Raven
Ela me pergunta dando tapinhas nas minhas mãos e eu simplesmente me solto do toque dela de forma um pouco grosseira e me recosto no encosto da poltrona.
Não sei se ela está tentando me animar ou afundar de vez minha moral.
“Falou a Santa Víbor4 das Serpentes”, murmura Sena na minha mente, que nunca engoliu essa mulher.
— Se Cedrick nunca aceitou outra fêmea, por que faria isso agora que já me tem como Luna? — questiono.
— Porque, como você percebeu, há problemas sérios de divisão dentro da matilha. Uma parte dos guerreiros é leal a Ronan, e grande parte da matilha está irritada com Cedrick por ter escolhido você. Desta vez, meu irmão precisa estabilizar sua posição.
— Então, o que exatamente está tentando me dizer, Lady Amalia? — me levanto de repente, cansada de tanta diplomacia e palavras bonitas.
— A gente sempre fala a mesma coisa toda vez que se vê. Que eu não sou boa o suficiente pro Alfa, isso eu já sei.
— O que a senhora quer que eu diga? Que vou ceder meu lugar pra outra loba? Talvez pra uma daquelas que vêm de outra matilha ou pra alguma que lhe agrade mais?
— Calma, Raven, não quis te ofender. É justamente esse seu jeito que você precisa controlar, não pode ser tão violenta, cof, cof — ela começa a tossir, mas dessa vez, não vou me deixar enganar pelo teatrinho de fragilidade.
— Como quer que eu reaja, se a única coisa que ouço é o quanto sou incompetente e como, por minha culpa, Cedrick vai perder o posto de Alfa? — a encaro de frente, mas a tosse dela só piora.
— Lady Amalia, por favor, se acalme! — a chefe das criadas entra de repente e começa a dar tapinhas nas costas dela e a encher um copo de água pra entregar.
— Luna, por favor, Lady Amalia não pode se alterar. Você deveria ser mais compreensiva com o estado de saúde dela.
Ela me olha com reprovação e eu aperto os dentes, quase me mordendo a língua pra não continuar respondendo. Qualquer um pensaria que eu maltratei Amalia.
— Não foi nada, não foi nada, fui eu, estou muito fraca. A Raven não fez nada — ela finalmente se recupera e fala com a voz rouca e trêmula da tosse.
— Raven, mais tarde vamos sair pra ver os preparativos do Festival. Me desculpa mais uma vez se te ofendi. Só queria te alertar, mas fica tranquila, vai dar tudo certo, vamos organizar tudo bem bonito e ninguém vai ter o que criticar.
Assinto, viro de costas e vou embora, ignorando os olhares atravessados das criadas presentes e até dos guardas.
Todos acham que eu deveria estar agradecida à Amalia, mas a cada dia tenho mais certeza de que todas as palavras doces dela carregam facas escondidas que estraçalham a minha autoestima.
Já nem sei como classificá-la, mas cada vez gosto menos dessas atitudes nobres que parecem falsas.
Eu também sou poderosa. Minha linhagem e sangue são até melhores que os de Cedrick. Tenho meu valor, e é por isso que estou ao lado dele.
Sei que ninguém sabe disso, mas também ninguém se dá ao trabalho de me dar sequer uma chance.

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