Amor Sombrio romance Capítulo 40

A cadeira de metal desconfortável presa ao chão fez com que Lis suspirasse ao olhar em volta, se deparando com uma sala fria e sem vida. O local para onde havia sido direcionada assim que chegou a prisão de segurança máxima acompanhada por Augusto. Apenas um policial estava em um canto afastado, os olhando com curiosidade.

― Vou te deixar a vontade – Augusto falou se afastando assim que viu dois policiais entrarem na sala segurando, um em cada lado, Klaus Vincent, o Duque e filho bastardo do rei da Inglaterra.

Os olhos de Lis se mantiveram fixos na figura do homem que sorria divertido. Ele parecia não se importar com as algemas e muito menos com os olhares de repulsa dos guardas. Ele estava entretido a encarando.

― Se divirta – Um dos guardas falou ao tirar a algema de Klaus. O duque sorriu ao passar a mão pelos seus cabelos cortados antes de olhar para Augusto, o qual se mantinha em um canto da sala para em seguida se sentar em frente a Lis. – Achei que seria a minha irmã, mas fiquei surpreso em vê-la – Disse calmo ao apoiar o queixo em sua mão. Seus olhos observavam cada movimento de Lis segurando o sorriso ao perceber que ela esteja acanhada. – O que fez a minha prima, a futura viscondessa, vir até mim? Um pobre mortal preso por ter cometido um crime tão bobo.

Lis suspirou ao desviar o olhar.

― Klaus, ainda lembro quando brincávamos quando crianças. Antes de sua mãe se casar com o Duque – Ele assentiu calmo – E eu sei que não tem lógica vir até você agora.

― Parece que precisa da minha ajuda – Sorriu como se estivesse se divertindo ao encará-la – Eles a escolheram para usar a minha fama, não é? Eles sempre foram sem graça, principalmente aquele rei idiota que vive fazendo o que Gloria manda. Ele é como um cachorro seguindo as ordens de seu dono. Para ser honesto não sei como você ainda está viva, sempre pareceu burra demais para jogar esses jogos doentios da realeza.

Para ser honesta, nem Lis sabia como tinha sobrevivido tanto tempo.

― O que realmente deseja de mim? – Klaus perguntou calmo avaliando a expressão de Lis.

― Quero uma forma de poder lutar contra a realeza. Eu os desprezo. – E então Klaus gargalhou divertido.

― Parece que a loucura está em nosso sangue. Eu tentei destruir a monarquia da Inglaterra, mas cheguei perto – Disse orgulhoso – Sabe o motivo por eu ter atacado o príncipe herdeiro da Inglaterra e a esposa dele? Eu estava louco de ciúmes. O maior problema em você ser deixado de lado é que ninguém fala a dor que vai trazer para você. Eu passei anos remoendo qualquer dor que sentia e afirmando que a culpa era do meu pai, o rei, que não tinha admitido a minha existência para o mundo. Achava que se ele fizesse isso, minha vida seria melhor, e eu seria mais feliz.

― Klaus – Murmurou ao perceber a dor de seu primo.

― Está tudo bem agora. Estou em paz com tudo e você deveria fazer o mesmo – Deu de ombros – É só um conselho. E se quiser destruir eles, descubra os segredos de cada um. Seja amiga. Amante. Esposa. Seja tudo para cada um deles e destrua eles por dentro. Essa é a única forma de destruí-los.

― Eu não vou ser um tipo de vadia. – Falou com repulsa.

― Se você tem escrúpulos, não vai conseguir nada. Mas estou de bom humor hoje, vou te ajudar – Sorriu realmente travesso – Irei enviar um pacote para você essa semana com algumas informações. Eu sempre gostei de saber sobre todo mundo, e farei isso por você.

― Em troca de que? – Perguntou sem acreditar que ele faria algo de forma despretensiosa.

― Vai saber quando a hora chegar – Se levantou e olhou para Augusto – Se eu fosse você, não confiaria nele. Ele se parece muito comigo.

