Já faz três dias que os corredores da Nexus se tornaram um campo minado para mim.
Como agora, enquanto caminho ao lado de Ethan após uma reunião externa, e sinto os olhares nos seguindo. Os sussurros nunca vêm diretamente, mas estão por toda parte — e incomodam mais do que deveriam.
No início, achei que fosse coisa da minha cabeça. Reflexo de todo o caos que virou minha vida do avesso. Mas agora, depois de dias sentindo o peso desses olhares, sei que não é paranoia.
— Está tudo bem? — Ethan pergunta, baixo, quando paramos ao lado da minha mesa.
— Sim — respondo, sem muita convicção.
Ele ergue uma sobrancelha, como se soubesse que estou mentindo, mas não insiste. Apenas sussurra um “eu te amo” antes de seguir para sua sala.
E, no momento em que a porta se fecha, os sussurros voltam.
“… não bastasse usar a influência do pai para…”
“… mas eu não julgo, porque também aproveitaria daquele belo…”
“… há meses! E ninguém percebeu que eles…”
“... sim, disseram que ela está grávida de gêmeos e…”
Meu rosto queima a cada sussurro. Tento me concentrar na tela do computador, mas é impossível. Palavras soltas, frases pela metade, olhares que tentam ser discretos e falham miseravelmente.
Respiro fundo e tento fingir que não ouço. Foi o que combinamos desde que tudo aconteceu. Manter as aparências, agir normalmente, ignorar os comentários que inevitavelmente surgiriam.
Mas, na prática, ignorar é muito mais difícil do que parecia em teoria. A cada segundo, fica mais insuportável.
Mais risadas abafadas.
Mais olhares.
Mais frases que me fazem querer levantar e perguntar na cara de cada um deles o que mais inventaram sobre mim hoje.
Meu peito sobe e desce em um ritmo irregular.
— Já chega!
Empurro a cadeira para trás e me levanto, ignorando os olhares que se voltam para mim. Não quero saber o que mais estão inventando. Não quero ouvir mais nada.
Como se tivessem vida própria, minhas pernas me levam direto para a sala de Ethan.
Bato uma vez, mas não espero resposta antes de abrir a porta e entrar. Ethan desvia o olhar do notebook assim que ouve o barulho da porta se fechando.
— Mia?
Tento falar. Juro que tento.
Mas a sensação de estar aqui, em segurança, longe dos olhares, longe dos cochichos, longe de tudo… É demais.
Minhas mãos tremem quando passo os dedos pelos cabelos, e é nesse momento que Ethan percebe que estou desabando. Ele se levanta no mesmo segundo.
— Mia — repete, agora com uma preocupação evidente.
Solto o ar bruscamente, tentando manter o controle. Mas não consigo. E então, desisto de segurar as lágrimas.
— Eu não consigo mais ignorar — minha voz sai num sussurro trêmulo, enquanto Ethan me puxa para seus braços sem hesitar.
— Eu sei, amor… — ele murmura contra meus cabelos, me segurando ainda mais forte. — Eu sei.
— O tempo que quiser, perdição.
Por alguns minutos, ficamos assim, sem dizer nada. O calor dos braços dele ao meu redor é o único lugar onde o mundo não parece estar desmoronando.
Então, com um cuidado quase exagerado, ele me leva até o sofá no canto da sala. Após me colocar sentada, se afasta para ir até o frigobar.
O som da tampa da garrafa se abrindo é seguido pelo toque frio do vidro contra meus dedos.
— Bebe um pouco — Ethan pede suavemente.
Faço o que ele diz, sentindo a água descer pela minha garganta. Só então percebo o quão seca minha boca estava.
Quando coloco o copo sobre a mesa de centro, ele se abaixa na minha frente, acariciando meu joelho.
— Mais calma? — pergunta, me encarando atentamente.
— Sim… só estou mentalmente cansada.
Ethan assente, passando a mão na nuca. Então, desliza os dedos até meu rosto, acariciando minha bochecha.
— Preciso te contar algo que talvez você não vá gostar — começa, respirando fundo.
— O que foi?
— Vou me afastar da Nexus — diz, e meu coração acelera.
— Como assim?
— Preciso sair por alguns dias, Mia. Me afastar da empresa, de James… de tudo isso — ele solta um suspiro, como se as palavras pesassem. — Ou isso, ou vou acabar fodendo tudo de vez.

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