Cinco anos depois
Camila Coelho
-Brindemos a vida! -Sabrina levanta a taça cheia de limonada.
-E aos nossos casamentos... -Diz Duda fazendo o mesmo.
-E os cinco aninhos de Clara que faz aniversário com os dindinhos - Sabrina fala.
E eu sorrio me juntando a elas e brindando.
-Aquele ano foi punk né? -falo.
Parece que foi ontem, mas não foi, muita coisa rolou desde então.
-E pensar que sobrevivemos ao caos. -Duda fala.
-Mas não foi só caos. Nossas vidas mudaram para melhor, encontramos o amor de nossas vidas!
Estamos sentadas nas cadeiras, debaixo de um guarda sol. Na parte da praia, que fica na frente da área gourmet da nossa ilha. Enquanto isso, os nossos meninos e Willian, jogam futebol com as crianças na beira da água.
É mais um final de semana em nossas vidas.
Dá pra acreditar?!? Passamos por tanta coisa e hoje estamos aqui, contra qualquer probabilidade.
Três submissas que encontraram em seus mestres, a felicidade!
-E isso tudo aconteceu, graças a aquelas pessoas que estão lá. -Diz Sabrina sorrindo.
Nos viramos e olhamos para a área gourmet. Lá encontramos Barreto e Fernanda numa conversa animada, em seus postos. Eles casaram a uns dois anos atrás e continuam fazendo a segurança da nossa família. É bom ter minha amiga sempre comigo. Mas Sabrina não está falando deles, e sim dos matriarcas.
Enquanto o tio Armando comanda a churrasqueira e Sr. Max prepara caipirinha, dona Eleonora, Irene e Paula estão pegando sol nas espreguiçadeiras da piscina.
Chamamos elas para virem para a praia, mas elas disseram que preferem água doce . Já o Senhor Antônio brinca com a princesa Clara na piscina. Ela está com duas bóias rosas nos bracinhos e se diverte horrores com o bāchan (avô) dela. É a mais velha e o xodó do japonês contido. Uma japonesinha com olhos verdes, como meu ogro, um dia profetizou.
Depois de Clara, Sabrina teve Antony e estava esperando seu terceiro filho. Ela está com apenas alguns meses ainda, então não sabemos o sexo. Para um japonês, Paulo foi um ótimo brasileiro. E se vocês perguntarem a eles se estavam encerrando a fábrica de bebês, eles responderiam que não.
Também eles combinavam com uma família imensa. Sabrina nasceu para ser mãe.
-Por que diz isso? -Duda pergunta.
-Porque se eles não tivessem se encontrado nesta vida e desenvolvido esta irmandade que existe hoje, nossos meninos não seriam o que são. -Fala Sabrina prestando atenção no futebol.
Arthur está como goleiro. Porque ele não é muito bom com a bola no pé.
-E nós... Devemos agradecer a quem por ter nos posto na vida desses três? -Duda pergunta a ela.
-Madame Lavoisier.
-Ela não é responsável pela união do Bê e da Camila. -Duda fala discordando.
-Sabrina tem razão. Se ela não tivesse me tirado da rua quando eu me prostituia, talvez hoje eu nem existisse mais.
Falo e as duas ficam em silêncio pensativas.
Isso não me abala mais. Hoje em dia convivo bem com o meu passado e descobri que compartilhar ele com outras pessoas só me fazem ser mais forte do que sou.
Todos os anos comemoramos nossas uniões juntos.As vezes viajamos, outras vezes só pegamos um barco, ou um helicóptero e desembarcamos na nossa ilha. Ela se tornou nosso refúgio.
E se isso é possível, depois dos casamentos nos tornamos muito mais unidos.
Não houve mais compartilhamentos. Não sentimos mais necessidade disso, como o tio Armando disse que ia acontecer. Depois que vieram os filhos, isso deixou de fazer sentido e o libido definitivamente foi posto em segundo plano. Nós crescemos, como pai e seres humanos, mas isso não significava que não existiam jogos. Existiam sim, quando nos trancamos no quarto, eu voltava a ser a submissa obediente. O mesmo acontecia com as meninas.