A reação de Lis foi se levantar no mesmo instante e encarar Augusto com medo. Todos conheciam a irracionalidade, a insanidade, que Klaus trazia dentro de si, e imaginava o quanto Augusto teria para que um louco o reconhecesse daquela forma.

Ela ficou parada vendo o primo ser levado por dois guardas e quando finalmente se virou para encarar Augusto, viu o modo como ele sorria divertido. Ele parecia se divertir sempre que via o sofrimento de outra pessoa.

Estou começando a achar que o louco não é o Klaus.

Pensou ao suspirar, colocando um falso sorriso no rosto ao ir em direção ao primeiro príncipe.

― Obrigada por ter me trazido.

― Espero que tenha ajudado.

― Ajudou – Concordou sorrindo – Acho melhor voltar para o palácio. – Ela já estava indo em direção a porta quando ele segurou em seu braço, fazendo-a se virar.

― Não esqueça disso mais a frente – Sorriu largamente – Pode conseguir muito mais se ficar ao meu lado. Eu sou melhor do que Michael – O sorriso presunçoso dele a fez fazer uma careta ao puxar o seu braço, libertando-se.

― Você é só mais presunçoso que ele. Michael é muito mais sádico e inteligente do que você – Declarou firme ao andar a passos largos na frente de Augusto, arrependida pelo que dissera, já que ela havia prometido conseguir informações de Augusto.

***

A mão de Lis tremeu ao girar a maçaneta do quarto. Desde que havia retornado para o palácio, escutou murmúrios sobre o modo como Michael estava violento ao ponto de quebrar inúmeros vasos. Por algum motivo, sabia que estava relacionado ao seu humor.

Que se dane.

Pensou ao abrir a porta, se deparando com Michael sentado na cama com um livro em mãos. Ele parecia a personificação da calma, mas assim que ele ergueu o seu olhar, ela deu um passo para trás. Seu olhar resplandecia maldade.

― Seu passeio deve ter sido agradável – A voz de Michael continha traços de ironia ao encará-la com frieza. Ele colocou o livro em cima da cama, se levantando em seguida. Seus passos não faziam barulho ao seguirem em direção a Lis, a qual não conseguiu se mover. Ela se sentiu atraída assim como uma mariposa fica em direção a luz. Mesmo sabendo que aquilo poderia mata-la, não conseguia fugir. – Feche a porta – Ordenou ao parar em sua frente. Ela percebeu que tinha uma chance de escapar, e se viu fechando a porta atrás de si, ignorando o seu instinto de sobrevivência. – Agora me fale detalhadamente o que fez com Augusto – Disse ao segurar em seu rosto, forçando-a a encará-lo.

― Como sabe que sai com ele?

E então, ele sorriu majestosamente.

― Eu sou o demônio, esqueceu? Sei tudo. Agora fale – Continuou segurando o seu rosto até Lis falar sobre a visita a Klaus – E o que ele pediu em troca? Augusto não faria nada de graça.

― Que eu seja sua e que fique ao seu lado. – Confessou sem hesitar, e no instante seguinte, ele a largou. – Foi o único que aceitou a minha ajuda para que eu me aproximasse dele. Como espera que eu faça isso?

Michael passou a mão pelos cabelos agitado, se afastando um pouco ao caminhar pelo quarto, como se estivesse analisando tudo o que ela havia dito, e por fim, parou e a encarou.

― Basta parar com isso – Decidiu ao caminhar em sua direção parando em sua frente, a enlaçando pela cintura. Aproximou seus corpos ao ponto de sentir a respiração ofegante dela em seu peito.

― O que realmente está querendo? Eu não tenho como adivinhar – Lis disse ligeiramente confusa com a expressão carinhosa na face do segundo príncipe. – Isso tudo é por ciúmes? – Perguntou imaginando que ele iria negar e ameaça-la, contudo ele ficou em silencio por alguns segundos antes de concordar.

