O gosto amargo na boca é o menor dos meus problemas. Minhas mãos tremem enquanto tento me recompor, evitando olhar para eles. A palavra “tio” continua ecoando na minha mente, me fazendo ofegar.
— Mia, você está bem? — James pergunta, num tom preocupado. — Quer um copo d'água?
Assinto levemente, finalmente virando para encará-los. No entanto, Ethan se mexe primeiro. Sem dizer nada, ele caminha até o frigobar no canto da sala.
— Aqui. — murmura, me entregando uma garrafa de água.
— Obrigada. — murmuro enquanto minhas mãos trêmulas seguram a garrafa.
Dou um pequeno gole, tentando engolir o nó na garganta. James observa em silêncio enquanto Ethan se afasta, se sentando em sua cadeira de couro.
— Mia… — James finalmente fala, olhando para mim. — Está melhor? Quer se sentar?
— Estou bem, obrigada. — minto, mesmo sabendo que minha aparência me entrega. — Só… devo ter comido algo que me fez mal.
— Certo. Agora posso saber o que aconteceu, Ethan? — James pergunta, mudando o foco da conversa.
Ethan me encara, fixando seus olhos em mim por tempo suficiente para fazer meu estômago revirar novamente, então olha para James.
— Por que você não começa explicando por que a sua… filha invadiu meu… — ele pausa, passando a mão pelos cabelos enquanto solta um suspiro pesado. — Aliás, vamos começar esclarecendo uma coisa: pare de me apresentar como seu irmão, James.
— Você precisa parar de ser tão literal, Ethan. — James balança a cabeça, como se revirasse os olhos internamente. — Você é como um irmão mais novo para mim, desde a universidade.
— Certo, mas talvez esse não seja o melhor termo agora. — Ethan retruca, me olhando como se quisesse esclarecer isso para mim. Então, volta sua atenção para James.
— Ok, entendido. — James dá de ombros, antes de se virar para mim. — Ethan é meu sócio e melhor amigo, Mia. Não é meu irmão de verdade. Quase isso, mas não exatamente.
As palavras aliviam o nó no meu estômago e sinto meu corpo relaxar, ainda que um pouco. Sócio. Melhor amigo. Quase um irmão. Nada de laços de sangue. Nada de parentesco.
Ethan se inclina para frente, tamborilando os dedos no braço da cadeira enquanto volta a me observar com aquele olhar crítico.
— Agora que isso já foi esclarecido, quer nos contar, afinal, por que invadiu a Nexus? E, especificamente, por que veio direto para a minha sala, Mia? — Ethan murmura, arqueando as sobrancelhas.
Seu olhar volta a ser acusatório, como se eu estivesse em um tribunal invisível sendo julgada por ele. Tento responder, mas as palavras simplesmente não vêm. Isso é o suficiente para Ethan revirar os olhos, como se minha hesitação confirmasse alguma suspeita.
— Podemos conversar em particular? — Finalmente consigo murmurar para James. — Não quero falar sobre isso na frente de… desconhecidos.
— Claro, Mia. — Ele responde, virando-se para Ethan. — Vou te deixar trabalhar, nos falamos depois.
Completamente alheio ao olhar insatisfeito que Ethan me dá, James aponta para a porta e logo saímos. Entramos no elevador e ele pressiona o botão para outro andar.
“Outro andar.” Eu não podia, ao menos, ter perguntado à recepcionista o que James era afinal?
James passa a mão na nuca, claramente lutando para processar tudo. Seus olhos mostram preocupação, mas também algo próximo ao pânico, como se ele não soubesse exatamente o que fazer comigo. Finalmente, ele respira fundo e fala:
— Um emprego e um lugar… certo. — Ele recolhe o cartão antes de se levantar. — Mia, eu realmente não posso me atrasar para essa reunião. Vá até o café, coma alguma coisa, se distraia e volte. Estarei aqui daqui a pouco e conversaremos sobre isso.
Assinto, observando James pegar alguns papéis e um tablet antes de sair apressadamente da sala.
— “Coma alguma coisa. Se distraia” — repito sua fala, fechando a porta atrás de mim. — Como ele espera que eu faça isso, considerando a confusão que estou sentindo?
Em uma tentativa de evitar um encontro indesejado com Ethan, vou rapidamente à cafeteria no térreo, pego um chocolate quente e volto para a sala de James sem chamar atenção.
Quando entro, pego um jornal dobrado em cima da mesa e tento me distrair enquanto tomo minha bebida. O silêncio da sala me ajuda a recuperar parte da calma que perdi.
Mas não por muito tempo.
Como se o universo estivesse determinado a testar meus limites, o som da porta se abrindo repentinamente chama a minha atenção. Levanto os olhos e o vejo novamente.
Ethan.
— Ótimo. Você continua aqui… — ele resmunga, revirando os olhos.
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