Alex
Assim que adentro a minha cobertura, a encontro mergulhada em um mar de silêncio que é quebrado apenas pelo som das minhas pegadas firmes riscando o piso de mármore polido. Com a minha cabeça povoada em questionamentos distorcidos começo a andar em círculos pela ampla sala de estar, que tem as janelas abertas, deixando entrar o vento morno da madrugada. A cidade lá embaixo pulsa em vida, indiferente à inquietação que me domina.
— Qual é o seu maldito problema? — resmungo irritadiço.
A voz arranhando a minha garganta. Contudo, vou até o bar de canto e sirvo uma dose tripla de uísque. —
Eu aceitei todas as exigências ridículas daquele contrato. Um ano inteiro preso a uma união forçada. Sem uma cama aquecida. Sem o seu toque ou a ilusão de que o nosso amor pede ser reconstruído. Debaixo do mesmo teto. Isso é o mínimo. É o justo. Esse pensamento me faz parar a minha curta caminhada e esvazio o meu copo ao menos sem saborear a minha bebida.
— Ela precisa desse casamento. E precisa dessa herança. Por quê? — murmuro, encarando o meu próprio reflexo no vidro do bar de canto. — No entanto, ela disse que não.
Aperto o vidro transparente copo vazio entre os meus dedos.
— O que você está tentando provar, Elena? Que tem controle dessa situação? Que consegue me dobrar com suas cláusulas ridículas?
Respiro fundo. Largo o copo na bancada de vidro do balcão e me deixo cair no sofá, encarando o teto em seguida. Sinto o cansaço cobrar as longas horas de trabalho e de insônia, dominado por sentimentos que sequer consigo nomear.
…
… Alex?
… Hum?
… Você já parou para pensar no futuro?
A sua voz ecoa doce dentro dos meus ouvidos.
… às vezes. Por quê?
Ela me beija.
… Eu penso sempre no futuro.
Elena sorri inocente para mim. Tão linda e tão meiga.
… Um dia vamos nos casar. E morar em uma casa grande e muito, muito linda. E teremos uma linda menina.
… Uma menina?
… Você prefere um menino?
Dou de ombros e a puxo para um beijo longo.
… Uma mini Elena correndo pela nossa casa seria ótimo.
Comento e volto a beijá-la.
…
Puxo uma respiração alta, quebrando essa linda lembrança.
— O que houve com você? — inquiro baixinho. — Por que tanta raiva? Não pode ser porque a deixei naquele quarto, certo? Com certeza algo mais aconteceu depois disso.
… “A outra metade das empresas, ações e bens associados serão deixados para Aurora. Uma garota linda e fascinante que o destino colocou no meu caminho, e que com ela, trouxe a luz que me permitiu ver com mais clareza.
Aurora. Tudo isso é por você. Mas quem é você de fato?
Meu olhar se estreita e repasso mentalmente cada reação de Elena durante a leitura do testamento. O silêncio dela durante a leitura daquele trecho. A respiração que ela prendeu. Os olhos que se desviaram dos meus como se quisesse se esconder.
… Isso não faz sentido, Simon. Teria que ser algo bem mais complexo que isso.
… Como o que? Uma gravidez?
Merda!
— Você tem noção de que horas são? — Ela grunhe e imediatamente os meus olhos sobem para encontrar os seus. Tão arredios e tão desafiadores.
— Me desculpe! — me pego dizendo. — Eu sei que já está tarde…
— Muito tarde! — rebate irritada. — Já passam das duas da manhã.
— Eu já pedi desculpas — retruco.
— O que você quer? Por que está aqui?
— Eu… tenho uma proposta, Elena. — Ela franze o cenho, cansada.
— Achei que ela já tivesse encerrado esse assunto.
— Ok, sobre as cláusulas. Elas são absurdas.
Elena cruza os braços e isso dá ênfase aos seus seios. Mordo a parte interna da minha boca para abafar um grunhido.
— Mas eu tenho uma contraproposta. — Ela ergue as sobrancelhas e aguarda. Limpo a garganta. — Tudo bem um casamento por contrato. O lance da partilha do quarto e da cama. Eu aceito tudo isso.
— Mas?
— Eu faço questão de estarmos sobre o mesmo teto.
Elena abre a boca para protestar, mas eu não permito.
— Eu entendi que isso é importante para você. Eu não sei os seus motivos. Conheço bem a sua família e a sua vida…
— Você não sabe nada sobre mim! — Ela range entre dentes e eu fecho os olhos para não perder a paciência.

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