Manuella Vermount
*Um pouco antes do hospital *
Eu tinha tentado, por horas, ligar para o Sr. David. Eu estava em casa já sem saber o que fazer. Dona Maria ficava tentando ligar para ele também enquanto eu estava cuidando de Hannah, e nada. Tentamos colocar toalhas geladas em sua cabeça, colocar ela deitada descoberta no quarto com o ar condicionado ligado, banho frio, tirar o excesso de roupa, mas não resultava em nada. A temperatura dela não diminuía e ela não estava bem.
Já era noite e o Sr. David já deveria ter chego, decido que não vou mais esperar e vou com Hannah para o hospital.
- Dona Maria, por favor, avise ao Sr. David quando ele chegar que eu fui com Hannah para o hospital - digo cansada de esperar.
- Vá minha menina e me dê notícias.
Pego minha bolsa e corro pro carro onde Taylor já está pronto pra sair.
- Manu, minha cabexa dói muto – ela diz escondendo o rosto em minha barriga.
- Calma minha pequena, já estamos indo pro médico – a abraço mais forte.
Graças ao bom Deus não estava engarrafado e demoramos apenas 10 minutos para chegar ao hospital. Assim que chegamos, corri para a ala emergencial.
- MOÇA! ME AJUDA, ELA ESTÁ COM FEBRE DESDE DE TARDE E NÃO DIMINUI A TEMPERATURA.
- Senhorita, por favor, se acalme, me dê os documentos da criança – gelo, como eu podia ter esquecido desse pequeno detalhe?
- Eu sou a babá dela, eu não sei onde ficam. Por favor, me ajude – Taylor se junta ao meu lado para tentar me ajudar.
- Eu posso até tentar te ajudar, mas sem os documentos eu não tenho como acessar o banco de dados e os médicos não estarão permitidos a ministrar nenhuma medicação. É mais risco para ela a gente tentar fazer algo desse jeito.
Pego o telefone e ligo para o David que atende, ele finalmente resolveu dar sinal. Pedi que ele trouxesse todos os documentos de Hannah e que viesse o mais rápido o possível.
- O nome completo da menina já ajuda em algo? – Taylor tenta.
- Posso tentar - a atendente diz vendo meu estado e tentando me ajudar de alguma forma.
- Hannah Monteiro - ela começa a digitar e a procurar pelo computador – Eu preciso de, pelo menos...
- Aqui, estão aqui, agora ajude ela – Sr. David nos assusta entregando uma pastinha.
- Papai, vuxê chegou – essa foi a última coisa que minha pequena falou antes de seu corpo começar a se contorcer em meus braços.
-HANNAH!!! – digo sentando no chão, antes que ela caísse.
Nos próximos momentos vários médicos adentraram a sala vindo correndo em direção a Hannah, que se debatia em meus braços. Eu só fazia chorar desesperadamente. Taylor me puxou para trás enquanto eu me debatia para poder seguir aqueles médicos. O Sr. David foi em direção a eles, mas o médico disse:
- O senhor fica, traremos mais notícias daqui a pouco - ele impede que entremos na sala e ficamos na sala de espera.
- Droga! – ele diz sentando na cadeira.
Taylor me solta e me sento ao lado do Sr. David cobrindo o rosto com as mãos.
- Por que não me ligou mais cedo? – diz ele me encarando. Eu não acredito no que estou ouvindo.
- COMO É? EU ESTOU TE LIGANDO DESDE A HORA DO ALMOÇO E VOCÊ NÃO ATENDEU A MERDA DO CELULAR, AGORA QUER VIR COLOCAR A CULPA EM MIM? – digo irritada.
Não acredito que esse idiota vai me fazer dar um outro discurso pra ele. Ele não tem noção não?
- Tudo bem – ele diz calmo – Tudo bem, me desculpa, calma.
- Não tenho como ficar calma! Você está jogando em mim uma culpa que não é minha. Eu passei a tarde inteira te ligando e tentando fazer com que a febre dela baixasse - digo num tom de voz normal, já que as pessoas estavam começando a nos olhar estranho - Não é justo!
- Eu sei... - ele diz em um soltando o ar - Eu que estou frustrado, porque já é a segunda vez que algo de ruim acontece com ela e eu fui capaz de protegê-la.
- Isso também não foi culpa sua...
