Ester abriu a porta e despertou a filha.
– Bom dia princesa, tem que levantar e se arrumar. Daqui a pouco seu noivo vem nos buscar para irmos à igreja, acho que vocês têm muito o que confessar antes do sim.
– Sim senhora.
Ester percebeu a falta de ânimo da filha e se sentou na cama da filha lhe tocando as duas mãos.
– Coloque um sorriso nesse rosto tão lindo, por favor não desista de ser feliz.
– Prometo que eu vou tentar mudar de expressão.
Guadalupe se desembrulhou levantou, tomou um banho enquanto a mãe escolhia um belo vestido e depois fez um penteado deixando sua nuca a mostra.
– A senhora acredita nessas coisas de destino? – Guadalupe pergunta para a mãe enquanto ela fechava os botões de seu vestido.
– Acredito que tudo o que acontece em nossas vidas é com a permissão de Deus.
– Vou orar muito hoje, se Atílio não for meu destino que ele se canse bem rápido e me deixe voltar aqui para casa e para cuidar de vocês.
– Por que não ora pedindo a Deus para que se amem e sejam felizes juntos? Uhm? Não gostaria de me dar netos?
Ela sorriu timidamente, mas desfez a alegria em poucos segundos.
– Tenho medo do futuro, nunca fui fraca e a senhora sabe bem disso.
– É natural ter esse receio, mas vai passar. – Ester deu uma conferida na filha e ela estava pronta para sair.
Minha mãe não me queria triste e nem sem esperanças, talvez ela estivesse certa e eu sendo muito exagerada em temer e rejeitar o meu destino sem tentar ao menos dar uma chance a ele.
Amélia se encontrou com Atílio descendo as escadas e dobrando os punhos da camisa.
– Tão elegante! – Amélia o elogia a sorrir.
– Vou buscar Guadalupe para irmos até a igreja.
– Pretende se confessar de verdade ou apenas vai para ficar bem com o padre?
– Não devo nada ao padre e pelo contrário, com todos os donativos que dou a ele todos os meses, ele é que andaria me devendo até as botas! Vou por que pretendia ficar a sós com ela, mas resolveu levar a mãe junto mandando meus planos por água abaixo.
– Lupe é inteligente, desta vez encontrou uma mulher bem diferente das tantas tolas que desonrou na cidade.
– Esqueça delas e Guadalupe no fim é só mais uma.
Atílio pegou as chaves do automóvel e saiu sorridente.
Ainda no rancho.
– Falta apenas um detalhe.
Ester passou gotas perfumadas na filha e as duas foram tomar café da manhã antes de irem.
– Está muito bonita filha. – Leonel sorri e dá uma volta ao redor de Guadalupe.
– Obrigada papai.
Eles comeram juntos e um tempo depois, ouviram bater na porta.
– Bom dia. – Atílio os cumprimenta levantando o chapéu da cabeça.
– Bom dia, já estamos prontas. Venha filha!
Ela estava linda, mais mulher com os cabelos presos. Porém, eu sentia sua tristeza aumentar a cada dia que nossa união se aproximava. Parecia que o brilho que iluminava seu olhar ia embora conforme eu entrava em sua vida.
Eu queria poder lhe cortejar e tentar toca-la, mas com a mãe dela junto era impossível. Chegamos na igreja, o padre já nos esperava ansioso por ouvir nossos pecados.
– Posso me confessar primeiro? – Guadalupe pediu.
– Mas é claro que sim! – Atílio concordou.
– Vamos então filha? – Guadalupe consentiu ao sacerdote.
O padre e ela entraram no confessionário enquanto Ester e eu ficamos esperando sentados na sacristia.
– Sei que não nos conhecemos quase nada Atílio, mas quero que saiba que iremos te entregar o que temos de mais precioso nesse mundo...por favor, por tudo o que mais ama não faça minha filha sofrer! – Ester decidiu ser franca com ele.
– Eu nunca havia pensado em me unir a ninguém antes senhora, mas vou me casar com sua filha.
– Por capricho ou por amor?
Atílio se levantou e deu alguns passos, não sabia o que responder e pela primeira vez na vida tinha dúvidas sobre os reais sentimentos.
– Você não sabe o que sente? – Ester perguntou bem seriamente.
– Sei que vamos nos unir e de verdade, acho que posso ser feliz com ela.
– E quanto a ela, você poderá fazer ela feliz?
– Vou tentar dona Ester, vou tentar.
Enquanto isso no confessionário...
– Padre me perdoe por que eu pequei!
– Em nome do pai, do filho e do espírito santo – O padre fez o sinal da cruz – Comece filha, tire de seu coração todas as angústias.
– Rejeitei todos os amores que me ofereceram nessa vida padre, para agora me entregar a um homem por medo!
– Seja mais clara, quer dizer que Atílio te fez alguma ameaça para que aceitasse se casar com ele?
O padre estava surpreso com aquela possibilidade.
– Meu pai não foi preso por uma dívida de jogo e sim, por que Atílio orquestrou tudo para o mandar para a cadeia.
– Deus! Quem disse isso a você?
– Meus pais quiseram esconder tudo de mim, mas se esqueceram que eu tenho uma audição excelente. E isso não é tudo ¬– Guadalupe chorou desconsolada – No dia em que ele deu o jantar para nós crismandas em sua casa, o ouvi dizer que queria se deitar comigo e que faria tudo para conseguir isso.
– Mas você mudou o rumo das intenções dele, por que vão se casar e você terá direitos como esposa dele!
– Casamentos acabam padre, é isso que ele quer desde o início de tudo...vai me usar por um tempo e descartar como se eu nunca tivesse existido.
– Não posso acreditar que ele seja capaz disso, e quanto a todos os presentes que te dá e o jeito tão amável de te olhar para você? – O padre queria convencer a ela e a si mesmo de que não estava contribuindo para que uma injustiça fosse concretizada, em forma de casamento.
– Eu só quero que o senhor me diga, diga que não estou me vendendo! Para que eu mesma me convença disso e deixe de sofrer.
– Eu jamais pensei isso filha, não está se vendendo!
– Mas é o que eu sinto por estar indo viver com ele em troca da paz e do sossego dos meus pais, que tanto fizeram por mim nessa vida. Dentro do meu coração há uma angústia enorme.
– Me recusarei a celebrar esta união! – O padre força a voz.
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