O semblante de Lis demonstrava todo o seu desconforto ao permanecer ao lado de Michael no salão do palácio. Os convidados os encaravam com extrema curiosidade ao ver o príncipe sádico manter a sua mão atrás das costas em uma posição ereta e elegante, enquanto Lis se mantinha tentando ignorar a presença dele ao seu lado, mesmo que para isso tivesse que lutar contra o aroma inebriante que ele exalava.
Isso é loucura.
Ela se viu pensando ao mordiscar seu lábio assim que Michael tocou em seu ombro, forçando-a a encará-lo. Os olhos do segundo príncipe se mantinham fixos, a encarando, como se tentasse desvendar o que pensava naquele instante.
— Parece que está em um velório, minha querida – O modo como Michael sorriu a fez respirar fundo antes de sorrir falsamente. – Agora sim. Um sorriso tão falso quanto da minha família.
Lis absorvia tudo o que Michael falava ao tentar juntar as peças que poderia fazê-la resolver aquele quebra-cabeças, contudo por mais que tentasse, não conseguia separar as peças laterais. Desde pequena, aprendeu que encontrar as peças laterais fazia com que resolvesse o jogo mais rápido. Um ensinamento que sempre a ajudara em sua vida até se encontrar com Michael Stone.
— Sua vida foi realmente difícil – Lis se viu falando ao encará-lo – Deve ter sido ignorado, também não recebeu amor e muito menos soube o que era gentileza, estou errada?
— Acha que sabe tudo? – Michael indagou ao abaixar o tom de voz para que ninguém percebesse o tom de conversa. – Não fique se achando.
— Estou falando o que acho. Posso estar errada, mas sempre fica na defensiva. O que realmente aconteceu com você? – A pergunta de Lis fez Michael pigarrear ao olhar para o lado avistando o seu irmão Philipe se aproximar. Estreitou os olhos ao manter um sorriso cordial na face.
— Sempre é bom vê-lo em reuniões assim – Michael disse ao encarar Philipe, o qual mantinha a sua atenção em Lis – E parece que ainda continua impressionado com a beleza de minha noiva.
— Seria impossível me manter inalterado – Philipe sorriu para Lis – E precisamos conversar – Olhou para Michael – Acho que será de grande utilidade. – Michael assentiu afastando-se de Lis levando Philipe em direção a uma sala na ala oposta ao salão, e assim que fecharam a porta, o segundo príncipe encarou o terceiro. – O nosso pai está planejando lhe destruir. – Michael gargalhou – Já sabia?
— Sei tudo o que acontece nesse inferno, mas admito que estou impressionado em sua lealdade. Esperava que ficasse ao lado de Augusto.
— Vocês dois são meus irmãos. Não estou tomando lado.
— É assim agora? Anos atrás ficou ao lado do nosso pai e de Augusto, se me lembro bem. Acho interessante que esteja escolhendo o meu lado, logo eu, a ovelha negra.
— Michael, sabe tão bem quanto eu que é mais capaz do que Augusto para governar. Estou falando, por acreditar em você.
Michael gargalhou novamente ao menear a cabeça. As palavras de Philipe lhe soavam vazias em demasiada para acreditar.
Ser o segundo príncipe havia lhe ensinado a não confiar nas pessoas especialmente em seus irmãos. Por algum, estranho motivo para Michael, Augusto e Philipe ansiavam pelo trono, enquanto ele desejava que tudo fosse destruído para ter alguma paz. Para finalmente, poder respirar em paz e se desculpar com Susana.
Michael estava prestes a responder quando a porta foi aberta por Lis, a qual segurava uma garrafa de vinho.
Os dois irmãos a olharam inquietos.
— Philipe, poderia nos deixar a sós? – Lis disse séria ao dar um gole no vinho tentando ignorar a presença de Sebastian a poucos metros de si e o olhar confuso de Michael. – Por favor – Pediu novamente ao ver Philipe concordar. E assim que se viram a sós, Lis bebeu novamente ao encarar Michael antes de andar até ele, parando em sua frente, entregando a garrafa – Beba.
— Espera que eu perca o controle bebendo, poodle? Imagino que esteja ansiosa para que um escândalo comece e assim consiga se libertar de mim. – Lis negou com um aceno de cabeça – Então está procurando um parceiro para beber – Definiu ao vê-la beber mais um gole – Desse jeito acabará se tornando um poodle alcoólatra.
— Isso é para abaixar a sua guarda.
— Para tentar me matar? – Sorriu realmente divertido ao imaginar a cena da pequena mulher a sua frente tentando lhe assassinar. – O que deseja com isso?
Lis continuou a manter a garrafa erguida em direção a Michael, e quando o viu pegar, sorriu.
— Beba – Lis o incentivou observando o modo elegante como o príncipe levou a garrafa aos lábios, bebendo o vinho de uma forma que a fez suspirar. Por algum, motivo, Lis se viu tentada a beijá-lo ao ver a cena a sua frente. – Agora, converse comigo.
— Sobre o que?
— Você ou sobre mim. Acho que não importa muito agora – Deu de ombros - Esse tipo de festa, eu desprezo. Me sinto sufocada diante dos olhares e por mais que odeie admitir, fico mais calma quando está ao meu lado.
— Está assim por eu tê-la salvado antes – Respondeu sério ao beber mais um gole sentindo desta vez o vinho descendo amargo pela sua garganta. Ele sabia que uma das consequências de seu – suposto – ato heroico seria o modo como Lis poderia enxerga-lo, mas ao perceber isso sentiu seu estomago embrulhar.
— Infelizmente sinto isso a um tempo – Revelou ao encará-lo – Podemos ficar aqui por um tempo?
— Trocando confissões? – Sorriu exibindo suas covinhas. Lis assentiu antes de dar de ombros. Ela pretendia fugir dos olhares dos convidados e ao mesmo tempo descobrir o máximo que podia sobre o seu noivo. Michael olhou para o sofá do outro lado do cômodo apontando para ele, seus olhos permaneceram no quadril da jovem rebolando ao mesmo tempo em que o vestido balançava levemente a medida que caminhava. O sutil balanço do vestido, o fez ter recordações do passado. Memórias que tentara esquecer durante os últimos anos assim como o som da risada que um dia o fizera feliz. De alguma forma, Lis o fazia se esquecer de Susana ao mesmo tempo em que fortalecia suas lembranças. Meneou a cabeça ao ir até onde ela se sentara, acomodando-se ao seu lado. Michael respirou fundo absorvendo o aroma peculiar – e doce – do perfume de sua noiva. – Perfume novo.
— Sim – Lis assentiu intrigada ao encará-lo. Manteve as mãos no vestido, tocando o tecido com delicadeza. A situação começava a se mostrar estranha e se arrependia de ter ido atrás dele. – Como é ser um príncipe?
— Horrível – Confessou sincero sem olhar para ela. Seus olhos estavam cravados na parede a frente – É como uma prisão impossível de escapar. Não tenho liberdade, todos meus passos são observados, preciso me preocupar com as opiniões publicas e ceder aos caprichos do meu pai, não importando o quanto isso vai me machucar e destruir a minha alma. E como é ser um capacho para o rei? – Lis estava prestes a brigar, mas ao perceber o seu tom de voz melancólico, soube que ele desejava algum comentário com o mesmo pensamento. Um pensamento de ódio ao rei.
— No fundo, eu já sabia. O rei não tinha motivos para me escolher como a noiva de um dos príncipes sem motivo. Só queria poder destruir os planos dele.
— Mostrar que é mais esperta que ele? – Ela assentiu concordando. – Se tivesse a oportunidade, o que faria?
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