– Perfumado e tão alinhado assim tão cedo? Já sei, vai até a casa de Lupe. – Amélia o vê arrumando os punhos da camisa e bem vaidoso para sair.
– Sim, preciso adiantar as coisas entre nós. Já estou aqui a muito tempo aqui e ando subindo pelas paredes, nunca fiquei tanto tempo sem...
– Um rabo de saia. – Completou Amélia com um sorriso no rosto marcado pelo tempo.
– Exatamente, essa menina virou uma obsessão tão grande que nem sequer consigo olhar ao meu redor. Eu quero ela e vou ter!
– Guadalupe não é mulher para você.
– Como não é para mim? Eu já te disse, no fim das contas cega ou não ela é uma mulher como outra e fácil de enganar.
Como combinado eu me arrumei e fui até a casa dela, eu precisava convencer Guadalupe a viver comigo e não pouparia conversa mole para isso.
Resolvi ir a cavalo dando uma olhada ao redor e pensando nela, ainda bem cedo bati na porta daquela humilde casa.
– Atílio? – Perguntou Ester ao abrir a porta e por que o esperasse, achou que não viria assim tão cedo.
– Perdoe-me por vir assim tão cedo, mas vim conversar um instante com Guadalupe. É claro se sua filha quiser me receber!
– Minha filha não tem nada para tratar com você. – Leonel não queria admitir aquele encontro.
Aquele estúpido do Leonel não podia ter quebrado nosso acordo, mas no fim pouco importava se havia contado a ela a verdadeira causa de sua prisão repentina.
Quem sabe isso mostrasse a ela do que eu sou capaz para conseguir o que quero.
– Papai, eu não sou nenhuma incapaz e quantas vezes preciso lembrá-lo? – Guadalupe estava envergonhada por ter que desafiar o pai na frente daquele homem, mas naquele momento foi necessário.
– Mas esse homem... – Leonel ainda resmungava.
– Mamãe, Atílio e eu caminharemos um pouco aqui pelo rancho.
– Está bem filha, mas não se afastem muito de casa.
– Vamos Atílio? – Guadalupe saiu caminhando com total segurança na frente dele.
Tão independente e decidida, sempre me deixava impressionado e com aquela atitude parecia estar caindo bem rápido em meus galanteios.
Caminhamos um pouco até nos aproximarmos de um velho balanço de madeira.
– Gabriel e eu costumávamos vir aqui, até que um dia ele me derrubou do balanço e depois disso nunca mais quis brincar por medo de me ferir de novo.
– Vem sente-se. – Pediu ele.
Guiei ela delicadamente até o balanço de madeira em uma enorme mangueira, mas Guadalupe relutou.
– Não confia em mim como confia nele, por que?
– Eu confio em você, mas é que Gabriel e eu fomos criados juntos. Já o senhor (pausa) chegou agora e pouco sabemos a seu respeito.
– Então sente-se no balanço e vou falar um pouco mais sobre mim.
Guadalupe respirou fundo, com muito medo ela se sentou e segurou nos dois lados da corda e eu toquei suas mãos aquecendo-as devagar.
– Agora vou te balançar lentamente, sou um homem da cidade como todos sabem e sempre sonhei em viver em um lugar assim. Tranquilo e ter muitos filhos. – Ele mesmo se surpreendia com a lábia que tinha.
Minha capacidade de mentir era enorme e talvez nem fosse de tudo mentira, já que um dia todos temos que ter filhos.
Atílio começou a me balançar devagar, eu sentia o vento tocar meu rosto e aos poucos meu medo foi indo embora conforme ele falava sobre suas vontades e sonhos.
– Viu? Eu só quero que confie em mim e de todas as formas que puder. – Atílio falou rente ao seu ouvido e o cheiro dela o fazia sonhar acordado.
– Eu confio.
– Se lembra do que falamos na igreja? A solidão tem me tirado o sono, tanto que vim parar aqui assim tão cedo para te ver e poder conversar um pouco.
– Sempre pode vir aqui me ver e conversar comigo, podemos ser amigos e até acho que já somos.
– Se você fosse comigo para casa, se confiasse de verdade Lupe...
– Por favor não fale mais nisso! Como eu poderia viver com um homem com quem não tenho qualquer compromisso? – Guadalupe mais uma vez se impôs.
– Você recusou todos os pedidos de casamento que lhe fizeram! Até mesmo de Gabriel em quem confia tanto e desde sempre!
– Mas isso não te dá o direito de achar que pode se amasiar comigo, Deus não se agradaria disso. Sei que iria me tratar como uma amiga, mas e as pessoas o que pensariam de nós dois sob o mesmo teto?
– Claro que eu te respeitaria como uma irmã, pouco me importa o resto do mundo, se eu tiver você ao meu lado...
– Não insista mais!
Parei de balançar Lupe e fiquei em sua frente ajoelhado e segurando as cordas daquele balanço.
– E se eu te pedir para se casar comigo? Ser minha esposa, isso mudaria tudo! – Minha respiração ofegante fazia agitar seus cabelos negros.
Ajoelhado aos pés de uma camponesa, quem diria que um dia eu chegaria a tanto por um desejo?
– Não posso tomar uma decisão assim, sem pensar.
Essa garota jogava comigo, como ela podia pedir tempo para pensar em ser minha mulher? Todos sabem que sou o melhor partido dessa região, ainda mais para uma donzela como ela que apesar de linda era cega.
– Dois dias é que o posso esperar. – Disse ele se levantando.
Ajudei ela se levantar do balanço, caminhamos de volta para casa havia uma pedra e deixei que ela tropeçasse.
A agarrei com força contra meu corpo, apertando-a contra mim.
Ele tocou meu seio, fiquei assustada ao mesmo tempo que estar nos braços dele me dava uma sensação diferente e boa assim como eu senti antes.
– Não me toque assim! Você é muito atrevido! – Disse ela, mas no fundo talvez tivesse apreciado.
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