Ester penteava os cabelos longos e negros da filha, naquela manhã Leonel havia saído bem mais cedo do que de costume para ir até a cidade buscar insumos para o jantar de noivado que dariam naquela mesma noite...queria dinheiro também, para pelo menos dar a filha um bom vestido de noiva.
– Mamãe, como foi quando se casou com o papai? – Indagou Guadalupe.
– Nós mal nos conhecíamos, seu avô havia acertado nosso casamento e então na véspera da cerimônia eu o vi. – Ester sorria ao se lembrar do passado.
– Só viu meu pai um dia antes?
– Sim, fiquei muito tímida e ele também, mas eu o achei um belo rapaz, forte e de um sorriso muito encantador.
– Então de certa forma a senhora já o amava.
– Não e temia muito como seria a vida ao lado dele, isso que está sentindo é natural e ainda mais por que Atílio é um homem muito difícil de lidar.
Ela foi para a frente da filha e segurou suas mãos.
– Acho que não é bem isso o que quer me perguntar, estou certa filha?
Guadalupe abaixou a cabeça e suspirou.
– O que vai acontecer mamãe? Sempre ouço as meninas dizerem que temem a primeira vez...primeira vez do que?
– Eu devia ter falado sobre isso com você desde sempre, mas quis te proteger demais e elas falavam sobre a primeira noite de amor de um casal. – Ester não sabia se deveria dizer exatamente o que a filha deveria esperar desse momento.
– Mas amor não é um sentimento que se constrói ao longo do casamento e da convivência?
– Sim, mas quando um homem e uma mulher se casam, eles dormem juntos e unem seus corpos se tornando um só. Esse período inicial de casamento, se chama lua de mel.
– E como isso acontece?
– Deus, como posso te explicar isso? – Ester se levantou e deu algumas voltas pelo quarto.
– Eu só queria saber, como devo me comportar nessa tal lua de mel?
– Apenas seja assim, doce e feminina como é....Atílio irá tocar o seu corpo e ficarão sem roupas.
– Isso parece muito estranho.
– Vai aprender a gostar, mas quer saber de uma coisa? acho que será melhor que descubra no momento certo e não fique pensando nisso. Está bem?
– Sim senhora. – Guadalupe confirma com um sorriso.
Ester finalizou um penteado na filha e foi para a cozinha.
– Pobre da minha filha, aquele homem parece ser tão frio e prepotente. Que ao menos ele saiba ser carinhoso com ela nesse momento.
Ela ouve baterem na porta.
– Quem será assim tão cedo?
– Bom dia dona Ester, Guadalupe está? – Ele retira chapéu e assente com a cabeça.
– Sim, bom dia Sebastião.
– É que eu venho a pedido do meu patrão, ele mandou alguns presentes para a senhorita e seus pais.
– Presentes? – Perguntou Guadalupe ao ouvir parte do assunto.
– Sim...são seis vacas leiteiras, um casal de cavalos, dezoito porcos e algumas galinhas que eu nem pude contar.
– Diga que agradecemos, mas não poderemos aceitar! – Ester se enfurece.
– Sim, iremos aceitar mamãe.
– Mas filha?
– Obrigada Sebastião, diga a ele que somos muito gratos.
– E ele disse que ainda essa semana, os outros peões e eu iremos arrumar as cercas e os estábulos aqui do rancho para que tudo fique mais seguro.
– Está bem.
Depois que ele e os outros homens foram embora...
– Filha não devia ter aceito esses animais.
– Ele vai ser meu marido, devia estar feliz por ele se preocupar com a senhora e com o papai também.
– Me perdoe, mas é que eu ainda tinha esperança de que no último instante você desistisse dessa loucura.
– A senhora e o papai ficarão bem, agora eu posso ficar mais tranquila. Por que não vai faltar nada a vocês.
Tantos sacrifícios que minha filha fazia para ver a mim e ao pai dela bem, doía na alma vê-la casando sem amor e sem esperanças de ser feliz.
Na casa de Atílio...
