrando? 

— O ideal é mantê-la aqui o máximo de tempo que conseguirmos, assim conseguiremos monitorá-la de perto. Podemos optar por uma cesariana, mas iremos evitar isso tanto quanto possível, ela está com vinte e seis semanas, seria arriscado tanto para ela, quanto para a criança. 

Percebo que a situação vai se tornando cada vez mais caótica.

— Obrigado, doutora. 

— Não se preocupe, como disse anteriormente, faremos o que estiver ao nosso alcance para que tudo acabe bem. — meneio a cabeça em concordância.

Quando a médica se afasta de mim, decido ligar para o Nando.

— Falaê, garanhão! 

— Estou na merda, irmão. Não sei o que fazer. — um nó se forma em minha garganta.

— O que houve, cara? 

— É a Ella, estamos no hospital, ela não está bem, o sangramento piorou, posso perder meu filho… — travo o maxilar, tentando impedir as lágrimas de rolarem, mas se torna impossível.

— Seu filho vai ficar bem, ok? Confia em mim, olha quanta coisa vocês dois enfrentaram juntos, seu final feliz tá garantido, irmão. — fecho os olhos ao som de suas palavras.

— Tá difícil, tô tentando me manter forte por ela, mas… — a voz embarga, não consigo continuar.

— Tô indo pra aí. Relaxa, meu amigo.

Não o respondo mais, encerramos a ligação. Ligo também para nossos pais, informando tudo que está acontecendo, a última coisa que eu queria fazer era preocupá-los, contudo, não há muito o que ser feito, eles precisam estar a par de tudo.

Assim que termino, retorno ao quarto em que ela está, por sorte Ella dorme tranquilamente devido ao medicamento que lhe deram na veia por causa de dores que ela vem sentindo, isso me dá um pouco de tempo para pensar, refletir. Sento-me na poltrona ao lado da cama e apoio os cotovelos sobre as pernas, a encaro, tentando ver algo bom não somente nisso, mas em tudo o que já passamos.

— Justin… — sua voz soa meio grogue.

— Estou aqui, meu amor. — levanto e me aproximo dela.

Ela apenas sorri, antes de voltar a dormir.

— Descansa, meu amor. Estou aqui. — sussurro, mesmo sabendo que não irá escutar.

(...)

Nando chega e me envia mensagem para que eu vá até ele na recepção. Como um verdadeiro amigo, ele tenta me confortar. Os pais dela também vem, um de cada vez vão até o quarto visitá-la, no entanto, acredito que ela nem se deu conta que eram eles, acordava por poucas vezes, sempre grogue. A doutora a manteve praticamente sedada para evitar que sentisse dores. A noite não demorou a passar. Meus pais disseram para mantê-los informados, pois, dessa forma, estariam preparados para virem até nós, se fosse o caso.

— Como está se sentindo? — Nando me pergunta, enquanto tomamos um cafezinho no refeitório do hospital.

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