Amor Sombrio romance Capítulo 38

Lis respirou fundo ao olhar para a porta do quarto de Augusto, enquanto tentava controlar a sua própria respiração. Seu coração batia acelerado, como se estivesse prestes a entrar em uma floresta repleta de assassinos. Se viu passando a mão pelos cabelos antes de bater na porta, escutando a voz do primeiro príncipe, segundos depois. Ela aguardou paciente em frente a porta, e no momento em que Augusto sorriu ao abrir a porta, Lis se viu desviando o olhar. Por algum motivo, se sentia constrangida e incerta sobre o que estava fazendo.

Ela não havia pensando corretamente sobre como poderia obter informações do príncipe, apenas agira com impulsividade.

― Vejamos o que temos aqui – Augusto sorriu como um predador ao passar a língua pelos seus lábios – O que a noiva do meu irmão veio fazer em meu quarto? – A sua voz estava repleta de sarcasmo. Ele parecia se deliciar com toda a situação. Se deliciar em como Lis parecia inquieta, constrangida e indecisa. Ele se divertia em ver o desconforto dela aumentar diante de suas palavras.

― Posso entrar? – Ela indagou ao encará-lo finalmente, conseguindo vislumbrar a surpresa em seus olhos por alguns segundos. Augusto afastou-se da porta, lhe dando espaço e Lis observou o quarto surpresa. O quarto do príncipe herdeiro resplandecia luxo e requinte. A cama possuía uma coberta com tons em dourado e branco, as cortinas eram brancas, na parede conseguia ver quatro quadros de pintores renomados, e os pequenos objetos espelhados eram dourados e prateados. Lis tinha certeza que tudo era de ouro.

― Fique a vontade – Disse ao fechar a porta, cruzando os braços em frente ao seu corpo assim que escorou suas costas na parede – O que deseja falar comigo?

― Eu preciso de ajuda – Disse ao se virar, ficando em frente para ele. – O seu irmão é louco. Ele realmente acredita que precisamos nos casar e começo a pensar que ele pode me forçar a isso de alguma forma.

― E espera que eu a ajude?

― Sim, eu sei que é o único com poder suficiente para isso. Philipe não teria como fazer isso. Eu sei que você é o único forte nessa família – A forma como Lis falou andando em sua direção, fez Augusto erguer uma sobrancelha, surpreso. Ele não esperava que Lis Muller, a noiva de Michael, se comportasse daquela forma. Manipulando-o de forma tão vil. – Você irá me ajudar?

Augusto conhecia aquele tipo de manipulação, pois foi o mesmo que havia usado com Regina para ela aceitar o casamento, e segurou-se para não rir. Ele se via cada vez mais curioso para descobrir o real motivo dela estar se sujeitando a algo como aquilo. O primeiro príncipe conseguia ver o modo como corpo de Lis estava rígido, a expressão em seu rosto sendo forçadamente suavizada.

Ele poderia dizer que já havia percebido a tentativa de manipulação, mas o seu desejo por descobrir o motivo, o deixou vulnerável e ansioso.

― Irei ajuda-la, mas com uma condição – Sorriu ao se aproximar dela, tocando em seu rosto delicadamente, acariciando as maçãs de sua face. – O que acha de ser minha? Irei me divorciar de Regina, já que ela é uma traída do reino, e então serei um homem livre.

A expressão de nojo foi forte o suficiente para não ser repelida pela jovem.

― Deseja trair o seu irmão? Está querendo que eu seja a vilã.

― Não há vilã ou vilão na vida Lis. Somos pessoas oportunistas, não acha? Podemos unir o útil ao agradável, além do mais, você é boa demais para estar com alguém tão lunático e quebrado como meu irmão.

― Fala como se ele fosse o único responsável por quebrar a si mesmo. Não foram vocês que fizeram isso? – O desafiou sem se afastar, encarando-o.

