O carro em movimento fez com que Michael olhasse de soslaio para a mulher sentada ao seu lado no banco traseiro da limusine, enquanto ela segurava a sua mão com força, sem perceber que ele tentava se afastar cada vez mais dela. Lis segurava com toda a sua força a mão de Michael, enquanto mantinha a sua cabeça baixa. Seus cabelos escondiam a sua face chorosa e apavorada.
— Já pode soltar a minha mão – Michael murmurou no instante em que o carro fez uma curva fazendo-a aproximar o seu corpo.
— Ele ficará bem? – Ignorou o modo grosseiro do príncipe continuando agarrada a ele. – Ele... Me protegeu e todo aquele sangue.
Michael tentou ignorar com todas as suas forças a tristeza e o medo na voz de Lis, contudo se viu lembrando de si mesmo. Recordou-se de todo o sangue que havia sido derramado, dos gritos e de seu próprio desespero. Mesmo sabendo que poderia se arrepender, puxou Lis em direção ao seu corpo, forçando-a a sentar em seu colo. Ergueu o seu rosto, retirando o cabelo que caia em sua face.
— Isso vai passar. Esse medo que está sentindo vai acabar passando. – Falou a encarando – E quando passar, restará sonhos que irá te acordar no meio da noite, e quando isso acontecer, me procure.
Lis o encarou confusa exibindo olhos avermelhados assim como o nariz.
— O que aconteceu foi culpa da minha família então devo me responsabilizar por isso. – E sem dizer nada, a abraçou, acariciando as suas costas com gentileza ao mesmo tempo em que Lis chorava em seu ombro. – O que aconteceu?
— Estávamos saindo da universidade – Começou após minutos em silêncio – Quando disse que queria beber algo, mas acho que estávamos sendo seguidos. Não percebi nada. Sebastian tentou me empurrar para um lugar seguro quando foi atingido. Eu não sabia o que fazer – Confessou ainda com o rosto escondido no ombro do príncipe – Foi assustador.
— Eu sei – Murmurou em resposta ao manter a sua face inexpressiva. Ele tentava controlar a ânsia de vomito que se formara, do tremor que começava a sentir em sua mão e da sensação que sempre lhe afligia quando segurava uma arma. – Um dia tudo vai acabar – Mentiu ao fechar os olhos. Contudo, antes que Lis pudesse lhe questionar, o carro parou em frente ao hospital. – Será examinada e eu verei como Sebastian está.
Ela estava prestes a aceitar quando se viu segurando no pescoço de Michael o mais forte que conseguiu.
— Fique comigo, por favor. – O modo como Lis implorou fez com que Michael se visse concordando em silêncio ao ajuda-la a sair de seu colo, para em seguida sair do carro a esperando no lado de fora. Olhou para o seu próprio estado ficando surpreso por não ter nenhum pingo de sangue em sua roupa, enquanto Lis estava repleta do sangue de Sebastian. Segurou em sua mão ao guia-la pelo subsolo do hospital seguindo os seguranças de sua empresa, os quais já haviam liberado um andar somente para eles e Sebastian. Em nenhum momento Lis o soltou e Michael nada falou.
Lis se viu tremendo no instante em que Michael soltou a sua mão para que ela pudesse entrar no consultório médico. E mesmo o médico lhe dizendo o quão normal era sentir-se daquela forma, ela negou ao balançar a cabeça. Durante o seu exame, ela se negou a olhar para os olhos do médico com medo. O modo profissional dele não fez teme-los menos. A jovem estava traumatizada.
— Vamos ver Sebastian – Michael disse a Lis assim que o médico abriu a porta do consultório, mas parou no instante que o médico o chamou. – O que houve? – Indagou ao fechar a porta atrás de si, mantendo Lis do lado de fora.
— Como deve imaginar, ela está traumatizada. Está nervosa exageradamente, por isso é aconselhável deixa-la aqui por esta noite. Iremos lhe aplicar um calmante.
— Não – Se negou sério ao cruzar os braços em frente ao corpo – Basta entregar a receita a um dos seguranças. Ela voltará para casa comigo – Sentenciou ao aumentar ligeiramente o seu tom de voz.
—Como quiser, mas não aconselho. Ela está histérica.
— Conheço histeria – Deu de ombros – Preciso do remédio e saber se ela tem algum ferimento. – Diante da negação do médico, lhe deu as costas sem hesitar, abrindo a porta, encontrando-a parada no mesmo lugar. – Vamos – Estendeu a sua mão, tentando não sorrir ao vê-la segurar com rapidez. Caminharam pelo corredor vazio sempre acompanhado dos seguranças da empresa particular de Michael até chegarem em frente a sala de operação. – Estão tirando a bala, ele ficará bem. – O modo frio e concentrado com que Michael havia lhe dito não a fez se sentir menos culpada ou preocupada pelo estado de Sebastian. Ela se culpava.
— Tudo isso foi minha culpa – Murmurou completamente absorta pela sua própria dor.
— Não se preocupe, isso teria acontecido mesmo se não estivesse com ele. Sebastian é conhecido como o segurança de confiança da família real. É natural irem atrás dele.
—Mesmo assim, ele se feriu ao tentar me proteger. – Fungou mesmo tendo a impressão de que Michael havia apertado a sua mão, como se estivesse lhe dando apoio. – Já passou por algo assim? – Se viu perguntando ao encará-lo.
— De certa forma – Revelou antes de dar de ombros. –É melhor irmos para casa, precisa trocar de roupa. – E diante da negativa de Lis em sair até que Sebastian estivesse bem, suspirou – Vou pedir um quarto para que durma um pouco.
—Eu não consigo dormir – Se viu falando em tom baixo – Tenho medo de enxergar todo o sangue novamente.
Michael a olhou com compaixão ao compreender seus sentimentos e sem pensar, a puxou de encontro ao seu corpo. Acariciou seus cabelos ao mesmo tempo em que sua mão pousou carinhosamente em suas costas.
— Descanse um pouco, prometo que não terá pesadelos – Prometeu ao pensar no calmamente que ela logo iria receber. – Irá dormir e quando acordar tudo estará melhor.
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