Madame Lavoisier
Batem na minha porta. Estou no meu escritório revisando alguns contratos. Quem pode ser?
Estou mergulhada em novos contratos de serviço. Pedi para não ser incomodada.
-Entre...
-Senhora me desculpe, mas Patrick está aí fora e precisa falar com a senhora?
-O meu chefe de segurança?
-Sim senhora...
-Essa hora da manhã? É urgente Márcia, porque eu preciso revisar esses contratos o mais rápido possível.
-Ele disse que sim...
Eu suspiro. Só falta uma das meninas terem fugido. Há tempos que isso não acontece...
-Pode deixar ele entrar...
Patrick é meu chefe de segurança há algum tempo já. Ele me acompanha sempre quando tenho que fazer uma visita a um abrigo ou orfanato.
-Madame...
-Oi Patrick, alguém fugiu?
-Não senhora, aqui no internato está tudo sob controle... Só queria falar com a senhora sobre uma menina que conheceu ontem. Eu realmente estou preocupado...
Ele se senta na minha frente. Ele deve regular uns trinta anos, é bem moreno e o cabelo cortado em estilo militar.
Espero que ele continue.
-A encontrei na Avenida Paulista fazendo ponto, numa daquelas ruas...
-Uma prostituta? -levanto uma sobrancelha.
Dificilmente eu recruto meninas maiores de dez anos. Sempre a faixa etária fica entre 16 aos 19 anos... Não mais que isso. Se passar desta fase, elas geralmente já estão viciadas seja no estilo de vida que vive, ou drogas e álcool. Por isso, recomendamos recrutar meninas recém-saídas de orfanatos e às vezes internatos. Acontece dos próprios pais pedirem uma vaga para as suas filhas, mas esses casos são raros. Mesmo a maioria tendo problemas psicológicos, evite todos eles.
Mas uma garota de programa? Nunca recrutei nenhuma, porque a maioria não aceita meus termos e já são viciadas, seja no dinheiro fácil, seja em sexo ou drogas.
-Ela não está na rua há muito tempo, segundo minhas primeiras preocupações. Ela chegou a cinco meses. Divide um apartamento com mais cinco, numa favela famosa aqui no centro. E madame... Ela não tem nem dezoito anos...
-Menor?
- Sim... Pelo que pude apurar com as informações que ela me deu, ela fugiu de casa e foi morar nas ruas. Como tem que pagar aluguel e comer, começou a se prostituir.
Ele pega uma massa e põe na minha mesa.
Eu abro e vejo uma cópia de RG. Camila Coelho, 16 anos, filha de Margarida Coelho. Sem pai conhecido. Nasceu em Santa Catarina.
A menina é linda, loira de cabelos lisos e olhos azuis... Uma boneca... Começo a compreender porque Patrick se interessou em ajudar esta menina.
-Essa investigação você fez por conta própria?
-Sim, eu precisava convencer a Senhora. Sei que ela não tem o perfil de suas meninas.
-Como a conheceu?
-Eu passei por lá e ela estava num dos pontos. Me ofereceu um programa.
-Quanto ela cobrou Patrick?
-Trinta reais por um boquete e 50,00 por penetração sem tocar nela. Ela não gosta de ser toca.
Eu levanto uma sobrancelha pra ele. Como assim não gosta de ser toca?
-Isso nem é o mais estranho...
Faço sinal com a mão para que ele continue.
-Ela tem marcas nas coxas senhora, como se prende correntes até se machucar...
Então a menina gosta de sentir dor? Ou é católico e gosta de se penitenciar pelos seus pecados?
-Ela só tem dezasseis anos. Você ficou com ela, Patrick?
-Não... Paguei para conversar com ela por uma hora. Dei o meu cartão a ela, caso ela aceitesse fazer uma entrevista com a senhora.
-Você ofereceu ajuda, sem me consultar antes?
-Senhora, me desculpe... Mas eu sabia que a senhora ia se interessar pelo caso.
Eu olho para a foto do RG dela novamente.
Uma prostituta!
16 anos
E linda...
Eu não posso fingir que não estou vendo isso... Eu não posso simplesmente deixar essa menina na rua se prostituindo.
-Ela tem algum vício, Patrick?
-Pelo tempo que ficou ela comigo não demonstrou nenhum. E pela minha investigação, não fiquei sabendo de nada.
-Ela te ligou?
-Ainda não...
-Você vai me levar até ela hoje... Vamos ver o que ela tem a me dizer...
-Ela é arredia Senhora...
-Percebo, alguém com 16 anos que não gosta de ser toca. Só pode ter algum trauma. Você sabe porque ela fugiu de casa?
-Ela saiu de Santa Catarina. Não deu tempo ainda de eu investigar sobre isso. Sei que fugiu porque uma das meninas que divide o apartamento com ela, disse. Mas não sabe o motivo.
-As outras meninas sabem que ela é menor?
-Não, elas acham que ela tem dezito. O que a Senhora acha sobre as marcas na coxa?
-Existem pessoas que são viciadas em dor. Usam cilícios para sentir a dor o tempo todo ou se penitenciar. Já peguei alguns casos desses aqui... O bdsm costuma ajudar bastante essas meninas... Mas não sei se é esse o caso... Como são as marcas?
-De elos, como se fosse uma corrente... Roxas e profundas, quase ultrapassando a pele. Algumas mais antigas que outras.
Coitada dessa menina... Eu preciso conversar com ela.
-Continue investigando Patrick, e hoje a noite você vai me levar até a rua que você pensou...
-Sim Senhora!
****************
-É aquela, Senhora...
Estamos na esquina com o carro parado do outro lado da rua.
Ela chega com um vestido vermelho colado no corpo e bem curto. Sandálias muito altas. Aquela cabeleira loira chamativa toda ondulada solta, batom vermelho que dá pra ver de longe, provavelmente está com uma maquiagem bem carregada para camuflar sua idade. Bem magrinha, talvez esteja abaixo do seu peso. Ela é realmente linda e chama bastante atenção de longe.
Eu a observo um pouco e vejo ela se escorar num poste, jogando o cabelo para o lado e olhar o celular.
-Cadê as marcas da coxa que disse, Patrick...
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