Passo o resto do dia tentando me manter o mais distante possível da sala de Ethan. Ao menos, ele respeitou meu claro distanciamento e evitou me chamar desnecessariamente. Ou talvez quisesse a sala vazia para às vezes em que Miranda passou por lá.
Olho para o relógio: 17h40. Vinte minutos e poderei ir embora, me enfiar debaixo do chuveiro e tentar lavar toda essa confusão da minha cabeça.
— Mia? — A voz de James me surpreende. Levanto os olhos e o encontro parado ao lado da minha mesa, com as mãos nos bolsos e um sorriso sem jeito. — Você tem algum compromisso hoje à noite?
— Não — respondo, franzindo a testa. — Por quê?
— Bem… — Ele tira uma das mãos do bolso e coça a nuca, num gesto que me lembra o meu próprio quando estou nervosa. — Ganhei dois ingressos para o jogo dos Bulls hoje. Sei que não conversamos muito sobre isso, mas você gosta de basquete?
— Na verdade, sim — digo, sorrindo. — Jogava um pouco no colégio.
— Sério? — pergunta, sorrindo enquanto seus olhos brilham. — Eu também jogava! Quer dizer, nada profissional, mas…
— Deixa eu adivinhar: armador? — pergunto, avaliando sua altura e porte físico.
— Ala. — Ele sorri, finalmente relaxando. — Todo mundo achava que eu era baixo demais para a posição, mas eu compensava na agilidade.
Não consigo conter uma risada. É estranho como, depois de quase três semanas, raramente conversamos sobre algo além de trabalho ou situações constrangedoras.
— Então, o que me diz? — Ele pergunta, balançando os ingressos. — Prometo não ser muito chato com as estatísticas dos jogadores.
— Pode ser chato — respondo, levantando para guardar minhas coisas. — Assim, descubro se herdei isso de você.
— Ótimo! — James ri, e pela primeira vez seu sorriso parece genuinamente à vontade. — Podemos passar em algum lugar para comer alguma…
A voz de Miranda interrompe James, e olhamos juntos em direção ao corredor. Logo, a loira aparece ao lado de Ethan, rindo como se tivesse ouvido uma piada.
— Vai sair mais cedo hoje? — James pergunta a Ethan.
— Sim, preciso resolver alguns assuntos — Ethan responde, desviando os olhos para mim antes de voltar para James. — Vão sair?
— Sim, vou levar a Mia para conhecer um pouco mais da cidade — James responde, orgulhoso. — E quem sabe descobrir se ela herdou meu talento para o basquete.
Observo Ethan erguer as sobrancelhas, surpreso. Ele abre a boca para dizer algo, mas Miranda o interrompe, envolvendo o braço dele com as mãos.
— Vamos? Não quero me atrasar para me arrumar — ela murmura, me dando um olhar provocativo.
— James, divirta-se com sua filha — Ethan diz, desviando o olhar para mim. — Srta. Bennett, até amanhã.
Assinto, incapaz de responder, enquanto Miranda praticamente se pendura no ombro dele. Meu olhar segue os dois até entrarem no elevador. Apesar da distância óbvia entre eles, algo dentro de mim se contorce ao imaginar os dois jantando juntos, terminando a noite…
— Mia? — James me chama, me trazendo de volta à realidade. — Tudo bem?
“Você precisa equilibrar seu corpo assim, princesa”, ele dizia, me ajudando a me posicionar corretamente. “E mantenha os olhos na bola.”
Não posso negar, tivemos ótimos momentos juntos, momentos que nunca pensei esquecer. Mas o medo parece ter apagado as memórias felizes, deixando apenas as da embriaguez, dos xingamentos e, agora, da constante sensação de ameaça.
Como alguém que um dia me fez sentir tão segura agora provoca tanto medo? Como tudo mudou tanto?
— Mia? — James chama minha atenção, tocando meu ombro, preocupado. — Você está chorando?
Toco meu rosto, surpresa ao sentir as lágrimas. Tento sorrir, mas mais lágrimas caem.
— Me desculpe — murmuro, enxugando o rosto rapidamente. — É que…
— Ei — ele hesita por um segundo, então passa o braço pelos meus ombros e me puxa para perto. — Você não precisa me contar agora. Mas quando quiser conversar, estou aqui.
É um gesto simples, mas tão diferente do que eu estava acostumada que só me faz chorar mais. Porque, pela primeira vez, sinto que talvez eu tenha encontrado um pai de verdade.
E, neste momento, cercada por milhares de pessoas em um estádio barulhento, me permito algo simples: ser apenas uma filha buscando conforto nos braços do pai.
Talvez seja hora de focar em outros relacionamentos. Principalmente este, que ainda é tão novo e tão frágil.
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