Por Você romance Capítulo 145

Cristal

Após ouvir o som da porta bater não consigo segurar o choro. Ele se foi! Deslizo pela madeira até sentar-me no piso encapetado do meu closet e choro compulsivamente. Por que ele me deixa sentir o gosto doce da felicidade e me arranca em seguida? Estou com frustrada, com raiva e esse sentimento parece crescer ainda mais dentro de mim, me sufocando. Estou com raiva de mim por ser tão tola, por tê-lo desviado do meu caminho. Droga, ele quer que eu peça, quer que eu tome a decisão e ele não está errado porque fui eu, fui eu quem o empurrou para cima daquela garota. Eu forcei a barra mesmo sabendo que ele não queria. Sempre fui eu a quebrar a nossa conexão perfeita quando ele sempre quis a mim. Então, por que nunca demostrou? Por que nunca me deu um sinal? Talvez ele tenha dado, cristal, mas você tinha outros interesses e foi burra o suficiente para não perceber. Burra! Burra! Burra! Olho as horas no relógio analógico que fica em uma das prateleiras e respiro, enxugando as lágrimas e me forçando a parar. Eu tenho que me arrumar. Penso, forçando-me a levantar. Escolho um jeans claro e amarrotado, um top preto e ponho uma blusa branca folgada por cima. Calço o tênis e saio para lavar o meu rosto, e fazer uma maquiagem que esconda o seu inchaço devido o choro. Escovo os meus cabelos e pego a minha mochila saindo do quarto em seguida. E assim que chego à cozinha encontro os meus pais tomando o café da manhã. O Caio como sempre está mexendo nos seus brinquedos eletrônicos. Ele nunca se afasta disso não? Resmungo internamente. Me sento na cadeira sobre os seus olhares especulativos.

— O Mick não vem tomar café da manhã conosco? — Mamãe pergunta curiosa.

— Não — rosno simplesmente.

— Está tudo bem? Vocês brigaram? — Ela especula, porque a Dona Ana conhece muito bem as suas crias e ela sabe que estou chateada com algo. Bufo mentalmente.

— Está tudo bem, mãe! Eu tenho que ir, estou atrasada! — digo sem ao menos ocupar uma cadeira na mesa, beijo rapidamente as suas bochechas, eu saio praticamente voando direto para a garagem. Olho o canto da sua moto vazio assim como a vaga do carro de Jonathan e puxo uma respiração audível. Ainda mais essa, vou ter que ir sozinha hoje. É a primeira vez desde que tirei a habilitação que vou dirigindo para o colégio. Após fitar o automóvel por alguns segundos, eu abro a porta traseira, largo o meu material lá e entro no Aircross branco, ligo o motor e saio pelo trânsito perdida em meus próprios pensamentos. Imagens do meu Leãozinho dentro do meu banheiro e tomando um banho demorado preenche a minha mente. Ele estava tão distante que nem percebeu quando entrei no cômodo. É claro que eu não perdi a chance de observar as suas costas largas. Ai meu deus, aquele bumbum redondo e durinho. Cheguei até a imaginar as minhas mãos escorregando pelos seus cabelos cheios de espuma e delirei quando a espuma escorreu pelo seu corpo.

Porra! Juro que por pouco não entrei naquele box para terminar aquele banho que parecia delicioso. Contudo, me forcei a sair de lá quando ele desligou o chuveiro e corri para a minha, e comecei a fingir mexer no celular. No entanto, o meu coração pulava enlouquecido dentro do peito quase saindo pela minha boca. Dormir com ele a noite inteirinha mesmo sem fazer nada foi como um sonho. Mick é o tipo de cara certinho e por mais que isso me cause raiva acho fofo também. Ele não quer enganar nenhuma das duas e se quer saber, é admirável que pense assim, mas está na hora de acabar com essa palhaçada. Rute foi só uma brincadeira que inventei. Ela se quer o conhecia e não sente nada por ele. Vai ser fácil tirá-la do meu caminho. Estaciono o carro e pego a minha mochila, saindo e o travando em seguida. Começo a andar pelo amplo estacionamento quando escuto a voz do Victor logo atrás de mim. Eu paro de andar e ele me alcança.

— Oi, você sumiu! — diz. — Não te vejo desde a festa do time. — Dou de ombros e começo a andar, mas ele insiste e segue ao meu lado.

— Oi! — respondo com desdém. — Pois é, é que eu andei ocupada esses dias. — Ele assente.

— Eu soube sobre a Jasmine. Ela está bem?

— Nunca mais encoste em mim sem a minha permissão! E eu não estou mentindo, você foi, no passado, entendeu? Eu te quis muito na minha cama, mas hoje não me interessa mais. — Seus olhos vacilam, ele parece surpreso e no mesmo instante eu me viro e saio, o deixando sozinho no meio do estacionamento.

Assim que entro na sala dou de cara com o Mick sentado em sua cadeira e ao seu lado dele está Rute acariciando o seu rosto e em algum momento ela diz algo próximo ao seu ouvido. Ele assente lentamente e os seus olhos encontram os meus. No entanto, me forço a desvia-los e vou para a minha cadeira que fica do outro lado da sala. Assisto as aulas tentando focar o máximo possível e quando o horário do lanche chega vamos para a lanchonete de sempre. Rute ocupa a cadeira de Jasmine, o que já me deixou indignada. Jonathan digita algo no seu celular. Ele está em uma conversa animada com alguém. Durante o lanche os nossos olhos se encontram algumas vezes e cada vez que isso acontece o meu coração dispara no peito. E quando terminamos o meu irmão sai para falar ao telefone, o Mick vai para o treino e eu vou com a Rute para a sala. É uma aula vaga e quando eu me sento para repassar a matéria, ela se senta ao meu lado.

— Podemos conversar um pouco? — Ela interpele e eu forço um sorriso, fechando o meu caderno e encaro a pedra no meu sapato que anda me incomodando nesses últimos dias.

— Claro! — Ela respira fundo antes de começar a falar.