― Ele não te contou, não foi? – Constatou surpreso, afastando a sua mão do rosto de Lis. – Ao menos sabe que ele foi para o exercito? – Ela assentiu – E imagino que já viu as marcas em suas costas. Michael é como um morto vivo, minha querida. Ele jamais será capaz de amar novamente ou ter qualquer emoção que não seja vingança. O nosso pai tirou a única coisa que foi capaz de fazê-lo retornar vivo da guerra. Susana. Os detalhes será mais divertido se descobrir sozinha – Sorriu – Michael é realmente um cara doente. Ele esteve lhe dando esperanças quando deseja apenas a usar, mas não eu. Eu serei sempre sincero, e basta permanecer ao meu lado para que tenha tudo o que deseja.

― Será realmente sincero comigo, se eu ficar ao seu lado? – Perguntou após alguns instantes em silêncio. Ele concordou animado. – Então me diga, Regina é realmente culpada por traição?

Augusto gargalhou colocando a mão em seu próprio rosto.

― É isso que deseja descobrir? Regina nunca teria coragem para fazer como isso, então é claro que não foi ela. Logo ela será liberada. Dificilmente terá provas contra ela. Regina sempre foi passiva, bondosa demais e tola para fazer algo assim.

― Como pode ter tanta certeza?

― Regina nunca quis um filho, pelo menos não comigo, e muito menos se preocupava com a sua presença, Lis. – Se aproximou mais dela, colocando as mãos em sua cintura – Mas eu não. Sempre estive curioso e intrigado sobre você. Não acha que deveria ser gentil e me beijar, como uma forma de fecharmos o nosso pacto?

― Odeia tanta assim o seu irmão?

― Não.

Lis colocou suas mãos no pescoço de Augusto, mantendo o olhar fixo em seu rosto.

― Se não o odeia, por qual motivo está tentando me afastar dele?

― É apenas boa demais para alguém como ele. Irá compreender quando descobrir sobre o amor dele por Susana. Michael jamais vai deixar de pensar nela ou se culpar. Ele nunca poderá abraça-la, beijá-la ou amá-la sem que Susana esteja em sua mente e em seu coração. Estou sendo gentil lhe dizendo isso.

Ela suspirou ao ficar na ponta dos pés, e depositar um beijo na bochecha do primeiro príncipe.

― Sim, e eu agradeço – Retirou suas mãos do pescoço dele, afastando-se dele, surpresa por encontrar resistência no primeiro príncipe. – Sei que ele nunca irá me amar, e nem espero por isso, mas também não sei se estar ao seu lado, príncipe Augusto, irá me beneficiar em algo.

― E como poderia lhe provar que estar ao meu lado é benéfico?

Lis fingiu pensar por alguns instantes antes de sorrir.

― Quero me encontrar com Klaus Vincent Reid. E você pode conseguir isso.

Augusto demorou alguns instantes para enfim gargalhar. A cada instante, Lis se mostrava ainda mais interessante aos seus olhos.

―Farei isso. Conseguirá que irá visita-lo em segredo. – Lis concordou ao ir em direção a porta – Mas realmente era apenas isso que desejava?

Ela negou com um sorriso no rosto.

― Na verdade queria saber se amava Regina e se confiava nela.

― E a que conclusão chegou?

― Que você é um príncipe tolo por não amá-la – Disse ao abrir a porta – E assim que conseguir a minha audiência com Klaus, lhe darei a minha resposta sobre o nosso acordo.- Saiu, fechando a porta atrás de si, sentindo suas pernas tremulas. Ela finalmente percebeu que estava agindo como Michael e a família real esperava que ela fizesse. – Sebastian tinha razão. Essa família irá me destruir.

***

Philipe pigarreou assim que ao passar pelo corredor do palácio, a viu. Lis estava escorada próxima a porta do quarto de Augusto com o semblante cansado e repleto de angustia. Não pensou ao avançar em sua direção, parando em sua frente com as mãos no bolso de sua calça. Ele ignorou as lembranças dela agindo em defesa de Michael naquele momento.

― Algo aconteceu? – Perguntou ligeiramente constrangido. Lis ergueu os olhos tentando sorrir, mas logo se viu abraçando Philipe. – O que...

― Posso ficar assim só por um minuto? – Pediu com a voz baixa sentindo o seu próprio corpo tremer. Philipe a abraçou, depositando suas mãos em suas costas, delicadamente. Ele não compreendia o que poderia ter acontecido, mas sentia-se incomodado por vê-la daquela forma.