― Sim, são ciúmes.

O modo simples e direto a fez encará-lo completamente sem reação.

― Agora está brincando comigo?

― Não – Negou – Eu realmente fiquei com ciúmes ao pensar em Augusto a tocando. Lis estava prestes a empurrá-lo quando ele abaixou a sua cabeça, apoiando-se no ombro dela. – Por mais que eu queira destruir tudo, não quero a ver sendo tocada por mais ninguém.

― Está sendo apenas possessivo – Murmurou contrariada.

― Talvez, mas isso faz de mim um homem ruim?

― Faz. Se não pode amar alguém, não deve sentir ciúmes e nem ser possessivo. Michael, eu vou embora em dois meses, talvez menos, e o que vai fazer quando isso acontecer? Me perseguir dizendo que deseja que eu fique ao seu lado? – Perguntou séria. Por mais que ela tivesse ficado abalada com a sua revelação, não poderia ocultar o medo que sentia sempre que Susana era menciona nas conversas. Ela sabia que Michael ainda amava Susana, e ela não pretendia ser um estepe a espera de ser substituído quando ela retornasse.

― Sim, farei isso.

― Você é realmente louco – Colocou suas mãos no peito dele, sentindo o seu coração batendo cada vez mais rápido. – Não pode fazer isso. Precisa ir atrás da pessoa que você ama. Susana – O nome da mulher trouxe um gosto amargo nos lábios de Lis. – E não vou ser uma substituta para ela.

Michael a soltou. Ele não conseguia ter outra reação que não fosse se afastar, sentando-se no chão encostando suas costas na parede.

― Vou falar com Augusto, já que preciso da confissão dele o quanto antes – Lis tentou manter a sua voz em um tom normal ao máximo que conseguiu. Sua vontade era de chorar e gritar em resposta a frustração que sentia. Já estava com a mão na maçaneta quando escutou a sua voz repleta de tristeza.

― Susana não vai voltar. Mortos não voltam à vida – Revelou ao olhar para o chão. Lis se virou, o encarando, analisando e pensando sobre o que deveria fazer, mas optou por ir até ele, ajoelhar-se em sua frente e o abraçar. – Não pense sobre isso mais. – Pediu ao envolve-la com seus braços. – E você não é uma substituta. Jamais conseguiria ser. Você é única demais para isso – Confessou próximo ao seu ouvido – Então, não vá até Augusto.

― Está complicando a minha vida, seu príncipe sádico – Respondeu ao acariciar seus cabelos – Se fizer isso, não vou conseguir ajuda-lo. Preciso ir até Augusto.

― Não me importo que não me ajude – Revelou – Se ficar ao meu lado, já estará me ajudando.

Lis queria acreditar naquelas palavras. Acreditar que seriam suficiente para que um dia, ele pudesse falar que a amava, mas ela sabia que Michael possuía problemas demais. Problemas que somente o tempo poderia resolver, e infelizmente, ele não parecia querer a sua ajuda ou confiar nela o suficiente para revelar tudo.

― Por mais que cruel que seja falar isso, não posso ficar ao seu lado quando não confia em mim. Se eu fizer isso, estaria sendo ingênua e tola, Michael. Isso são coisas que não sou. Não ficarei ao lado de alguém que não confie em mim. – Afastou os seus braços do corpo dele, mantendo-os ao lado de seu corpo, inertes. – Me solte.

― Eu contei sobre Susana.

― Contou que ela está morta. E eu sinto muito por isso. Ela parece ter sido alguém incrível. Alguém inalcançável. – A ultima palavra fez Michael a soltar, segurando o seu pulso para que não fugisse – O que foi?

― Fala como se ela tivesse sido perfeita – A sua voz soou sombria e repleta de amargura.

― É assim que vocês falam sobre ela. Com medo, cuidado e carinho. Não sei o que aconteceu com ela ou com você, mas não parece aberto para me contar qualquer coisa. Sabe o quanto isso é frustrante? Chega a ser tão doloroso que é ridículo. E eu sempre fico me perguntando o motivo de tentar tanto quando você parece não se importar.

