A cadeira de metal desconfortável presa ao chão fez com que Lis suspirasse ao olhar em volta, se deparando com uma sala fria e sem vida. O local para onde havia sido direcionada assim que chegou a prisão de segurança máxima acompanhada por Augusto. Apenas um policial estava em um canto afastado, os olhando com curiosidade.
― Vou te deixar a vontade – Augusto falou se afastando assim que viu dois policiais entrarem na sala segurando, um em cada lado, Klaus Vincent, o Duque e filho bastardo do rei da Inglaterra.
Os olhos de Lis se mantiveram fixos na figura do homem que sorria divertido. Ele parecia não se importar com as algemas e muito menos com os olhares de repulsa dos guardas. Ele estava entretido a encarando.
― Se divirta – Um dos guardas falou ao tirar a algema de Klaus. O duque sorriu ao passar a mão pelos seus cabelos cortados antes de olhar para Augusto, o qual se mantinha em um canto da sala para em seguida se sentar em frente a Lis. – Achei que seria a minha irmã, mas fiquei surpreso em vê-la – Disse calmo ao apoiar o queixo em sua mão. Seus olhos observavam cada movimento de Lis segurando o sorriso ao perceber que ela esteja acanhada. – O que fez a minha prima, a futura viscondessa, vir até mim? Um pobre mortal preso por ter cometido um crime tão bobo.
Lis suspirou ao desviar o olhar.
― Klaus, ainda lembro quando brincávamos quando crianças. Antes de sua mãe se casar com o Duque – Ele assentiu calmo – E eu sei que não tem lógica vir até você agora.
― Parece que precisa da minha ajuda – Sorriu como se estivesse se divertindo ao encará-la – Eles a escolheram para usar a minha fama, não é? Eles sempre foram sem graça, principalmente aquele rei idiota que vive fazendo o que Gloria manda. Ele é como um cachorro seguindo as ordens de seu dono. Para ser honesto não sei como você ainda está viva, sempre pareceu burra demais para jogar esses jogos doentios da realeza.
Para ser honesta, nem Lis sabia como tinha sobrevivido tanto tempo.
― O que realmente deseja de mim? – Klaus perguntou calmo avaliando a expressão de Lis.
― Quero uma forma de poder lutar contra a realeza. Eu os desprezo. – E então Klaus gargalhou divertido.
― Parece que a loucura está em nosso sangue. Eu tentei destruir a monarquia da Inglaterra, mas cheguei perto – Disse orgulhoso – Sabe o motivo por eu ter atacado o príncipe herdeiro da Inglaterra e a esposa dele? Eu estava louco de ciúmes. O maior problema em você ser deixado de lado é que ninguém fala a dor que vai trazer para você. Eu passei anos remoendo qualquer dor que sentia e afirmando que a culpa era do meu pai, o rei, que não tinha admitido a minha existência para o mundo. Achava que se ele fizesse isso, minha vida seria melhor, e eu seria mais feliz.
― Klaus – Murmurou ao perceber a dor de seu primo.
― Está tudo bem agora. Estou em paz com tudo e você deveria fazer o mesmo – Deu de ombros – É só um conselho. E se quiser destruir eles, descubra os segredos de cada um. Seja amiga. Amante. Esposa. Seja tudo para cada um deles e destrua eles por dentro. Essa é a única forma de destruí-los.
― Eu não vou ser um tipo de vadia. – Falou com repulsa.
― Se você tem escrúpulos, não vai conseguir nada. Mas estou de bom humor hoje, vou te ajudar – Sorriu realmente travesso – Irei enviar um pacote para você essa semana com algumas informações. Eu sempre gostei de saber sobre todo mundo, e farei isso por você.
― Em troca de que? – Perguntou sem acreditar que ele faria algo de forma despretensiosa.
― Vai saber quando a hora chegar – Se levantou e olhou para Augusto – Se eu fosse você, não confiaria nele. Ele se parece muito comigo.
A reação de Lis foi se levantar no mesmo instante e encarar Augusto com medo. Todos conheciam a irracionalidade, a insanidade, que Klaus trazia dentro de si, e imaginava o quanto Augusto teria para que um louco o reconhecesse daquela forma.
Ela ficou parada vendo o primo ser levado por dois guardas e quando finalmente se virou para encarar Augusto, viu o modo como ele sorria divertido. Ele parecia se divertir sempre que via o sofrimento de outra pessoa.
Estou começando a achar que o louco não é o Klaus.
Pensou ao suspirar, colocando um falso sorriso no rosto ao ir em direção ao primeiro príncipe.
― Obrigada por ter me trazido.
― Espero que tenha ajudado.
― Ajudou – Concordou sorrindo – Acho melhor voltar para o palácio. – Ela já estava indo em direção a porta quando ele segurou em seu braço, fazendo-a se virar.
― Não esqueça disso mais a frente – Sorriu largamente – Pode conseguir muito mais se ficar ao meu lado. Eu sou melhor do que Michael – O sorriso presunçoso dele a fez fazer uma careta ao puxar o seu braço, libertando-se.
― Você é só mais presunçoso que ele. Michael é muito mais sádico e inteligente do que você – Declarou firme ao andar a passos largos na frente de Augusto, arrependida pelo que dissera, já que ela havia prometido conseguir informações de Augusto.
***
A mão de Lis tremeu ao girar a maçaneta do quarto. Desde que havia retornado para o palácio, escutou murmúrios sobre o modo como Michael estava violento ao ponto de quebrar inúmeros vasos. Por algum motivo, sabia que estava relacionado ao seu humor.
Que se dane.
Pensou ao abrir a porta, se deparando com Michael sentado na cama com um livro em mãos. Ele parecia a personificação da calma, mas assim que ele ergueu o seu olhar, ela deu um passo para trás. Seu olhar resplandecia maldade.
― Seu passeio deve ter sido agradável – A voz de Michael continha traços de ironia ao encará-la com frieza. Ele colocou o livro em cima da cama, se levantando em seguida. Seus passos não faziam barulho ao seguirem em direção a Lis, a qual não conseguiu se mover. Ela se sentiu atraída assim como uma mariposa fica em direção a luz. Mesmo sabendo que aquilo poderia mata-la, não conseguia fugir. – Feche a porta – Ordenou ao parar em sua frente. Ela percebeu que tinha uma chance de escapar, e se viu fechando a porta atrás de si, ignorando o seu instinto de sobrevivência. – Agora me fale detalhadamente o que fez com Augusto – Disse ao segurar em seu rosto, forçando-a a encará-lo.
― Como sabe que sai com ele?
E então, ele sorriu majestosamente.
― Eu sou o demônio, esqueceu? Sei tudo. Agora fale – Continuou segurando o seu rosto até Lis falar sobre a visita a Klaus – E o que ele pediu em troca? Augusto não faria nada de graça.
― Que eu seja sua e que fique ao seu lado. – Confessou sem hesitar, e no instante seguinte, ele a largou. – Foi o único que aceitou a minha ajuda para que eu me aproximasse dele. Como espera que eu faça isso?
Michael passou a mão pelos cabelos agitado, se afastando um pouco ao caminhar pelo quarto, como se estivesse analisando tudo o que ela havia dito, e por fim, parou e a encarou.
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