Alex
— A senhorita Stanford preferiu que tudo fosse conduzido com o devido distanciamento, formalidade e clareza. Foi o que ela pediu. Nada mais. Nada menos.
Silêncio.
Volto a encarar o papel.
— Cláusula 1: — Leio em voz alta, erguendo o meu indicador. — Dispensa da Lua de Mel? — questiono e o olho interrogativo.
— A Senhorita Stanford declara expressamente que não exige a realização de lua de mel após a celebração do matrimônio. — Ele explica. Faço um gesto de desdém e continuo.
— Cláusula 2: Fica acordado entre as partes que não haverá obrigatoriedade de coabitação sob o mesmo teto. — Rio descaradamente. — Isso é ridículo! — Contesto.
O homem me fita como se eu fosse a porra de idiota.
— Cláusula 3: As partes concordam que não haverá partilha de leito conjugal.
— A Senhorita Stanford veda qualquer tipo de intimidade física imposta ou presumida decorrente do estado civil matrimonial.
Puxa saco! Rosno mentalmente.
— Cláusula 4: O presente vínculo matrimonial terá prazo de vigência de 12 meses.
— Contados a partir da data da oficialização do casamento civil. — Ele completa.
— E, cláusula 5: Durante o período de vigência do casamento o contratante compromete-se a não manter quaisquer envolvimentos afetivos, amorosos ou sexuais com terceiros.
— Essa é a cláusula mais importante. Visto que a quebra desse acordo…
— Essa porra é uma prisão! — rosno, amassando os papéis e o encaro irritado.
— Entendo sua indignação, Senhor Ricci. — Sua voz é precisa e sem pressa.
— O que ela quer de mim? Um celibatário? Nada de intimidades, dividir o mesmo e mesma cama. Isso eu até entendo, mas daí me resguardar é o cúmulo!
— A coisa é bem simples, Senhor Ricci. O Senhor se casa. A Senhorita Stanford permanece na mansão Ricci e o Senhor na sua. A verdade, é que os dois não se suportam e que essa é uma proposta perfeita.
— Barbara, cancele os meus compromissos para hoje! — rosno ao sair do escritório e sem me importar com os seus protestos, entro no elevador e olho as horas.
Minutos depois, o som dos pneus cantando na estrada é tudo que consigo ouvir e as paisagens na minha frente passam como um borrão. Dentro da minha cabeça tem um turbilhão. Cada palavra dita por Petrus Carpam está ecoando como um insulto meticulosamente arquitetado.
… Esses são os termos, Senhor Ricci.
Ela prefere manter a distância. Penso.
… Não posso garantir que ela aceitará um encontro.
— Ela quer um casamento? Pois ela terá um, mas sob as minhas condições! — rosno entre dentes, mas para ninguém em especial.
Não demora muito e os portões de ferro se abrem para mim. Uma mansão de estrutura antiga entra no meu capo de visão e logo estaciono o veículo bem na frente das portas largas. Desço do carro com o sangue latejando em minhas têmporas. Dou alguns passos decididos e pesados. Toco a campainha com força. Os dedos fechando em punho logo em seguida. E então a porta se abre e Elena surge na minha frente com a postura ereta. Os olhos firmes e uma beleza serena que não pede permissão para me desestabilizar.
A porra toda é que fico imóvel.
O ar deixa os meus pulmões. A raiva que eu trouxe comigo se espalha por dentro e perde o seu rumo. E a coerência dos meus pensamentos foge como fumaça que se espalha pelo ar. Ela não diz nada. Apenas me olha. E eu simplesmente não consigo articular uma frase sequer.

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