O barulho da água era quase um calmante, enquanto eu tinha minhas costas grudadas na louça fria, minhas pernas dobradas e Pray, nos meus joelhos, deitada em minhas coxas. Eu sorria, deslizava a mão com sabão no corpinho miúdo, enquanto ela movia os olhos devagar, gostando do banho.
— Senhora, já posso pegar a bebê? — a enfermeira se aproximou com a toalha, onde eu levava a água com a palma cheia, cobrindo o corpinho da pequena miúda.
Assim que a mulher esticou os braços, Pray resmungou balbuciando pra dentro, vi a mulher enrolada na toalha felpuda e fiquei na banheira, olhando a água se mover. Eu estava meio leve, meio dolorida, meio cansada, meio… Bem. Encostei a cabeça no apoio da banheira, suspirei pensativa e fechei os olhos.
“Eu nunca menti quando disse que amava você”, a voz de Dom me cortou a cabeça como uma agulhada, não consegui descansar e ouvi o choro da Pray. Eu não sabia o que minha vida ia se tornar quando decidi ir embora e ficar com Iron; e quando ele tinha sido dado como morto, muito menos. Agora…
(...)
“ — Vai mais devagar! — pedi, prendi minhas mãos no lençol e senti o roçar do corpo e o rosto, subir e descer em cada investida. — Iron! — Cerrei os dentes, e gemi pra dentro, sentindo outro solavanco.
Meus seios estavam doloridos, duros, pontudos, os mamilos pareciam trincar com o excesso de tesão, enquanto ele tinha a mão aberta em cima da minha cabeça e a outra segurando minha nuca, forçando meu corpo contra o colchão e fodendo o meu traseiro sem nenhum carinho.
Ele estava suando, mantendo o ritmo forte…
Eu não tinha forças nas minhas pernas, respirava como uma maratonista enquanto Iron estava deitado ao meu lado, olhando pro teto e procurando manter o controle da própria respiração. Não me aguentei, fui de encontro ao seu rosto, beijei a sua boca e, mesmo no meio da canseira, recebi o seu abraço, a sua língua e logo minhas costas voltava pra cama, sob seu olhar escuro e pesado.
— Você não voltou pra cá por minha causa, não foi? — perguntei, olhando pro seu rosto, sentindo o gosto da sua boca.
— Você não estava mais aqui por mim, estava? — eu só consegui chorar com a resposta.”
(...)
Eu tinha os olhos cheios d'água e eu olhava a bebê forte que ela era. Não chorava tanto, dormia bem, se limitava a resmungos e barulhos baixos para dizer que estava com fome. Uma miniatura do soldado.
— Érina. — Eu olhei para o lado, não vi o momento em que Dom entrou e o vi vestido como eles, com a farda negra e a roupa dos mercenários.
— Dom?
— Eu fui dispensado. — Eu pisquei, sequei os olhos com as costas da mão e respirei fundo. — Educadamente falando, minha cabeça só não vai rodar porque parece que a paternidade deixou o fodido sensível. Apesar de tudo, ele ainda é o cabeça do time. — Ele cerrou a mandíbula, a barba mostrou o peso da suas feições e ele me olhava com… raiva. — Eu estou sentindo como se a minha bunda fosse chutada duas vezes.
— Dom, eu precisava falar com ele. Eu precisava ter uma conversa que…
— Enquanto isso eu estou tomando todos os tapas como se eu fosse o único mané que fez besteira sozinho. — ele mantinha a calma pra falar e eu continuava do mesmo jeito, sentindo culpa.
— Dom…
— Pelo menos enquanto eu estava lá dentro, segurando a merda da sua mão, era verdade? — Engoli em seco e ele desviou os olhos para respirar fundo. — Eu não tinha onde socar a minha cara enquanto você estava naquele quarto.
— E enquanto você segurava a minha mão, era verdade? — ele baixou as pálpebras e olhou para Pray. — O que você ia fazer lá na frente? Ia me contar? Íamos viver fugindo? Íamos viver mentirosamente apaixonados? E quando a Pray crescesse, acha que eu não ia contar quem é o pai dela? — Ele não respondia, mas me olhava como se houvesse algo. “Se alguma coisa acontecer, você tem que me desculpar”, me recordei das suas palavras e insisti. — Tem mais alguma coisa pra eu saber, Dom?
