O cansaço quer me dominar, mas apesar disso não paro. Corro e corro o mais rápido que minhas pernas consigam suportar. É difícil correr pelo terreno irregular da floresta com galhos pelo chão e folhas que, com o orvalho, ficam úmidas tornando o percurso mais difícil, mas mesmo assim não desisto de ir em busca da minha liberdade.
A escuridão da madrugada e os ruídos de animais rastejando ou simplesmente caminhando me deixam com muito medo de topar com algum bicho feroz, contudo, não paro e continuo meu caminho por saber que estou em desvantagem, mesmo estando protegida pelo manto da escuridão da noite, sei que os homens de Hector estão em meu encalço e que eles estão em maior número, portanto, não posso sequer pensar em desistir ou descansar.
Depois de correr horas pela selva, vejo luzes ao longe indicando que já estou perto da cidade, consigo me animar com a possibilidade da liberdade estar ao meu alcance e apresso ainda mais os passos, porém, um barulho vindo da mata atrás de mim chama minha atenção e, ao olhar para trás, vejo vários homens armados e com cachorros quase perto de mim.
─ Ali está ela! ─ Um dos homens aponta em minha direção. Imediatamente todos os outros me vêm e correm para me pegar fazendo com que eu desça uma clareira às pressas com o risco de sair rolando ribanceira abaixo.
Tenho um déjà vu ao relembrar da última perseguição que sofri pelos mesmos homens e que, na vez passada, acabou bem para mim, porque foi através daquela perseguição e do tiro que levei que pude, finalmente, conhecer o amor.
─ Cerquem-na! Estamos quase conseguindo pegá-la, vamos! ─ Ouço um dos homens gritar atrás de mim, me tirando do meu devaneio e me fazendo correr o mais depressa possível, pois vejo que eles estão quase me alcançando.
─ Não, Deus! Não permita que eles me alcancem, por favor. ─ Suplico baixinho quase vendo a cidade a alguns metros de distância.
No entanto, quando, enfim, consigo visualizar as ruas de Sinaloa, sou cercada por vários homens e pega.
─ Não! Soltem-me! Soltem-me! ─ Grito, me debatendo o máximo que posso para escapar do agarre deles, mas é em vão.
─ O chefe vai ficar contente em saber que recuperamos sua novinha. ─ O cara que me segura comenta com os outros que estão ao meu redor.
─ A gente bem que poderia fazer uma festinha com ela aqui na mata, hein, Javier? ─ Paraliso na mesma hora com a sugestão do homem horrível. Senhor, não permita que eu passe por isso, por favor.
─ Você está louco, Juanito? Se o chefe souber disso, ele nos mata e pode ter certeza que será da pior maneira possível. El diablo não perdoa quem lhe desobedece e você sabe muito bem disso. Lembre-se do que aconteceu com o José por ter atirado nela da outra vez! Ele foi degolado na frente de todos nós para demonstrar o que acontece com quem o desobedece. Agora deixa de idiotice e chama o Carlos pelo rádio com a caminhonete e informe nossa localização, cara.
─ Tá legal, Javier. Tá legal. Eu apenas queria tirar uma casquinha da noiva do chefe, mas sei que boceta nenhuma merece que arrisque minha vida, apesar da noiva do chefe ser bem gostosinha. ─ O sujeito diz contrariado e se afasta um pouco de nós para chamar o outro comparsa pelo rádio.
Alívio cai em mim por, pelo menos, saber que não irei passar por esse tipo de trauma, no entanto, tenho total noção de que o que me espera assim que cair nas garras de Hector novamente não será nada agradável.
***
Meia hora depois sou arremessada no chão da sala de estar da mansão de Hector Guzmán, caindo bem diante dos seus pés.
─ Ora, ora, se não é a noiva fujona que retorna ao lar. Pode ir Javier, deixa que agora eu cuido da minha noivinha rebelde.
─ Sim, senhor. ─ O homem responde e sai logo em seguida.
─ Agora somos só você e eu, vadia! ─ Hector pega um punhado dos meus cabelos me arrastando escada acima.
─ Ai! Ai! Está doendo, me larga! ─ Grito de dor com lágrimas descendo pelas bochechas.
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