Elena
É como se fosse um sonho suave. A luz da manhã atravessa suavemente as cortinas, acariciando o meu rosto. O aroma doce e inebriante de flores me fez franzir o cenho antes mesmo de abrir os meus olhos e me pego sorrindo.
— Bom dia, senhora! — Uma das empregadas da mansão adentra o meu quarto, escancarando todas as cortinas, deixando a luz do dia invadir o cômodo.
Contudo, o perfume suave de flores continua e decido abrir os meus olhos. O impacto me atingiu em cheio: o quarto está tomado por buquês de todas as cores e formas. Rosas, lírios, tulipas. Cada uma mais perfeita que a outra, espalhando um perfume envolvente, quase sufocante.
— Hum… que horas são? — pergunto com um gemido baixo.
— Hora de se levantar para ir para a empresa, senhora.
Ai meu Deus, a empresa! Sento-me no meio da cama em um solavanco.
— O que é tudo isso?
Procuro saber, arrastando-me pra fora do colchão. Meu coração dispara como se quisesse escapar do meu peito. No entanto, dou um passo vacilante. A ponta dos meus dedos roçando nas pétalas delicadas. Sobre cada arranjo. Contudo, pequenos bilhetes largados dentro deles chama a minha atenção. Seguro um dele e cerifico a caligrafia firme e elegante. Curiosa, abro um deles.
“Se for preciso, pedirei o seu perdão todos os dias… todos os meses… e a cada ano. Incansavelmente, até que você finalmente me perdoe.”
— Não sei, Senhora. — Desperto quando a empregada diz. Elas já estavam aqui quando entrei no quarto — informa.
Mordo meu lábio inferior e fito a porta do quarto fechada.
Ele não ousaria entrar aqui sem a minha permissão… ou entraria?
— O café da manhã será servido em alguns minutos, Senhora Ricci — avisa.
— E a Aurora? — pergunto e vou até outro buquê.
— Está no jardim com a Anita como sempre.
“Me perdoe por errar tanto com você!”
— Ok! — digo e me afasto das flores. — Eu vou tomar um banho e desço para tomar café da manhã com a minha filha.
— Sim, senhora. — A observo sair do quarto e fechar a porta logo em seguida. Entretanto, aproximo-me de mais um buquê e sou tomada pelas lembranças de um passado doloroso.
Ainda consigo sentir a calçada dura sob os meus pés cansados. O meu corpo frágil, enjoado pela gravidez que já começava a pesar. Minhas roupas gastas e sujas, grudavam-se à pele devido o desenvolvimento de uma gravidez de quase 120 semanas. O meu estômago doía em ondas de fome e algumas vezes os meus olhos se prendiam desesperados aos pratos fumegantes que as pessoas saboreavam atrás das vitrines iluminadas dos restaurantes. Cada garfada era uma tortura silenciosa. Pensei que não sobreviveria por muito tempo, até que um carro negro parou bem do meu lado e Nora Ricci saiu de dentro dele. Lembrar disso reacende a centeia de determinação dentro de mim.
Afasto-me das flores e lanço lhes um olhar de desprezo em seguida.
Não pode ser tão fácil assim, Ricci. Nem todas as flores do mundo inteiro poderão apagar a dor que você me causou.
Saio imediatamente do quarto, direto para o banheiro e tomo um banho demorado. Momentos depois, escolho um look para o meu primeiro dia de trabalho. CEO da Ricci Holding. Quem diria que isso aconteceria para mim um dia? Não demora muito e eu saio do quarto, porém, tenho o cuidado de verificar se existe alguma presença indesejada dentro do corredor, porém, ele está vazio.
— Onde está a garotinha mais linda desse mundo inteirinho? — indago feliz, adentrando a sala onde uma mesa já está exposta. Como sempre, minha filha grita exultante, abrindo os seus braços para mim e toda a mágoa e dores do passado se apagam, trazendo para mim uma alegria que somente ela pode me dar.
Diferente do dia anterior, Alex não aparece para dejejum. Isso me traz um incomodo que eu não consigo explicar. Entretanto, me concentro nos risos e conversa gostosa com Aurora, até me despedir dela e ir para o escritório.
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