Amor Sombrio romance Capítulo 39

O modo como Michael encarava Lis fazia com que todos sentados a mesa ficassem constrangidos e sem saber o que falar. O segundo príncipe a encarava como se estivesse prestes a assassinar a mulher a sua frente, enquanto Lis parecia ignorar tudo ao comer o prato que lhe foi servido com estranha calma.

― Essa refeição está ligeiramente intragável – Gloria disse atraindo a atenção de todos – O que está acontecendo entre vocês dois? – Perguntou ao olhar para Lis e em seguida Michael. – Espero que não estejam brigando. O casamento logo será marcado. Não quero escândalos.

Lis depositou os talheres em cima do prato segurando um sorriso debochado antes de encarar Michael por alguns segundos, desviando a sua atenção para a rainha Gloria.

― Majestade, não acho que a data de meu casamento deva ser decidido tão levianamente. Posso muito bem não querer me casar, sabia?

Gloria sorriu ao levar a taça aos lábios antes de responder.

― Sim, dizem que todos temos uma escolha na vida, Lis, só acredito que você não tenha. Se não fizer isso, o que pode acontecer com você e sua família?

― Ameaças da família real, pensei que nunca veria algo assim – Sorriu – E esteja livre para fazer o que desejar. Sou uma pessoa diferente das quais está acostumada a ameaçar.

Gloria iria responder quando sentiu a mão do rei sobre a sua fazendo-a se calar, contra a sua vontade.

― Estamos no meio da refeição – Leopold falou exibindo um sorriso calmo – Vamos comer em paz.

Philipe foi o único que gargalhou atraindo a atenção de todos.

― É sempre divertido comer com vocês – Falou ao menear a cabeça antes de olhar de soslaio para Lis, a qual parecia inabalada. – Se precisar de alguma coisa, pode falar comigo – Philipe sussurrou no ouvido de Lis. A jovem se limitou a assentir sem encará-lo e não se atreveu a olhar para Michael. Assim que o jantar acabou todos se levantaram sem dizer uma palavra, mas no momento em que Philipe ia se aproximar de Lis, Michael segurou o braço de sua noiva, trazendo-a para perto de seu corpo.

― O que está fazendo? – Lis sussurrou ao encarar Michael. O segundo príncipe mantinha uma face inexpressiva. – Todos devem estar olhando.

― Todos saíram da sala de jantar – Disse calmo ao olhar em volta, aliviado por Philipe ter saído.

― E por isso pretende continuar segundo o meu braço?

― Sim, quero ter certeza sobre uma coisa – Disse ao olhar em seus olhos antes de abaixar a cabeça, beijando-a. Os olhos de Lis se mantiveram abertos até perceber que Michael havia largado e que agora seus braços rodeavam sua cintura, e respondendo aos seus instintos, Lis tocou em seu cabelo e com a outra mão segurou o seu braço. A sensação do beijo, o cheiro e o abraço acolhedor a fez esquecer por alguns instantes a promessa que havia feito com ele. A promessa de ir embora, se afastar dele e fugir de qualquer sentimento que pudesse ter.

― O que foi isso? – Lis perguntou assim que o beijo parou. A respiração levemente ofegante assim como o seu rosto avermelhado denunciava o que acabaram de fazer.

― Eu queria ter certeza de uma coisa.

― O que?

― De que talvez esteja apaixonado por você – Respondeu friamente a olhando. Os olhos de Michael permaneceram fixos em Lis buscando alguma reação que pudesse lhe dar alguma pista sobre como ela se sentia, contudo enxergou confusão. Nada além disso.

― Está indo realmente longe por tudo isso – Sussurrou desolada ao se afastar dele, dando dois passos para trás – Não precisa agir dessa forma, sabe? Eu vou embora após dois meses, mas ainda assim é um comportamento muito baixo o que está fazendo. Está fazendo tudo isso em busca de alguma coisa? Mesmo que estivéssemos apaixonados, não iria ceder para a sua família.

― Está achando que estou jogando com você – Percebeu com uma voz gélida ao encará-la – Parece que não me conhece.

― Não, eu não o conheço. Eu algum momento permitiu isso? – Sorriu incrédula ao passar a mão pelos seus cabelos, bagunçando-os – Não venha tentar me manipular.

Michael olhou para Lis segurando a vontade que sentia de fugir, contudo respirou fundo antes de indagar o que poderia convencê-la. Em seu intimo, ainda tinha duvidas de seus sentimentos. Michael duvidava que poderia amar alguém após Susana, mas ao se recordar do que sentiu ao pensar em Lis com outro homem, o fez perceber algo. Perceber que poderia estar sentindo alguma coisa pela mulher que deveria desprezar, usar para seu plano e esquecê-la.

― Conte toda a verdade, se fizer isso acreditarei em você – Respondeu ao cruzar os braços em frente ao seu corpo diante do silêncio do príncipe. – Eu quero saber o que aconteceu no exército e sobre Susana, apenas isso. Se me contar, acreditarei e confiarei em você.

Michael a encarou sem conseguir falar nada, e no instante em que Lis lhe deu as costas saindo da sala, ele suspirou raivoso. Jogou todos os pratos que estavam na mesa no chão, sem se importar com o barulho ou os cacos no chão. A raiva era a sua única companheira silenciosa.

***

Lis levou a mão aos lábios para evitar qualquer ruído assim que encostou na parede. A simples lembrança do beijo de Michael, o modo como ele havia dito que poderia estar apaixonado por ela, fazia com que seu coração batesse rápido e a deixasse desnorteada. Passou a mão pelo rosto, confusa sobre o que deveria fazer.

― Problemas no paraíso? – A voz de Augusto a fez virar o rosto e encará-lo com a dignidade que ainda possuía. – Consegui o seu encontro com Klaus. Hoje daqui a duas horas. Posso leva-la, se quiser.

Lis sabia que deveria negar, mas concordou em um gesto. Ela estava emocionalmente cansada demais para recusar.

***

No instante em que Sebastian adentrou na sala de jantar, a pedido das empregadas, se viu respirando fundo ao ver Michael sentado no chão em meio aos vidros, com o semblante derrotado. Coçou a cabeça realmente confuso sobre que tipo de situação poderia desencadear tal reação no segundo príncipe.

― O que houve? – Perguntou sem rodeios ao andar em direção a Michael, abaixando-se assim que parou ao seu lado.

― Eu estou cansado de tudo – Confessou com a cabeça baixa – Cansado de sofrer e mais cansado ainda por não conseguir seguir em frente.

― Sempre pode procurar ajuda, sabe disso, não é? – Michael assentiu – Eu não faço ideia como é ter transtorno pós traumático, mas estou aqui se quiser conversar.

― Conversar não vai me ajudar – Revelou sombrio – Apenas uma coisa vai, e isso pode fazer com que eu siga em frente – Se levantou sem jeito – Onde Lis esta?

― Saiu com Augusto tem alguns minutos. – Observou o modo como a expressão de Michael se modificou completamente. – Ela não é sua para que a controle. E mesmo que fosse, ela não é o do tipo que aceitaria. Lis Muller é rebelde demais para isso.

― Eu sei – Respondeu ao olhar para a porta – E esse é o problema. Se ela fosse mais parecida com Susana, eu poderia falar que minha curiosidade é por isso.

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