- Uma parte foi. Eu deveria ter olhado meu telefone para ver se tinha alguma ligação sua. É o seu primeiro dia e não se acostumou com a rotina. Sem contar que eu errei em não te mostrar onde estavam os documentos dela.
- Vai ficar tudo bem agora - tento começar a levar a conversa para outro rumo - Ela já está sendo atendida e vai ficar tudo bem.
Uma hora se passa desde que Hannah foi socorrida e nós não tínhamos tido nenhuma notícia. Eu já estava prestes a ir pedir algumas informação, quando o médico nos chama.
- Responsáveis por Hannah Monteiro? – o médico diz chamando.
- Aqui – Sr. David diz levantando num pulo e eu levanto me posicionando logo atrás.
- Me acompanhem, por favor.
Ele nos leva para uma sala onde minha baixinha estava deitada dormindo e conectada a alguns fios. Ela parecia frágil, porém aparentava estar em um sono bem profundo.
- Bom, a Hannah teve um evento de convulsão febril. É bem comum entre crianças e não deve se repetir. É uma reação do corpo dela para tentar melhorar o que ela está sentindo. Estamos esperando o resultado do laboratório para saber com mais certeza do que se trata, mas tudo indica que está tudo bem agora.
- Doutor, ela está com febre tem um tempo. A tarde inteira a temperatura não baixou e ela já foi medicada pela manhã - digo.
- Ela já foi medicada novamente e em 30 minutos o remédio já deve fazer efeito, caso contrário teremos que utilizar o banho para dar um choque térmico mais forte. Se for necessário, precisaremos da ajuda de vocês, não é um processo muito agradável. Vou deixar vocês a vontade – ele diz saindo.
Chego perto de Hannah e faço carinho em sua cabeça.
- Desculpa por ter te acusado na sala de espera – Sr. David diz se aproximando de Hannah e eu fico meio sem graça.
- Desculpa por ter gritado com o Sr...
- Não precisa me chamar de senhor, pode me chamar de David.
- OK, tudo bem – digo levantando e andando de um lado pro outro no quarto – Será que vai precisar do banho?
- Tomara que não, já ouvi falar nisso e dizem que é hor...
- OI AMORZINHO! – uma mulher entra do nada na sala.
Ela era alta, loira e muito bonita.
- Emilly, o que você ta fazendo aqui? – então essa era a tal Emilly? Comecei a sentir a raiva subir a cabeça.
- Eu preciso falar contigo meu amor – diz ela dando um selinho nele.
- Emilly, minha filha está doente e eu não estou com cabeça para pensar em outra coisa no momento.
- Amorzinho, é muito importante. Uma amiga minha me entregou um convite para um desfile de moda e nós precisamos ir – diz dando pulinhos.
Eu não acredito no que estou ouvindo. É sério que em tal situação, essa mulher é capaz de vir querer falar sobre um desfile?! Não é a toa que Hannah odeia ela.
- Emilly, depois a gente resolve isso – David diz passando as mãos pelo cabelo claramente nervoso.
- Meu amor, eu preciso dar a respos...
- Você tem alguma noção? – deixo escapar, me arrependo logo depois.
- Como é? – ela diz como se agora notasse a minha presença.
- Eu perguntei se você tem alguma noção? – digo tomando coragem para opinar sobre o absurdo que tinha acabado de ouvir.
Isso pode dar uma merda muito grande pra mim, mas agora já foi.
- Quem você pensa que é para falar desse jeito comigo? – diz vindo em minha direção. Claro que, como sempre acontece, ela é bem mais alta do que eu.
- Eu posso não ser ninguém no seu ponto de vista ou em relação à sua posição na sociedade, mas eu tenho um mínimo de noção em alguns momentos. Se você não notou, existe uma criança no quarto – digo apontando para Hannah, que se mexeu de leve – e essa criança está doente, precisando de um mínimo sossego para ter a chance de melhorar.
- Olha aqui... - diz levantando a mão como se fosse apontar o dedo para mim.
- Olha aqui digo eu – digo fazendo ela abaixar o dedo que pretendia colocar em minha cara – Os seus problemas, no momento, são nada em comparação ao que está acontecendo. Então, por favor, se puder se retirar, seria ótimo.
- Emilly, amanhã eu te ligo – David diz me encarando sério, me encolho com receio do que poderia vir.
- DAVID! VOCÊ VAI DAR RAZÃO PARA ESSAZINHA? - diz incrédula.
Vejo minha pequena abrir os olhos e estranhar o que está a sua volta.
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