Perigoso (Letal - Vol.2) romance Capítulo 15

— Está indo muito bem, continue assim. No começo incomoda, mas logo se acostuma. — A enfermeira era gentil, me auxiliou em vários fatores.

A bebê sugava com força, faminta e limpinha. O peito estava cheio e eu sorria toda vez que olhava pra miudeza careca. Fora isso, eu olhava pra porta constantemente me perguntando se ele ia aparecer, já que a enfermeira constatou que o papai trouxe as fraldas, os produtos de higiene e até as roupinhas da criança. A mala que Sandra pegou no trajeto deve ter ficado na bagunça do capotamento e minha esperança ficou na visão do homem que segurou minhas mãos durante o parto.

Era noite, madrugada e eu caminhava com ela nos braços disposta a colocá-la no berço, com a barriga cheia e o sono pesado. Foi quando a porta foi aberta, a enfermeira terminou de esticar o lençol limpo e eu não consegui me mover mais.

A luz fraca e amarelada do abajur sobre o criado mudo iluminava o suficiente pros meus olhos encher de água imediatamente. E daí que os hormônios ainda não entraram em baixa? Eu senti até mesmo as pernas bambear quando ele deu uma longa passada, ignorou as boas vindas da enfermeira e se colocou à minha frente.

O homem cheirava a perfume amadeirado, tinha uma camisa escura colada no corpo definindo cada centímetro dos gomos volumosos do tronco duro. O corte militar continuava lhe dando um tom de seriedade, o velho cenho franzido também estava lá, junto a cicatriz grotesca que impedia parte dos movimentos dos lábios. Eu quase não conseguia me mover quando ele baixou os olhos e olhou a bonequinha miúda e careca nos meus braços.

— Bom trabalho, cadella. — soltou grave e baixo, enquanto os tremores de meu corpo se dispersaram para vários pontos com a mão invasora, pegando o bebê e a levando até o berço.

Ela era pequena, tomava sua palma e pouca parte do antebraço, miúda demais para um homem daquele tamanho. Ele a olhava com ternura, tinha cuidado no toque e a colocou lá com os auxílios da enfermeira explicando sobre refluxo e como evitar o engasgo. Eu não conseguia me mover, apenas olhei a silhueta troncuda das costas enquanto se abaixava e ouvia as recomendações pacientemente.

— Se me der licença, senhor Pryme — a enfermeira olhou no relógio e soou gentil —, está na hora do meu café noturno. Estarei na cozinha, se precisar. — ele concordou e ela saiu, onde finalmente consegui dar alguns passos e me colocar ao seu lado do berço.

Roubei sua atenção, seus olhos pesados pousaram em mim, eu tentei arrumar o cabelo de um jeito sem graça, mas ainda mantinha os olhos cheios de água. Meu coração falhava uma batida até que um olhar se fixou no outro, perdido no silêncio e na vibração do momento. Levantei minhas mãos devagar, procurei em seus olhos alguma recusa e consegui puxar um pouco de ar quando espalmei o peito. As lágrimas escaparam dos olhos, eu mordi os meus lábios e finalmente constatei no que meus olhos viam. Era real, ele estava ali.

— Você está… Você… Eu… — falhei em pronunciar algo.

Seus braços me envolveram, minha cabeça se apoiou na estrutura grossa, seu calor me abraçou e eu chorei que nem uma criança. Ele estava vivo e era palpável, diante os meus olhos e bem na minha frente.

— Valeu a pena. — soltou grave e baixo, tomando minha estrutura, numa voz que eu só ouvia quando fechava os olhos — Mesmo que não seja mais minha, cada porra de segundo valeu a pena.

Eu olhei pra cima, sua mão segurou meu rosto, o polegar passeou nos lábios entreabertos e o aperto em minhas costas se intensificou. Queria me justificar, sim eu queria, mas o que eu ia dizer? Não havia justificativas… Olhei para os lábios finos, toquei em seus rosto e toquei suas marcas com a ponta dos dedos. Dali em diante ninguém se conteve e ele me beijou.

Não dava para ter muito carinho, era surreal e preciso. A boca faminta afundou a língua quente, invadiu meu espaço e sugou até mesmo meu ar. Enquanto eu me agarrava no músculo rígido do trapézio endurecido, ele me apertava contra o corpo grande, tampou as curvas do traseiro sobre a camisola e afundou os dedos, levantando meu pés do chão. A camisola era curta, não me impediu de o abraçar com as pernas, o que fez ter suas mãos invasoras espalmando tudo. Um passo e eu caí de costas no colchão amaciado da cama grande. Meu ar estava limitado, minha ansiedade estava nas alturas e quando vi o homem pegar a beirada da camisa acinzentada e a puxar até metade do abdômen, consegui estabilizar um terço do meu juízo.

— Espera. — ele levantou os olhos, fechou a cara, mas tirou a camisa — Espera, eu…

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