— Eu não estou acreditando. Por que você não fugiu? — Julia me perguntou, depois de eu ter contado a ela tudo o que havia acontecido desde que eu botei os meus pés naquele lugar. Confesso que, em certo momento, eu realmente pensei em fugir. Mas de que adiantaria? Lá é o meu trabalho, eu teria que voltar a qualquer momento e, além do mais, eu não sou uma covarde. Eu apenas me senti amedrontada no momento — e confusa. Na verdade eu ainda estava muito confusa. Principalmente pelo jeito que Lorenzo olhava para mim e a Quim, depois que ele chegou na sala. Balancei a minha cabeça, expulsando os pensamentos.
—Você prestou atenção em alguma coisa que eu falei? — Perguntei para ter certeza. Julia estava um tanto aérea, arrumando as coisas de Diogo para levar para a cobertura. Eu não estava ajudando ela pois Giovanni estava em meu colo. Estava difícil fazê-lo dormir, e talvez eu o quisesse mais perto de mim, com os olhinhos abertos. Eu tinha tanto medo pelo meu filho. Pouco me importava o que poderia acontecer comigo e com os meus sentimentos, só não queria ninguém brincando com o meu filho.
— Você quer saber o que eu acho de tudo isso? — Ela perguntou ao parar de empilhar as coisas em caixa, e se virou para mim, me fazendo engolir a seco naquele momento. Senti os dedos do meu bebê se enrolarem nos fios soltos do meu cabelo. Gio amava fazer aquilo, pois funcionava como um calmante para ele. — Eu não gosto dessa cara, Gabi. Eu acho que tudo o que ele disse foi a mais pura mentira. — Afirmou, me fazendo sentir um aperto em mim, uma inquietude. Por mais que eu gostesse de Julia e respeitasse, desde então o meu coração não acreditava nela. Ele se descreveu exatamente como eu me sentia, e ele não poderia estar inventando aquilo.
— Julia — Falei, e ela trabalhou a sobrancelha em minha direção —, eu desisto de conversar com você. — Eu iria rebater, mas duvidava muito que ela fosse entender. Julia cultivava um ódio por ele que nem eu mesmo nutria. Acho que Diogo não era muito diferente dela.
— Espera! Gabi, me desculpe. — Ela pediu, me fazendo parar na soleira da porta, mas eu não me virei para ela. Tinha a intenção de colocar o meu filho no cercadinho, pois parece que aquele dia não estava sendo só agitado pra mim. — Poxa, Gabi. Eu a vi sofrer por esses dois anos, a cada dia deles. — Se justificou, e eu abri a boca para contestá-la, mas mudei de ideia. — A única coisa boa que esse cara de te deixou foi o Gio, porque as marcas… elas só a fizeram sofrer. Em certos momentos eu fiz vistas grossas, mas minha vontade era matar-lo. — Ela afirmou. — Aí quando você decidir viver, dar uma chance a um cara que você conheceu, que foi bacana com você e não te levou para cama em primeiro lugar, esse daí aparece. — Despejou, me deixando chocada.
— É difícil de te explicar, Julia. O que eu senti com o pai do Gio não foi uma coisa racional — Eu estava tentando fazer ela compreender algo que eu nem sabia explicar direito. — Era mais forte do que eu. Eu tentei dizer não, mas o meu corpo, o meu coração me dizia para ir. Eu não fui a única a sentir isso. Ele também sentiu. Eu aceitei sair com o Quim, mas ele não balançou o meu coração nem um terço do que o pai do meu filho fez! — Afirmei.
— Chegamos a um ponto interessante: Gio. — Ela falou, e eu engoli um seco. Meu filho deu um grito fino ao ouvir o seu nome ser citado. — Você não ter contado a ele sobre o filho de vocês é, no fundo, uma prova de que você tem um pé atrás com ele também. — Ela falou, como se estivesse anunciando uma receita para salvar o mundo de um desastre. Revirei os olhos com a atitude Julia. Por Deus, como eu controlei a vontade de esganar a minha amiga.
— Eu não ter contado a ele sobre o Gio é só pelo fato de que eu quero proteger o meu filho. Os meus sentimentos, as minhas emoções são diferentes. Eu posso ser magoada, ser indiferente. Eu só não vou aceitar que o mesmo aconteça a ele! — Falei de cabeça erguida — Que fique claro que isso não se aplica somente ao pai do Gio. Ou você pensou que eu colocaria Quim de uma hora para outra na vida do meu filho? — Vi ela engolir a seco, balançar a cabeça e olhar de um lado a outro.
— Claro que não, Gabi. Eu sabia que você não faria isso. Eu… Desculpe por estar agindo assim. Eu só me preocupo muito com você e com o Gio. — Julia falou, e eu entendia isso, só que queria que ela me entendesse também. — Eu vou tentar levar as minhas falas. Mas se eu encontrar com ele… — Ela deixou as suas palavras no ar. Eu levantei a minha sobrancelha para minha amiga, que fingiu não ver aquilo.
— Eu só gostaria que você não comentasse nada com Diogo. — Pedi, e ela fez uma careta — Você sabe muito bem o que ele faria. Iria até Lorenzo e, bem, acabaria falando sobre Gio ou coisa pior. — Por “coisa pior” ela entendeu que ele partiria para agressão. Meu irmão tem um gênio bem difícil e ele não faz questão nenhuma de melhorá-lo. Julia balançou a cabeça em concordância. Eu respirei aliviada por aquilo.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Um bebê para o CEO italiano