O que cresceu entre nós nesses cinco anos, foi definitivamente, o amor fraternal. Amava essas pessoas como se elas fossem do meu sangue. Era a minha verdadeira família!
-Eu não sei quem eu devo agradecer por estar aqui hoje, eu só sei que conhecer vocês foi a melhor coisa da minha vida!!! E espero que nossos filhos possam encontrar, um no outro, o mesmo amor que os matriarcas encontraram e que nós encontramos. -Duda fala alisando a sua barriga de seis meses. Logo Lívia estará entre nós. É isso que vocês ouviram, vem mais uma menininha aí. Esses meninos vão ter que se virar nos trinta para dar conta dessas duas.
- Eles encontrarão. -Digo sorrindo.
Olho para a praia e vejo Bernardo tentando roubar a bola de um dos gêmeos, enquanto meu pinguinho de gente está na sua cacunda, gritando e gargalhando.
Nós o encontramos a três anos atrás, num dos abrigos em que visitamos.
Eu sabia que o nosso filho apareceria assim, sem grandes programações.
Lembro como se fosse hoje.
Quando entrei no abrigo e vi aquele menininho de dois anos, sentado encolhido numa mesa comendo mingau sozinho. Seus olhos da cor do chocolate me encararam e ali eu percebi que tinha encontrado o amor da minha vida.
"Eu me abaixei na sua frente, ele pegou uma mecha do meu cabelo e disse.
-Bonito!
Eu sorri. "
Nosso filho tinha uma história de vida bem fodida, igual a minha.
Ele também tinha sido uma criança abusada pelos pais. E pior, depois ele foi vendido para um casal de americanos, mas graças a Deus a polícia o achou antes que tirasse ele do país.
Foi preciso muita terapia para que ele voltasse a ser uma criança normal e sorridente. E hoje, graças a Deus, conseguimos transpor todos os muros.
Agora ele brincava com os outros e era o melhor amigo de Clara.
Falando nela.
-Jeff, Jeff, Jeff... Vem fazer castelo de areia com Clarinha.
Ela sai gritando com a bóia nos bracinhos.
-Não posso Clarinha... Tô brincando de avião.
E ele imita um barulho de avião na corcunda do pai.
Eu sorrio.
Nunca imaginei que eu seria tão feliz na minha vida. Tão completa!
Sabrina sai correndo atrás dela para tirar suas bóias dos braços e Duda reclama do meu lado, gemendo.
-O quê foi?
-Azia amiga... Azia... Fui comer aquele bolo de cenoura , me ferrei.
Ao contrário de Sabrina, ela está imensa e vive fazendo estrapolias.
-Na próxima vez não coma um bolo inteiro.
-O quê posso fazer? Lívia ia nascer com cara de bolo de cenoura se eu não comesse. - Eu gargalho.
-Vocês querem mais limonada? Fiz agora. -Kate fala se aproximando com um jarro.
-Eu quero... -Duda estende o copo para ela.
William e Kate também sempre estão conosco na ilha... As coisas andam calmas entre todos, e o projeto que uniu os dois irmãos, está de vento e polpa. As próteses deram muito certo, e os testes com os paraplégicos começaram há alguns meses. Já o nosso ateliê, também vem rendendo bons frutos. Eu aprendi a delegar, mesmo porque nossas vidas com a nossa família, sempre estarão em primeiro lugar.
Tudo está do jeito que deve ser…
Paulo sai correndo tocando a bola no pé, com Antônio na cacunda e faz um gol daqueles, onde a bola passa entre as pernas do Arthur.
Ele reclama.
-Isso não vale…
-Não mesmo, tio. -diz um dos gêmeos com a mão na cintura.
-O quê? -Paulo ri.-Não tenho culpa que você é péssimo no futebol. - e grita.- GOOOOlllll do Antony.
-Êeeeeeee!!!
Ele bate as mãozinhas na corcunda do japonês e eu sorrio. Bochechudo gostoso!
-Cansei de perder. -Bernardo bufa, botando o Jeff no chão. Ele sai correndo em direção a Clarinha. Sabrina continua lutando com a menina para retirar a bóia.

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: A Redenção do Ogro
A história desse livro é muito massa e uma Pena que está postado a história toda...