– Quero que amanhã vá até a cidade, compre roupa de cama e quero lençóis de cetim os melhores que encontrar e não se preocupe com preço. – Solicita Atílio ao olhar para a própria cama.
– Tudo isso para agradar a mulher a quem você diz não amar? – Amélia ironiza.
– Bom se ela vai ser minha mulher, ao menos que enquanto estiver aqui seja bem tratada.
– Sei e o que mais?
– Essas coisas de mulher, roupas íntimas, perfumes ah e no dia de nosso casamento quero que encha essa casa de flores. Ela não pode ver, mas vai sentir o perfume de cada uma delas.
– Certo! – Confirma a governanta.
Sebastião chega.
– Com licença patrãozinho e dona Amélia.
– Já entregou o que pedi?
– Sim, dona Ester quis devolver tudo, mas Guadalupe não permitiu e agradeceu de todo o coração. – Diz Sebastião do lado de fora do quarto.
– Obrigado e pode voltar ao seu trabalho. – Atílio agradece enquanto Amélia entra para arrumar o quarto.
– Com licença. – Sebastião se retira.
– Confesso que me surpreende essa atitude dela, achei que também recusaria. Isso é um bom sinal, mostra obediência e submissão! – Atílio se alegra, Guadalupe estava cedendo a ele.
– Pois para mim parece o contrário. – Retrucou Amélia, dobrando a roupa de cama.
– Como o contrário?
– Em breve você irá entender filho.
Amélia saiu sorrindo e pensativa, Atílio ficou sem entender absolutamente nada.
Pobre menino Atílio, acha que tem as melhores cartas, mas esse jogo já virou a muito tempo. Está apaixonado por ela e sequer percebeu!
Anoitece.
Guadalupe e Ester haviam recebido a ajuda de Luíza para preparar o jantar daquela noite.
– Me perdoe Lupe, mas meu irmão Gabriel não virá. – Diz Luíza trocando o forro da mesa.
– Eu já esperava por isso.
– Com o tempo eu sei que ele vai se conformar com a situação!
– Sim...o tempo cura todas as feridas. – Afirma Ester, cozinhando.
Elas prepararam um verdadeiro banquete, era uma comida simples de fazenda, mas de encher os olhos. Guadalupe se arrumou com o melhor vestido que tinha, Leonel viu todos aqueles animais. Ficou irritado e quis tomar uma atitude.
– Esse homem acha que pode ganhar tudo com dinheiro! – Resmungou.
– Ele nos deu de presente pai, devemos agradecer ao invés de sermos orgulhosos.
– Você não vê o quanto ele nos humilha com essa atitude Guadalupe?
A porta estava aberta e os convidados foram entrando...
– Nunca foi minha intenção humilha-los! – Atílio os surpreende naquela conversa.
– Atílio? – Ester pergunta em meio ao susto.
– Entre por favor. – Guadalupe pede.
Atílio e Amélia entram e aquele clima constrangedor se instalou de vez e Ester precisava fazer alguma coisa.
– Filha leve seu noivo até a sala de jantar. – Pediu Ester,
– Sim, vamos?
Atílio foi até ela e pegou sua mão colocando-a em seu antebraço, Guadalupe foi levando-os até lá.
– Você está muito linda! – Diz ele ao conferir sua amada.
– Sentem-se e fiquem à vontade, vou ajudar mamãe a arrumar as outras coisas.
– Quero que sente aqui ao meu lado, hoje é nosso noivado e você não tem por que se cansar. – Atílio pega na mão dela e a impede de sair.
– Seu noivo está certo filha, sente-se e eu vou ajudar na cozinha. – Amélia saiu deixando os dois a sós.
Guadalupe respirou fundo e se sentou ao lado dele.
– Boa noite! – Chega o padre quebrando a solidão do jovem casal.
– Boa noite padre, sua benção. – Pede Guadalupe.
– Que Deus os abençoe, então finalmente Atílio conseguiu a moça mais valiosa de toda nossa vila?
– Finalmente padre. – Responde envaidecido pegando a mão dela e beijando.
O padre notou que a empolgação vinha apenas dele, Guadalupe estava séria e pensativa.
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