Só Teu! Volume II da Trilogia Doce Desejo. romance Capítulo 36

Pelo silêncio do esposo, Nicole sabia que ele pensava em alguma coisa, os dedos dele brincavam em seus cabelos. Passaram mais alguns minutos nos braços um do outro enquanto ouviam apenas os ruídos de suas respirações.

― Está preocupado?

Ela ergueu a cabeça e fitou os olhos claros.

― Um pouco! ― Apertou-a por entre os braços e a beijou. ― Esse lance com a Isabella foi longe demais.

― Foi ela que começou! ― Saiu do colo dele e se acomodou no banco traseiro do carro. ― Estou aturando esse comportamento dela há meses.

― Nicky, vem cá! ― Trouxe-a para mais perto. ― Eu não estou culpando você! Fiquei preocupado com a nossa filha. ― Suspirou pesado. ― E se ela reagisse? ― Olhou a testa franzida de Nicole. ― Eu não quero nem pensar no que poderia ter acontecido.

Apesar de não gostar das admoestações, ela pensou em milhares de palavras para se defender, todavia, preferiu o silêncio. De alguma forma, Alexander tinha razão, sua atitude impensada poderia colocar Jullie em risco. Nicole ajeitou os seios no decote e subiu a alça do vestido.

― Onde está sua calcinha? ― Os lábios de Alexander se esticaram de uma ponta a outra. ― Você vai precisar dela.

― Deixei dentro da minha bolsa em cima da mesa.

Ela puxou o tecido de seda que deslizou pela barriga até a canela.

― Nicky! ― Arqueou as sobrancelhas castanhas assim que ajeitou os óculos sobre o nariz.

A ousadia dela o surpreendeu, nunca imaginou sentir tanto desejo pela esposa naquele “estado interessante”. Inclinou-se e pegou os lábios abertos e então se afastou. Alexander verificou o relógio, abotoou os primeiros botões da blusa e arrumou o colete cinza grafite de uma grife italiana.

― Merda, está quase na hora do discurso! ― Observou a mulher que penteava os cabelos desgrenhados com as mãos. ― Precisamos voltar. Está pronta?

Nicole se esticou com certa dificuldade até o banco da frente, olhou no espelho do retrovisor e limpou a maquiagem borrada. Virou o rosto para trás e encarou o sorriso bem alinhado de Alexander depois que ele apertou-lhe as nádegas fartas.

― Fica se exibindo! ― Aumentou o riso. ― Vamos, meu anjo! Estamos atrasados.

Entre as zoeiras e os risos, o casal saiu do veículo prata e andou por entre outros carros como dois jovens apaixonados. Alexander se empertigou ao notar a silhueta esguia da mulher que os vigiava de longe. Evitou o contato visual com Isabella e passou os braços pelos ombros de Nicole. Conduziu a esposa pelos jardins e atravessaram a sala de espera.

No salão de festas os burburinhos entre os lances para comprar uma das peças continuavam. Algumas socialites estavam agitadas, todas queriam o par de brincos de safiras que Sophie ganhou da sogra no dia em que se casou. A joia foi adquirida pela família Bittencourt na Maison Chaumet, uma das butiques de luxo fundada em 1780 em um dos pontos comerciais mais sofisticados de Paris.

Todas as vezes que o leiloeiro falava sobre a preciosa relíquia de família, a nuca pinicava com a aflição, Alexander coçou e, em seguida, pegou outra taça de Prosecco que um dos garçons o serviu.

― Ei, não beba muito! ― Nicole tocou a mão dele. ― Você ainda vai dirigir.

Alexander tomou um gole do vinho e concordou com a cabeça. Olhou para Ricardo que discutia alguma coisa com Louise. Dava para ver que a mãe não estava satisfeita por doarem uma joia de família.

Nicole apertou a mão de Alexander. Aquele par de brincos remetia ao dia em que Sophie emprestou o conjunto de safiras a ela no baile de formatura. Como uma pessoa tão boa seria tão dissimulada ao ponto de tentar destruir a sua família? Sentiu-se aliviada quando os lances encerraram.

― Alguém mais? ― O leiloeiro olhou em volta. ― Vendido por dezessete mil reais para madame Heloísa Albuquerque.

A última peça foi anunciada, não demorou muito até que os lances pela réplica da estátua de Moisés em bronze se encerrassem. O doutor Kim fez uma oferta acima do valor esperado. Ninguém acreditava que aquela escultura pequena valia mais do que os brincos de safira.

O cerimonialista tinha um ótimo senso de humor, falava com o público e improvisava. Sempre descontraia os convidados e tornava o clima agradável. Após falar sobre o neto de Sophie e diretor-executivo das redes de hospitais da família Bittencourt, chamou Alexander.

― Eu já volto, meu anjo!

Deu um beijo leve nos lábios de Nicole.

― Vai lá, meu CEO gostoso.

― Nicky! ― Riu assim levantou da cadeira.

Ajeitou o blazer enquanto os mocassins pretos batiam contra o porcelanato polido ônix cristal. Meneou a cabeça para o cerimonialista que lhe passou o microfone e ficou de frente para os convidados que o observaram com curiosidade.

― A Fundação Bittencourt tem orgulho de apoiar o projeto "Médicos do Bem" que será implantado em comunidades carentes da cidade do Rio de Janeiro. ― Apoiou o celular sobre o púlpito e tocou na tela. ― Nosso objetivo é atender crianças, idosos e pacientes com comorbidades e visitar as pessoas que tenham alguma dificuldade de locomoção.

Tocou nas hastes de aço inoxidável dos óculos enquanto procurava a mesa da esposa, lá estava ela com um belo sorriso no rosto.

― Embora nós tenhamos doado o nosso tempo e recursos, ainda falta muito para ampliarmos o projeto. E é por isso que realizamos este evento beneficente com a finalidade de arrecadar fundos para a compra dos equipamentos, remédios e as demais despesas como: aluguel, água e luz dos estabelecimentos.

Henry concordou com a cabeça enquanto o genro discursava, apesar de sentir falta do filho, sentiu-se orgulhoso ao ver que Alexander seguiu um caminho diferente do de Marcello.

― Nosso objetivo é atender gratuitamente as famílias carentes. ― Continuou a voz barítona de Alexander.

Capítulo 34 1

Capítulo 34 2

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