O meu dia já não havia começado bem. Primeiro eu passei na Passione para ver como eu iria fazer o fluxo de caixa. Peguei todo o pessoal lá. De garçonete, barman e seguranças. Fui apresentada a todos cordialmente por Quim, mas eu senti a má vontade de algumas das meninas para comigo. Porém eu não deixei de fazer o meu trabalho, inclusive porque Quim estava ao meu lado o tempo todo, mas era um pessoal bem diferente do Tortelline. Sei que Quim confiava em todos ali, mas não significava que eu poderia fazer o mesmo.
Fiz o meu trabalho, mesmo percebendo algumas conversas paralelas. No fim eu entendi que o fluxo de caixa iria atrapalhar a vida das meninas. Elas recebiam gorjetas e tinham medo de que aquilo lhes permitisse atrapalhar. Expliquei que aquilo não iria atrapalhar em nada. Simplificamente, eu falei como iria funcionar, só que elas me pareceram bem desconfiadas. Os demais foram mais fáceis de entender, o que facilitou em muito a minha vida, mas naquele tempo a minha cabeça já estava a ponto de explodir de tanta coisa que estava tumultuando o meu dia.
Quando eu cheguei a Veneza, um tempo mais tarde, ainda tive que aguentar a cara virada de Serena em minha direção. Eu tentei ser simpática, juro por Deus que eu tentei, mas a mulher era realmente insuportável e parece que tinha um problema pessoal comigo, mesmo sem eu nunca tê-la visto antes. Bem, nem se quis. Eu não tinha cacife para frequentar um lugar daquele, e achava que os lugares simples que eu frequentava não eram o ponto ideal de Serena. Enquanto ela cúspia ordem de um lado a outro, eu procurava fazer o meu trabalho, tentando não me atentar com tudo que estava sentindo.
— Eu nunca a vi por aqui. — Ouvi a voz grave proferir baixinho perto de mim, não tive a menor vontade de me virar para ver algum cliente do bar que se achava no direito de dar em cima de qualquer mulher que visse por ali. Eu também tinha que me lembrar das palavras de Átila: Os clientes que freqüentavam aquele bar poderiam comprar uma boa parte do estado. — Certamente eu teria me lembrado. — Ele voltou a falar — Daquela vez eu virei a minha cabeça em direção a ele com um sorriso amarelo no rosto.
— Você nunca viu! — Afirmei ao encarar os olhos castanhos do homem. Por Deus, eu sabia quem era! Ele era o deputado Rodolfo Prates, se eu não me enganava. O homem de cabelos cor de mel abriu um sorriso de dentes brancos brilhantes. Ele deveria ter entre vinte e nove e trinta anos, acho que tinha por volta de 1,78 de altura, nenhuma gordura excessiva no corpo e exalava dinheiro. Dinheiro público; era bem evidente e vergonhoso.
— Bem, mas que bom que agora estou vendo. — Ele falou levantando o copo em minha direção. Certamente não entendeu o meu tom seco e de quem não pretendia prolongar o papo. — Deixe-me adivinhar… Você trabalha na contabilidade. — Falou, na tentativa de manter a conversa. Segurei a vontade de revirar os olhos. Eu realmente precisava passar por aquilo? Era tudo o que eu mais me perguntava naquele momento, pois a minha vontade de mandá-lo a merda era gritante. Respirei fundo e contei até dez… Mentalmente.
— Não. — Respondi secamente e ganhei mais um riso da parte dele, mas fiz questão de não responderê-lo. Será que se eu o ofendesse iria perder o meu emprego? Bem, era claro que eu iria perdê-lo. Os clientes do Veneza eram importantes, não só para o Veneza.. Eram pessoas importantes da sociedade, mas aquilo não dava o direito dele me importar. — Se me der licença, eu tenho trabalho a fazer. — Falei, mas ele acreditou não se importar com a minha indiferença. O que manteve com aqueles homens, que se sentiram instigados ao serem ignorados?
— Tudo bem. Eu já entendi. — Afirmou, e eu quase soltei um “finalmente”. Mas eu não o fiz, felizmente. — Você é uma pessoa bem focada no trabalho. Mas, a propósito, eu sou Rodolfo. Rodolfo Prates. — Ele falou, era típico que ele queria me fazer ser mais gentil só com a menção do seu nome. Eu quase ri com aquilo, só que eu fui salva quando Serena se aproximou cheia de dedos. Pude ver que ela pensou, com alegria, que estava atrapalhando algo. Só que na verdade era o contrário, e eu quase a agradeci verbalmente.
— Deputado… Nem o vi chegar. — Ela falou, se pondo em minha frente. Balancei a minha cabeça com um ar de riso. O deputado falou alguma coisa, mas eu nem sequer escutei e nem tive a menor vontade de ficar escutando o que falavam. Foi um escape certo para que eu pudesse voltar ao meu trabalho. Quando mais cedo eu terminasse ali, mais cedo eu voltaria ao escritório, onde era mais seguro trabalhar. — Claro, mas não incomode a minha funcionária. — Ouvi Serena falar. Eu poderia deixar passar, mas aquilo eu não iria engolir. Eu não trabalhava para ela e não gostei nenhum pouco do tom debochado que usou.
— Eu não sou sua funcionária, Serena. Nós trabalhamos para o mesmo grupo, mas você não paga o meu salário e nem manda em mim. — Retruquei, e ela se virou para mim, assim como o deputado. Eu estava farta daquela mulher e pouco me importava se ela se achava a dona do lugar. Eu não tinha que aguentar aquele tipo de coisa dela e nem estava me importando com o meu emprego. Principalmente se eu precisasse descer a mão nela.
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