― Se quiser fugir de tudo isso, eu posso ajuda-la – Se viu falando – Eu posso conseguir que Michael a deixe em paz.

― O problema não é Michael, mas o seu pai – Murmurou.

― Também posso conseguir isso. Meu pai, o rei, por algum motivo, gosta de mim mais do que eu gostaria – Confessou – Então, posso ajuda-la.

― Então, se um dia, eu pedir para desaparecer, vai me ajudar? – Philipe assentiu, fazendo-a sorrir – Obrigada, irei fazer isso em um mês, provavelmente – Se afastou dele com o rosto ligeiramente avermelhado – Obrigada Philipe.

Ela já estava se afastando dele quando sentiu o terceiro príncipe segurar em seu pulso. Ela o encarou. Sem nada falar, Philipe a puxou, colocando seus corpos, e sem pensar, se viu abaixando a cabeça depositando um beijo cálido em seus lábios. Lis manteve os olhos abertos, impactada e sem reação pelo o que o príncipe havia feito.

― Parece que estou realmente sério sobre você, Lis Muller – Philipe disse ao se afastar, libertando-a. – Pense em mim como alguém que pode libertá-la de tudo e lhe trazer felicidade.

Lis não soube como reagir ao ver o príncipe lhe dar as costas e sair andando pelo corredor em direção as escadas.

Que merda é essa?

Ela se questionou ao olhar em volta temendo que alguém pudesse ter visto a cena, percebendo que o único motivo de sua preocupação possuía nome. Michael August, o segundo príncipe.

***

A rainha Glória olhou para Leopold com o semblante cansado. O casal havia passado as últimas horas discutindo sobre a data ideal para o casamento de Michael, lembrando-se tarde demais que Lis não era a pessoa mais receptiva, e que dificilmente aceitaria casar-se daquela forma.

― O que propõe? – Glória indagou a Leopold assim que depositou a sua xicara com chá em cima da mesa no escritório do rei. Eles costumavam discutir assuntos reais sempre no mesmo cômodo, trancados.

― Ameaçá-la, mas aquela garota não parece ser do tipo que aceita ameaças.

― E se Michael a força-se?

― Nosso filho doente? – Leopold gargalhou – Michael é incapaz de ficar ao lado de alguém depois de Susana, sabe bem disso – Glória assentiu calma.

― Poderíamos fazer algo que o forçasse a ficar ao lado dela. O que acha? – Leopold pareceu se interessar verdadeiramente pelo assunto.

***

Lis entrou no quarto de Michael com o rosto avermelhado, encontrando o príncipe sentado no chão encarando a porta. E estranhamente, ela se viu achando a cena normal.

― O que Augusto fez? – Michael perguntou ao encará-la cuidadosamente. O modo como ela parecia querer desviar o olhar, seu rosto avermelhado e suas mãos mantidas entrelaçadas uma a outra, o fez perceber que algo havia acontecido.

― Nada.

Michael se levantou mantendo a sua expressão impassível ao parar em sua frente, segurando o seu rosto com força, forçando-a a encará-lo.

― Se ele não fez, quem foi?

― No que isso é de sua conta? Em dois meses, irei desaparecer de sua vida, então do que importa algo que aconteça agora?

Michael a encarou furiosamente, empurrando o seu corpo contra a parede próxima. Sua perna foi colocada entre as pernas de Lis, aproximou o seu rosto da face da jovem que o olhava sem medo e visivelmente calma. O príncipe manteve sua mão no rosto dela.

― O que espera conseguir com isso? Foi a única oferecendo ajuda.

― Sim, e posso conseguir as informações como bem desejar. Príncipe, acredito que seja o único equivocado pela situação. Não sou sua e posso fazer o que bem entender.- Sorriu vitoriosa ao colocar suas mãos no peito dele, afastando-o – E pare de agir como se sentisse ciúmes. Isso é nocivo. Se não pode amar ninguém, não se comporte como se eu fosse importante para você, príncipe Michael.

Comentários

Os comentários dos leitores sobre o romance: Amor Sombrio