– Bom dia. – Amélia estava a preparar a mesa para o casal.
– Bom dia Amélia.
– Hoje iremos dar um bom passeio por essa região, Lupe e eu estamos muito pálidos. – Atílio sorriu ao dizer.
– Acho que devem mesmo sair um pouco do quarto e respirar um ar puro.
Fiquei um pouco constrangida com o comentário, mas claro que ela vivendo conosco sabia bem o que tanto fazíamos dentro do quarto. Comemos e depois Atílio e eu fomos pedir a Sebastião que selasse os cavalos.
– Quer ir junto no cavalo comigo, ou prefere que selem um para você? – Atílio perguntou, mas no fundo queria que fossem juntos.
– Podemos ir juntos!
Sebastião olhou para Atílio e sorriu, foi testemunha de como aquele casal havia sofrido e estava feliz ao ver que estavam se acertando.
– Certo, Sebastião sele o trovão por favor.
– Sim senhor. – Respondeu o peão indo buscar o cavalo.
Esperamos um pouco e ele trouxe o cavalo, Atílio me ajudou a montar e veio por trás me envolvendo pela cintura.
– Aqui está ele, prontinho para passear. – Sebastião acariciou a crina do animal de cor negra e grandes olhos expressivos.
Atílio
Começamos a cavalgar pela fazenda e uns minutos depois chegamos à estrada onde Raio de sol estava enterrado, ainda doía na minha consciência ter feito isso a ele.
– Adoro esse cheiro de liberdade, a dias não sentia isso. – Guadalupe fechava os olhos ao sentir a brisa e o sol tocarem seu rosto.
Ajudei ela a descer e sabia que aquilo lhe traria más lembranças da forma como nosso casamento havia iniciado.
– Aqui princesa.
Fiz com que ela se abaixasse e tocasse a terra, ela se sentou apalpando o mato que havia recentemente nascido naquele lugar.
– Por favor não chore. – Eu pedi a ela com a voz trêmula.
– Ele ainda está vivo aqui e eu posso sentir.
– Me consola saber que pensa assim e que me perdoou de verdade pelo que fiz.
– Nesse mundo tudo volta ao seu lugar, ele agora vive, mas de outra maneira. Na terra, nas plantas que estão aqui e se alimentaram dele!
Me sentei ao lado dela, passava a mão naquela pequena vegetação como se tocasse de novo o pelo do cavalo.
– Nunca vou me perdoar pelo que fiz, se eu tivesse sido tolerante você não o teria perdido.
Ela não podia me ver chorar, mas sentia. Secou minhas lágrimas e me beijou, isso não me trouxe conformidade e acalento...me fez sentir muito menor ainda diante da grandeza de valores dela. Olhei dentro de seus olhos e deixei a verdade sair de dentro de mim, tendo aquele lugar como testemunha.
– Eu te amo!
Ela sorriu.
– De verdade? – Guadalupe percebeu o coração acelerar e sua garganta secar.
– Com todo o meu coração, nada nesse mundo me faz mais feliz do que estar aqui te olhando e te tocando como estou.
– Agora que sei dos seus sentimentos, nunca mais vou temer nada nesse mundo, Atílio!
Depois de mais alguns beijos e das flores que colocamos sobre aquela terra. Montamos de novo e fomos para o rancho, pelo caminho ao longe vimos uma pessoa a cavalo se aproximar.
– Guadalupe? – Saulo se surpreendeu ao ver o casal em plena lua de mel dando um passeio ao ar livre.
– Padrinho, como estão todos?
– Nada bem filha, Gabriel foi embora de casa. Não aceita que tenhamos deixado que você se casasse com Atílio.
– Não fiz isso contra minha vontade, meus pais só permitiram por que eu escolhi assim. – Guadalupe deixou bem claro que não havia feito nada contra sua vontade.
– Ele só precisa de um tempo para aceitar o fato, espero que volte para casa...de verdade. – Atílio segurou forte as rédeas.
– Ele vai voltar para casa, tenho fé que sim.
– Estão indo para o rancho? – Saulo perguntou olhando para trás.
– Sim padrinho, vamos ver os meus pais.
– Certo, então até mais ver. – Saulo soltou as rédeas e saiu cavalgando.
Senti que de certa forma Saulo me culpava pelo sumiço do filho.
– Até mais ver. – Atílio se despediu dele educadamente.
Seguimos nosso caminho, passando pelas árvores lindas daquele lugar.
– Gabriel escolheu sofrer por mim sem ter razões para isso.
– Não o julgo por estar revoltado, se eu tivesse perdido um anjo como você eu sofreria talvez mais do que ele. – Atílio beijou-lhe o pescoço e se abraçaram mais sobre o cavalo.
Chegamos ao rancho, seu Leonel estava alimentando os porcos. Desci e a ajudei.
– Seu pai está aqui fora!
– Papai! – Disse ela a sorrir.
Ele veio correndo para nos receber e os dois se abraçaram bem forte, até parecia que eu a tinha levado por anos.
– Senti sua falta filha!
– Eu também senti saudades, e a mamãe?
– Está lá dentro, vamos entrar. – Leonel saiu do chiqueiro, nem tinha se dado conta de como estava sujo.
Entramos, dona Ester ficou eufórica ao ver a filha, as duas se abraçaram e nos sentamos enquanto ela nos servia um chá. Eu sentia que ela queria perguntar algo a filha, mas não na minha presença.
– Posso falar com Lupe um instante, enquanto tomam o chá? – Ester queria perguntar muitas coisas para a filha, porém longe dos homens presentes.
– Mas é claro, claro que sim. – Atílio concorda e Guadalupe estica a mão esperando pela mãe.
– Vamos mamãe.
Eu sabia que falariam sobre a lua de mel e essas coisas de mulheres sorri tímido olhando para o meu velho sogro.
Mamãe e eu fomos para o meu antigo quarto, nos sentamos na cama frente a frente.
– Me fale, fale que esse homem tem te tratado bem. Não tenho dormido e nem comido direito pensando em você nas garras dele. – Ester desabafou e se a filha pudesse ver, se daria conta da preocupação que estava estampada no rosto da mãe em forma de grandes olheiras.
– Atílio é sim um homem orgulhoso, mas ele me ama muito. Ama e mesmo que não tivesse dito a mim eu saberia, pelo jeito que me trata!
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Além do horizonte