“Ethan Hayes”
Os sorrisos ao meu redor são tão naturais quanto o botox espalhado pelos rostos da maioria dos homens que me rodeiam. Mais um evento beneficente, mais uma noite fingindo que estou realmente interessado em cada palavra vazia que é pronunciada.
A hipocrisia me sufoca, mas é preciso.
Afinal, não só nas salas de reunião que os negócios acontecem. Aqui, conexões são feitas, contratos são fechados e alianças são construídas, por mais irritante que seja fingir interesse em conversas que não levam a lugar algum.
Ouço um grupo de investidores reclamar sobre o mercado financeiro como se isso fosse novidade. Entre um gole de bebida e outro, mantenho meu mau-humor sob controle, mesmo quando James tenta me puxar para essas conversas que ele insiste em chamar de diplomáticas.
— Ethan, você está muito quieto. Não vai nos agraciar com algum comentário ácido? — James provoca ao meu lado, claramente notando minha impaciência.
— E arriscar estragar a noite de alguém? Prefiro me conter — respondo, com um sorriso que não chega aos olhos.
Isso arranca algumas risadas do grupo, mas antes que eu possa pensar em algo mais, um movimento na escada atrai meus olhos como um ímã. Por um segundo, acho que estou vendo coisas. Mas não.
É Mia.
O vestido azul destaca seu corpo de um jeito que faria qualquer homem olhar duas vezes. Os cabelos castanhos caem sobre os ombros, e seus olhos azuis parecem ainda mais intensos sob a maquiagem.
Por um instante, não reconheço a mulher que vejo. Não a assistente completamente perdida do escritório. Não a garota daquela noite. Não que Mia já não fosse atraente naturalmente, mas essa versão… essa versão é uma ameaça que eu não pedi.
Quando percebo que estou olhando além do que devo, desvio o olhar e me repreendo mentalmente.
Mia é proibida para mim. James ao meu lado é um lembrete vivo disso.
— Quem é aquela coisa linda vindo ali? — um dos homens à minha direita murmura, sem disfarçar o interesse, enquanto a observa se aproximar. — Ela parece… interessante.
Minha mandíbula trava antes que eu perceba. Antes que James tenha a chance de responder, corto o homem com um sorriso frio.
— A coisa linda em questão é a filha do seu anfitrião — afirmo, num tom baixo, mas suficiente para ele arregalar os olhos. — Cuidado com os comentários, Richard, ou pode acabar sem seu convite no próximo ano.
James segura o riso, já acostumado com meus comentários, enquanto o homem quase se engasga, obviamente desconfortável. Ele desvia o olhar, murmurando uma desculpa qualquer antes de se afastar.
Mia finalmente para ao nosso lado, ainda sem perceber o alvoroço silencioso que causou, acompanhada por Vitória. James é o primeiro a reagir, claramente orgulhoso.
— Finalmente, as estrelas da noite chegaram — ele diz, com aquele tom caloroso que ele reserva apenas para quem realmente gosta. — Mia, você está deslumbrante. Não é, Ethan?
— Está adequada para a ocasião — respondo, seco, ignorando o olhar de reprovação de James.
Antes que ele fale mais alguma coisa, ela sai.
— Sua filha parece completamente perdida no nosso meio. Acho que você está exigindo muito dela, James — Miranda comenta, com aquele tom desdenhoso que sempre me irritou. Sua mão ameaça tocar meu braço novamente, mas dou um passo para trás, criando a distância necessária.
— Miranda — começo, com uma calma forçada —, por que você não faz o que faz de melhor e vai entreter nossos investidores? Tenho certeza de que eles estão esperando pela sua atenção.
— Como você é previsível — ela rebate, balançando a cabeça com uma falsa indignação. — Mas tudo bem, querido. Ainda preciso socializar antes de irmos embora.
Miranda se afasta antes que eu possa responder, me deixando a sós com James, que solta uma risada baixa.
— Eu te disse que seria uma péssima escolha mantê-la na Nexus depois que vocês terminaram — ele comenta, num tom debochado.
— Quem te disse isso fui eu, seu filho da mãe — retruco, provocando outra risada dele.
Enquanto James ainda ri, minha atenção desvia para o outro lado do salão. Mia está parada, conversando com Gabriel e Vitória. Ela parece leve, sorridente, completamente à vontade.
Nossos olhares se encontram e, pela primeira vez na noite, não tenho certeza se quero seguir as regras que fiz questão de impor.
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