Diante do silencio, Lis suspirou ao olhar para a mão dele que a segurava com força. Ele não pretendia deixa-la escapar.

― Essa é sua última chance. Me conte alguma coisa para que eu confie em você. – Pediu ao olhar em seus olhos. – Se me contar, não sairei do seu lado – Prometeu ligeiramente incerta se conseguiria cumprir tal promessa.

O segundo príncipe respirou fundo algumas vezes antes de começar a falar a verdade para alguém fora da família real. A primeira pessoa em que confiava.

― As marcas em minhas costas foram feitas no exercito. Meu pai me enviou depois que descobriu que eu estava noivo de Susana, uma mulher comum e de origem humilde. Ele me obrigou a larga-la. Ele queria que eu me casasse com quem ele escolhesse, mas sempre fui rebelde. Nunca gostei de escutar suas ordens, e foi isso que fiz – Sorriu ao lembrar-se do semblante de seu pai quando disse que jamais largaria a mulher que amava – Eu tinha planos de casar com Susana e abdicar do meu titulo como príncipe. Ele descobriu e não ficou feliz. Meu pai, o rei, é muito controlador. – Sem que percebesse soltou o pulso de Lis, e segurou em sua mão, apertando-a o mais forte que conseguiu – Em uma noite, seus guardas me levaram a força para o avião e fui enviado para um país distante. Um país em guerra civil.

― Ele te colocou em meio à guerra?

― Sim, esse é o meu pai – Sorriu entristecido – E quando fui jogado no acampamento do exercito percebi que eu era apenas um soldado comum. O único treinamento que eu tive foi o que os príncipes tinham no palácio. Ele tinha me enviado pra ser morto. Eu sabia e todos ali também. Fui enviado para ficar em frente as batalhas, como um peão prestes a ser sacrificado. Meu pai deixou claro que não desejava que eu voltasse vivo para casa. E um dia, eu fui sequestrado. Você imagina como é ser um preso de guerra? – Ela negou – Ninguém sabe. Você não faz ideia do que é desespero, dor e medo até estar à beira da morte todos os dias durante meses. Eu era torturado dia após dia, hora após hora. Eu respirava para sentir dor e gritar, Lis. Não consigo dormir sem que tenha pesadelos daqueles dias, e costumo acordar achando que estou naquela prisão. Em minha mente, jamais sai daquele lugar. Entende agora? – Ela o olhou abalada. Lis não conseguia imaginar a dor que Michael havia passado, e então tocou em seu rosto.

― Mas, você é um príncipe. Quando souberam, não enviaram alguém para te salvar? – A pergunta fez Michael gargalhar em resposta.

― Meu pai deixou claro para os meus sequestradores que eu não era ninguém, e que eles eram livres para fazer o que quisessem comigo. Eu só fui salvo porque meu batalhão não desistiu de mim. Eles me procuraram durantes meses e quando finalmente me encontraram eu estava cheio de cicatrizes. O Michael que existia morreu naquele lugar, Lis.

― Eu.. – Se calou sem saber o que poderia dizer para amenizar a dor que os olhos dele emanavam.

― Susana se matou enquanto eu estava preso. Meu pai fez questão de dizer que ela havia sido a culpada pela minha morte, e a fez perder tudo. Seu trabalho, sua casa, sua família. O rei fez com que a família dela perdesse tudo. Ele destruiu tudo por um capricho. E eu prometi no tumulo dela que iria fazer meu pai pagar por tudo, e é isso que vou fazer.

― Michael...

― Confia em mim agora?

A pergunta repleta de dor fez com que ela concordasse antes de abraça-lo sentindo as lágrimas do príncipe em seu ombro.

Como eu poderia abandoná-lo depois de tudo isso?

Lis se perguntou ao fechar os olhos.

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