A Redenção do Ogro romance Capítulo 97

Bernardo Thomson

Estalo os dedos das mãos mais uma vez. Tio Armando me olha ressabiado de novo.

-Você vai quebrar os dedos.

-Já era para Camila está aqui…

-Noivas sempre se atrasam…

-Não Camila…

-Ela deve estar pensando numa forma de fugir do quarto. Quem sabe pular pela janela do SPA e descer por uma árvore frutífera. - Fala Arthur ajeitando as mangas da camisa.

-Por isso que eu vi o Daniel lá fora. -diz Paulo casualmente.

-O que? -Pergunto ficando branco. Chegou até a me dar uma pontada no peito.

Sei que Daniel pediu para ser transferido para outro estado, Barreto me disse. Ele é o novo chefe de segurança da Security Corporation na filial de Minas. Foi uma boa recompensa. Surpresos? Barreto não é um simples segurança. Ele só continua sendo segurança do Arthur, pois os dois desenvolveram uma amizade grande. E contra laços de amor, ninguém tem poder. Eu não seria o Bernardo, se não me certificasse que aquele moleque estaria bem longe de nós dois. Não quero que nada atrapalhe meu relacionamento com Camila. Mas fiquei aliviado que ele resolveu se afastar por livre e espontânea vontade. Pelo menos meu passarinho não voltaria a vê-lo novamente.

O que me leva a crer que Paulo tá de sacanagem com a minha cara.

Camila já havia me confessado que não havia fodido com Daniel. O que me deu um alívio bem grande. Também bateu o arrependimento. Eu não devia ter ficado com Melissa e nem Joaquina.

Mas pelo menos esses cinco meses que se passaram até eu admitir meus sentimentos, me fizeram amadurecer, o que não amadureci a minha vida toda. E vamos combinar? Eu não merecia Camila naquela época. Agora eu mereço.

Tio Armando gargalha.

-Gostei dessa do Daniel esperando… - gargalha alto. - Se fosse eu não teria criado algo tão extraordinário! Você é cruel às vezes menino de ouro.

-É a minha segunda personalidade... Eu não consigo evitar.

Eu reviro os olhos...Eles estão descontando nesses últimos meses toda a frustração que eu fiz eles passarem antes de se casarem.

Eu não me importo. Eu deixo... Eu fui um pé no saco mesmo... Ofereci até meu carro para o Paulo fugir ..

Fazer o que! Eu nunca perco a piada. Agora eu tenho que aguentar essa encheção de saco.

Enfim chegou o dia.O dia que eu me unirei ao meu passarinho. Nesses últimos meses eu só tenho pensado nisso..

E faremos do jeito dela... Numa cerimônia simples de rosas e depois um registro civil. Porque meu passarinho não combina com eventos grandiosos.

Quem realizará a cerimônia de rosas será Tio Armando. Ele é a pessoa certa para fazer isso. Meu pai nem se importou em ter escolhido ele. Ele sabe que eu e o tio Armando temos uma cumplicidade muito grande.

A minha relação com o meu pai estava indo muito bem. Melhor do que imaginei... Mas eu também não imaginei que ele fosse me apoiar naquele dia no hospital. Durante todos esses anos, eu aprendi a aceitar o meu pai do jeito que ele era. Claro que eu não aceitava suas imposições, e me esforcei bastante para não ser como ele... Mas no fundo eu aceitava as suas limitações.

Quando ele aceitou as minhas limitações, foi como se a paz reinasse entre nós. Ainda tínhamos uma relação distante. Eu não tinha a mesma liberdade que eu tinha com Tio Armando, mas as coisas estavam calmas... Se as coisas continuassem assim, eu ficaria agradecido!

Já ele e Willian voltaram às boas. Nunca seria como antes, porque agora ele não tinha mais um filho perfeito. Ele se esforçava para aceitar o jeito dele, mas concordar com as escolhas dele, seria pedir muito para o meu pai.

Ele se esforçava em ser mais maleável conosco, e nós nos esforçamos em entender o lado dele também.

E assim vivemos.

As pessoas que estavam presentes hoje, eram as mesmas de sempre. Só alguns amigos chegados e a nossa família. Não precisamos mais do que isso.