— A merda da sua sensibilidade se foi, não é? — ele retrucou, bem desgostoso. — Essas coisas eram meio óbvias. — ele me pegou pelo braço, me puxou para si e encostou a testa na minha. — Já estávamos vivendo na sombra da morte dele, o que foi que mudou agora? — Eu não sabia responder, só enfiei os braços na frente e tentei me afastar. Ele me olhou de um jeito impaciente e respirou de novo. — Você ainda não sabe porque eu menti? Com ele vivo, eu sou descartável. Eu menti porque eu sabia o tempo todo que eu era descartável. E você fodeu comigo, ciente disso, muito mais do que eu!
— Então porque ainda estamos tendo essa conversa? — ele apertou a mão, eu tentei me mexer, mas mantive os olhos de pé. — Você foi um idiota comigo, e eu fui uma aproveitadora sentimentalista. Eu era apenas a sua missão. Agora eu estou aqui, sem saber como eu vou explicar pra minha filha como foi que eu escolhi essa merda de vida com dois fodidos. O Iron, passou a ser o menos culpado. E você, acha mesmo que se a gente insistir em alguma coisa, vai ser real? Vai valer a pena? — Tentei me mexer de novo — Dom, vai me machucar, Solta!
— Vai ser real com ele? — Eu tive dificuldade para engolir quando ele falou aquilo. — Acha que ele é o do tipo trouxa? Ele não veio aqui por você.
— Eu sei. — ele manteve o olhar firme. — Até isso você sabia, e nem isso me contou. Enquanto ele achava que eu estava bancando a boa vadia contigo, ele só estava tentando ver a filha dele. Você só deixou ele se aproximar, Dom, porque não deu conta do trabalho sozinho e enfiou os pés pelas mãos. Tem mais alguma coisa que eu tenho que saber?
Ele afrouxou a mão, me soltou devagar e manteve o olhar sobre o meu. Foi um silêncio maldito, ele só virou as costas e foi até a porta. Ele bateu com raiva quando saiu, assustou a Pray e eu precisei pegar ela, enquanto eu já me via chorando de novo.
(...)
Eu não sabia que tipo de vida eu ia ter, só sabia que precisava de paciência e esperar. Tomava um sol no jardim tentando imaginar se a vida tranquila um dia existiria, uma vez que Iron era o próprio inferno e a companhia de Dominic estava sobrecarregada demais.
— Estamos num impasse. — Me estiquei de barriga para baixo na grama, enquanto Pray balançava o bracinho e mastigava a própria mão, debaixo de uma sombra fresca e o sol poente. — Eu amo o seu pai. E sabe, ele é um bom pai. Ver ele trocando suas fraldas é uma coisa que a mamãe poderia morrer assistindo. — ela fez um barulho, como se pudesse entender — Dom é… Ele é a sensibilidade que seu pai não é, ou talvez a sensibilidade que seu pai não teve tempo de ter, mas tem alguma coisa errada…
Ela resmungou de novo e eu sorri, peguei na sua mãozinha, levei até a boca e me ajoelhei, brincando com suas mãos. Senti um arrepio brusco quando olhei para trás, ouvi uma passada e tentei localizar o barulho, onde tudo o que vi foi um arbusto se mexendo. Me levantei, tentei enxergar melhor e até deduzi que pudesse ser uma nova tentativa de Dom conversar. Pray estava deitada no descanso fofo, tranquila e alheia a qualquer coisa ao redor.
— Dominic? — chamei, tendo certeza que ouvi algo.
O baque na minha cabeça foi extremamente doloroso e apagou meus sentidos de uma única vez.
(...)
O barulho do veículo em movimento me fez abrir os olhos, eu estava amarrada no cinto do passageiro, enquanto Pray estava contida num conforto de bebê, presa no banco de trás. Ela dormia tranquilamente, como se não tivesse problema algum com aquilo e, para a minha dúvida, Dominic estava dirigindo.
— O que está acontecendo? — perguntei confusa, movi minhas mãos mas elas estavam grudadas com fitas com a palma para baixo, passando em volta das minhas pernas.
— Eu fiz isso pra você não cair ou se machucar. — respondeu, sem me olhar, segurando o volante, alternando entre olhar pro retrovisor e o espelho lateral.
— E porque eu estou na droga de um carro, com a cabeça doendo e contra a minha vontade? — O ruivo pressionou a mandíbula, eu tentei não aumentar a voz e olhei para frente, notando que estávamos bem longe do casarão. — Dá meia volta, Dom. Não sei pra onde está me levando, mas eu não quero ir. Você me deu uma pancada na cabeça e me sequestrou. Eu e a minha filha!
— Achei que você curtia. — alfinetou com ironia.
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