Além do horizonte romance Capítulo 24

Dia seguinte

Guadalupe se levantou mais cedo que Atílio e foi a preparar o desjejum, pois agora a casa estava cheia.

– Vou buscar alguns ovos no galinheiro. – Amélia diz pegando uma cesta.

A jovem ficou a esperar na cozinha mexendo um tacho de mingau de milho.

– Bom dia! – Gabriel diz sorrindo para Guadalupe.

–Bom dia, dormiu bem?

–Sim, agora que estou de volta. Quero te pedir desculpas pelo que fiz no dia do seu casamento, posso imaginar o que esse monstro possa ter feito a você por minha causa.

– Atílio não é um monstro Gabriel, ele me perdoou pelo que você fez e estamos felizes juntos.

– Não pode amar uma pessoa tão orgulhosa, um verdadeiro patife como ele é!

Jamile se levantou e não viu Gabriel ao seu lado, decidiu descer as escadas e procurar pelo marido.

– Gabriel? – Jamile perguntou e acabou ouvindo boa parte da conversa dos dois na cozinha...

– Eu te amo Guadalupe e não consigo admitir que esteja com esse homem por sua própria vontade. Ele não vai agir contra seus pais se formos embora todos daqui!

– Pois eu estou apaixonada e feliz e trate de entender e se conformar com isso Gabriel, não nos cause problemas e sobretudo a filha dele.

– Bom dia! – Jamile interropeu os dois.

Gabriel se afastou um pouco mais e logo Amélia voltou com os ovos interrompendo o flagra, Atílio despertou e parecia sequer ter descansado. A carga emocional dos últimos dias estava lhe tirando a paz, fez sua higiene pessoal e um tempo depois se juntou a Celina, Leandro, Jamile e Gabriel na mesa de jantar.

Guadalupe e Amélia ainda terminavam de colocar os bolos, omeletes e mingau de milho sobre a mesa. Jamile e Celina estavam surpresas com a habilidade da anfitriã, que mesmo cega tinha muito mais dotes como dona de casa que as duas juntas.

– Venha princesa, deixe que Amélia termine de nos servir! – Atílio diz segurando a mão da esposa.

– Será que Josué recebeu seu telegrama Atílio? – Leandro pergunta.

– Por certo que sim, ele nunca falha a um pedido meu e já deve estar chegando.

Esperavam ansiosos pelo advogado que os ajudaria a realizar os trâmites legais para a compra da propriedade que haviam escolhido no dia anterior.

– Vai comigo falar com os donos da casa, minha irmã? – Leandro perguntou para Celina.

– Não, vá você. Prefiro ficar por aqui mesmo!

Ela já tinha feito muitos planos para aquela manhã.

– Jamile, gostaria de dar um passeio comigo mais tarde? – Guadalupe convida a enteada, ela não parecia ter gostado do convite.

A jovem ficou em silêncio, não havia gostado de saber que seu marido amava Guadalupe e só estava ali por ela. Ainda mais depois de lhe ouvir propor uma fuga juntos.

– Ela te fez uma pergunta, não vai responder? – Gabriel insiste.

– Sim, vamos dar um passeio Guadalupe.

Atílio era o silêncio em pessoa, tomaram o café da manhã e logo o advogado chegou e saiu junto com Leandro. Pouco tempo depois, Guadalupe subiu as escadas de braço dado com Atílio.

– Vou com Sebastião á cavalo até a fazenda dos Antunes, ele me disse que alguns animais nossos atravessaram para lá e o maldito atirou neles! – Atílio estava nervoso, aquela afronta havia deixado ele nervoso e queria tirar satisfação o mais rápido possível.

– Não quero que brigue, converse e entrem em um acordo. – Guadalupe passou a mão no antebraço do marido enquanto disse.

– O que menos quero na vida são mais problemas, fique despreocupada. Estou indo apenas para conversarmos!

Ele pegou o chapéu e foi até o estábulo onde Sebastião já o esperava com o cavalo selado e pronto para irem.

– Sebastião, pode selar um cavalo para mim também? – Gabriel pediu.

– Sim senhor.

– Muito cuidado para não confundir as coisas e se achar dono de tudo o que é meu. – Atílio não gostou nada de ver o rival e agora genro dando ordens em sua propriedade.

– O que é seu é de sua filha também!

Atílio franziu o cenho, Gabriel estava testando sua paciência e o limite dela estava bem próximo.

– Aqui está. – Sebastião lhe entrega as rédeas do cavalo.

Ele pegou as rédeas e montou saindo dali, Atílio e Sebastião fizeram a mesma coisa. Cavalgaram por alguns minutos e viram os corpos de seis vacas que haviam sido baleadas pelo vizinho de fazenda.

– Que canalha, o que custava tocar o gado de volta ou nos avisar?

– Os Antunes são assim patrão Atílio, sempre resolvem seus conflitos com as balas e do mesmo jeito era o velho miserável do pai dele. Que o diabo o tenha! – Sebastião se lembrava bem de como era aquela família.

Os dois chegaram e logo um dos capangas do fazendeiro os abordou, passando a mão na arma no coldre do lado direito do cós de sua calça.

– Pode chamar seu patrão um momento? Ele e eu precisamos ter uma conversa de homem para homem. – Atílio pediu educadamente.

– Vou ver se por acaso ele tem tempo para falar com o senhor. – Adalberto cuspiu o fumo que mastigava e entrou na casa, enquanto os dois desceram de seus cavalos e alguns minutos depois ele voltou.

– Infelizmente ele não poderá atendê-los no momento, está muito ocupado agora.

– Diga a ele que não saio daqui até que ele venha falar comigo.

– Aconselho os dois a recuarem, meu patrão não é de brincadeira e é melhor que o senhor volte para casa agora mesmo. – Adalberto avisou com fúria no olhar.

– Bom, se ele tem medo de prosear comigo. Diga que quando sua coragem e honra em usar calças retornar, estarei esperando por ele em minhas terras! – Atílio deixou aquele rípido recado e deu as costas.

Sebastião arregalou os olhos, seu patrão havia se exaltado no uso das palavras e aquilo poderia render uma grande contenda. Atílio montou em seu cavalo e ele fez o mesmo, os dois saíram sob o olhar furioso daquele peão.

– Patrãozinho, acho que o senhor declarou uma guerra com aquele homem.

– Não tenho medo, o que custava vir conversar comigo feito homem? Quero que fique por perto para enterrar as vacas, voltarei e irei mandar Josué e Paulo para te ajudarem.

– Sim, senhor.

Guadalupe e Jamile passeavam por perto da fazenda, as duas eram tão diferentes uma da outra e a cada dia isso se tornava mais evidente.

– O rancho dos meus pais não fica muito longe daqui, e quem sabe um dia eu possa te levar lá para conhecer também.

– Como você conheceu meu pai, Guadalupe?

– Ele veio viver aqui com Amélia a uns meses atrás, disse que estava com um problema não muito grave nos pulmões e precisava de ar puro. Me viu cavalgando por essa região e então Atílio passou a me cortejar. – Guadalupe diz se lembrando de tudo.

– Veio da cidade para se casar com uma moça daqui.

– Acha estranho que ele tenha me escolhido, não é Jamile?

– Eu não disse isso.

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