Só Teu! Volume II da Trilogia Doce Desejo. romance Capítulo 19

Havia uma barreira que matinha Nicole longe daquele homem que a chamava de filha. Um turbilhão de sentimentos embaralhou-lhe a mente. Ela queria saber os motivos que levaram Henry a abandonar sua mãe, mas as palavras não fluíam. 

Uma sensação de perda, dor e tristeza se misturava com a revolta e a indignação. Se ao menos ele oferecesse o devido apoio, talvez a mãe de Nicole não teria partido tão cedo. Ela recuou e deu de cara com o peitoral de Alexander que se empertigou feito um guardião feroz que era capaz de tudo para proteger a família.

― Você está bem? ― Levantou-lhe o queixo com indicador.

Nicole assentiu com a cabeça quando ele a abraçou. Encostou o rosto próximo ao pescoço de Alexander.

― Meu anjo, vai para casa e descansa um pouco ― Beijou o topo da cabeça de Nicole.

― Eu vou pegar um táxi.  ― Rompeu o silêncio.  ― Daqui a pouco eu vou buscar o Alex.

Nicole ajeitou a alça da bolsa de couro sintético marrom no ombro. Sentiu o ar morno quando Alexander murmurou algo sobre assistir a um filme quando ele chegasse em casa.

 ― Até mais tarde! ― Despediu-se.

Passou direto pela recepção e ignorou a presença do pai que a observava com lágrimas nos olhos. Talvez aquela fosse a mesma dor que ela sentia todas as vezes que sentiu a falta dos pais.

 ― Em que posso ajudá-lo, doutor Albuquerque?

Ele olhou furioso, a mandíbula estava cerrada. Alexander lembrava com desgosto da última vez em que Henry cruzou o seu caminho no jantar de aniversário.

― Eu preciso conversar com você sobre um assunto de suma importância.

― Se for sobre a minha esposa, então não perca o seu tempo. Ela ainda está tentando lidar com todas essas informações.

― Não era sobre a Nicole! Eu não esperava ver a minha filha por aqui. ― Deslizou os dedos no cavanhaque grisalho.

Henry se ajeitou na poltrona e cruzou a perna enquanto Alexander fechava a porta.

― Eu não sabia que a minha filha estava grávida! Como está o garoto?

― O Alex está bem! ― Alexander pegou alguns papéis na gaveta e colocou em uma pasta preta. ― Por favor, não faça rodeios ― disse a voz hostil. ― O que o senhor deseja?

― Joséphine está planejando morar com o namorado em outro país e irá levar a minha neta. Eu preciso que você converse com ela.

― Só me faltava essa! ― resmungou em voz baixa. 

Alexander pegou os óculos que estavam sobre a mesa e ajeitou no rosto.

― Tenho certeza que você também não quer ficar longe da Marcelly.

― Claro que não, eu amo a minha filha! Mas isso não é motivo para eu obrigar a mãe dela a viajar e deixar a Marcelly no Brasil ― bufou. ― Não tenho como lutar pela guarda dela. A Josephiné nunca permitiu que eu registrasse a Marcelly como pai adotivo.

O peito arfou de súbita apreensão ao imaginar que alguma coisa teria acontecido à esposa.

― Eu vi a Nicky pouco antes da reunião ― disse em tom baixo e meneou a cabeça quando dois médicos passaram perto deles. ― Ela viu o pai e ficou um pouco atordoada.

― Vou verificar se alguém atendeu ela.

Jenny se afastou de Alexander e foi até o computador mais próximo para conferir se havia algum prontuário de atendimento no nome da amiga.

Alexander colocou a mão no pescoço. Lutava mentalmente contra os pensamentos e as sensações negativas. Olhou para uma mulher gestante que passava acompanhada pelo esposo, sentiu-se mal por não dar atenção devida à Nicole nos últimos dias. O toque do telefone o tirou do transe, ele afastou-se para um canto vazio do corredor e notou o número estranho.

― Aqui é o doutor Bittencourt!

― Fala aí, doutor! ― Deu uma risadinha.  ― Estamos com a sua mulher prenha aqui.

― Quem está falando?  ― Alterou a voz.

― Não dá uma de fajuto, o doutor é esperto e sabe que o bagulho aqui é louco.

― Por favor, não façam nada com a minha esposa! O que vocês querem?

Copyright © 2.021 por Ana Paula P. Silva