Apesar que, oficialmente a cerimônia de rosas ser íntima, achamos de bom tom convidar algumas pessoas, já que todos aqui fazem parte de nosso mundo.Não haveria constrangimento.

Escuto um burburinho e olho para o topo da escada. Vejo Sabrina e Camila descendo de mãos dadas. Paulo e Arthur automaticamente saem do meu lado e vão encontrar suas esposas no final da escada.

Sabrina está redonda, o que faz de uma descida da escada um grande evento.

Resolvemos fazer tudo em nosso ninho. Aqui vivemos durante esses dois meses de recuperação e agora com Paulo sendo o meu vizinho e a sociedade com a sonsa, elas vivem juntas. Eu aprovo demais essa amizade das três, quer dizer que além de dois irmãos de alma eu tenho mais duas irmãs. Quer dizer que seremos unidos como os nossos pais.

E o que somos, se não a cópia deles? Eles sempre nos mostraram o quanto é importante a lealdade entre amigos. Eles devem sentir um verdadeiro orgulho vendo seus filhos fazendo isso.

Olho para o William, parado mais a frente com a sua família. Ele pisca o olho para mim e eu sorrio. É bom ter meu irmão por perto, apesar de não termos a mesma cumplicidade que eu compartilho com Arthur e Paulo, ele é uma parte de mim.

O projeto que estamos desenvolvendo juntos, está indo muito bem! A cada dia que passa ele se desdobra numa nova novidade e oportunidade.Já começamos a ensaiar alguns estudos sobre tetraplegia e percebemos que os chips também podem ser usados em alguns tipos de lesões na coluna. Parece que a nossa união abriu novas portas para que o projeto crescesse mais e mais.

Eu nunca tive tantos motivos para agradecer a Deus, como eu tenho ultimamente.

Camila se recuperou muito bem, depois daquela cirurgia complicada. Ela era uma guerreira! Há tempos que ela não tinha mais nenhuma crise de pânico. O que me deixava muito aliviado, pois o nosso medo é ela ter arritmias em sua recuperação.

O problema deixou algumas sequelas como a pressão alta, mas eu estava otimista que a sua doença se estabilize daqui por diante e ela ficaria comigo por muito tempo ainda. Eu me encarregarei de fazê-la feliz!

Esse era o meu mais novo propósito de vida.

Tio Armando vai para o piano, que peguei emprestado de sua sala e começa a tocar uma melodia que amo: Heat Waves.

E vejo ela surgindo no topo da escada, usando um vestido branco tomara que caia, simples. Ele vai até a altura dos joelhos, deixando seu corpo alongado. Valoriza a sua cintura e suas curvas. Seus cabelos estão mais compridos, um pouco abaixo dos ombros. E hoje eles tão lisos.

Está linda como sempre!Camila pode usar um saco de batata que ainda sim ela estaria linda.

Eu vou até ela e a espero no último degrau da escada. Ela sorri, se apoia no corrimão e desce bem devagar.

Está usando a minha coleira. Eu nunca imaginei um dia ver essa coleira novamente em seu pescoço, mas eu tenho que admitir que isso me dá um sentimento de possessividade indescritível.

Quando ela chega até mim eu beijo a sua testa e seguro a sua mão.

Nós não fizemos sexo nestes dois meses em que ela se recuperou. Mas posso dizer que a nossa cumplicidade foi desenvolvida de uma maneira que nem fez falta.

Nós precisávamos disso… Na verdade eu precisava mais que ela. Eu queria que ela soubesse que eu mudei e que essas mudanças não eram temporárias. Se for preciso ficarei o resto da minha vida tentando provar a ele que eu mudei. Eu sei que para um puto como eu dizer isso pode soar hipocrisia. Mas eu tive Camila morta em meus braços. Isso mudou algo dentro de mim que nem eu ao menos sei explicar. Eu só sei que naquele dia um novo Bernardo ressurgiu. Um cara mais consciente de suas falhas e mais decidido em sentir.

Nem que se isso fizesse as pessoas acharem que eu era um fraco... Eu não me importava. Eu não tinha problema nenhum em me pôr de quatro para Camila.

Aprendi naquele dia que a vida passa depressa demais. E quem em um segundo, você pode perder tudo que é importante.

Então é imprescindível sentir.

Amar…