O sol da manhã atravessava as frestas da cortina como dedos quentes deslizando pelo quarto. O ar estava morno, carregado do cheiro de café vindo da cozinha e de algo mais sutil, invisível, mas completamente presente: a tensão.
Ethan abriu os olhos devagar, preguiçosamente, deixando-se saborear o silêncio da manhã. A primeira manhã em casa. O primeiro dia acordando em seu próprio quarto depois de dias de hospital. E o melhor de tudo… o primeiro dia acordando sabendo que Helen estava ali.
Ele se virou com cuidado, ainda sentindo o incômodo na perna engessada, e buscou com os olhos a presença dela. Mas a cama ao lado estava vazia, sabia que Helen tinha dormido no seu antigo quarto e por mais que desejasse que ela tivesse ficado ao seu lado, sabia que eles estavam indo devagar. Suspirou fundo passando as mãos pelos cabelos e sorriu ao ouvir o clique suave da porta se abrindo.
— Bom dia, dorminhoco. — disse Helen, entrando no quarto com uma bandeja de café e um sorriso nos lábios.
Ethan abriu os olhos e sorriu, mas em seguida quase teve um sangramento nasal, ao ver a camisola que Helen estava vestida. Helen usava uma camisola curta, de alças finas e tecido leve que marcava as curvas com uma ousadia que desafiava qualquer esforço de autocontrole. O robe aberto caía pelos ombros, revelando parte das coxas. O cabelo solto, ainda um pouco bagunçado, só tornava tudo mais… perigoso.
Ethan engoliu em seco.
— Isso é… café da manhã? Ou uma tentativa de assassinato?
Helen riu e colocou a bandeja sobre a cômoda. Depois caminhou até ele, como quem tinha total consciência do efeito que causava.
— Café da manhã, esposo. — disse, com a voz mais doce do mundo. — Mas se você for bonzinho… talvez eu traga uma sobremesa depois.
Ethan arqueou a sobrancelha.
— Você tá jogando muito sujo pra uma mulher que pediu paciência e respeito no processo de reaproximação.
— Eu pedi paciência, não castidade. — rebateu ela, abaixando-se para ajeitar o travesseiro atrás da cabeça dele. — Além disso, só estou confortável. Você é que tá com a mente suja.
— Eu? — ele riu, mas sua voz saiu um pouco mais rouca. — Você entrou aqui com essa camisola e quer que eu pense em sudoku?
Helen mordeu o lábio, satisfeita com a reação.
— Talvez você devesse começar a fazer palavras cruzadas. Dizem que acalma os instintos.
Ethan se recostou melhor, tentando manter o lençol puxado discretamente para o quadril. Mas o corpo dele já havia reagido e de forma bem evidente. O short de dormir denunciava a ereção matinal que ele lutava para disfarçar.
Helen se virou para pegar a xícara sobre a bandeja e, ao virar-se de volta, viu o volume sob o lençol. Por um segundo, ficou paralisada. O rosto corou e o calor explodiu por todo o corpo como um raio invisível, atingindo cada centímetro de sua pele. O queixo dela ameaçou cair, mas Helen se recompôs rapidamente… mais ou menos.
— Isso… isso é o café reagindo ao cheiro do pão de queijo? — perguntou, com um sorriso nervoso.
Ethan, agora tentando parecer o mais natural possível, ajeitou o lençol com um puxão.
— Digamos que… é o pão querendo a companhia da geléia.
Helen arregalou os olhos, engasgando com o próprio riso.
— Você é nojento!
— E você é provocante. — rebateu ele, com um sorriso torto e o olhar intenso. — Sabe o efeito que causa em mim e ainda me traz café vestida assim?
— Eu achei que era uma camisola confortável. — respondeu ela, colocando a xícara no criado-mudo.
— Essa camisola… é um ataque silencioso, um atentado ao meu autocontrole. E meu autocontrole já sobreviveu a um acidente, uma perna quebrada e um banho embaraçoso. Ele não vai resistir a você, Helen.
Ela se aproximou devagar, os olhos presos nos dele, e disse com a voz levemente rouca:
— E se eu não quiser que você resista?
Ethan ergueu uma das mãos e a pousou na cintura dela, deslizando os dedos de leve sobre o tecido fino.
— Então, minha senhora… temos um problema.
Helen mordeu o lábio, sentindo o coração disparar. O ar entre eles ficou denso, quente, carregado de desejo.
— Ethan… — sussurrou ela.
— Sim?
— Você tá me deixando completamente…
— Arrepiada? — ele completou.
— Incendiada.
Ele puxou-a pela cintura e ela se apoiou sobre ele, com uma das mãos ao lado do rosto dele, o corpo colado, a respiração misturada. Os rostos estavam tão próximos… os lábios quase se tocando…
E então…
A porta do quarto escancarou.
— BOM DIA, INQUILINOS DO AMOR! — gritou Zoe, entrando sem a menor cerimônia. — Trouxe suco, piadas, e…
Silêncio absoluto.
Helen empurrou Ethan com delicadeza e se endireitou em segundos, tentando ajustar a camisola enquanto o rosto ficava roxo de vergonha. Ethan fechou os olhos e passou as mãos pelo rosto angustiado.
— Zoe… — disse ele, com a voz tensa. — A gente precisa conversar sobre limites.
Zoe, com os olhos arregalados e o suco ainda na mão, fingiu tapar os olhos.
— AH MEU DEUS, VOCÊS TÃO FAZENDO… ELE TÁ SE RECUPERANDO, HELEN!
— ZOE! — berrou Helen. — SAI DAQUI AGORA!
— EU TÔ INDO! MAS JÁ VOLTO COM UMA BÍBLIA E UM TRAVESSEIRO NO MEIO DE VOCÊS! — gritou Zoe, saindo correndo e fechando a porta atrás de si.
Silêncio.
Helen passou a mão pelo rosto, rindo e querendo desaparecer. Ethan respirou fundo, tentando controlar a pulsação e o desejo.
— Acho melhor você terminar de tomar o seu café.
— Não estou com fome de café da manhã. — disse fazendo um bico enorme.
— ETHAN!
— Tudo bem chatinha, mas preciso de um tempo… sozinho.
— Porque?
— Quer mesmo saber o que pretendo fazer?
Helen corou e sentiu o corpo todo entrar em ebulição.
— Se quiser me dar uma mãozinha… eu iria adorar.
— Ethan Carter, seu safado! — Helen disse sorrindo.
— A chatinha você chega toda gostosa provocando com essa camisola que não esconde nada e quer que eu fique normal?
— Eu não fiz nada de mais…
— Não? Então tá, deixa eu tirar essa droga desse gesso que vou desfilar pelado pela casa para ver como você se sente.
— Como eu me sinto? Ora, normal…
— Normal é?
— S-sim.
— Muitos?
— Sim, muitos!
Ela sorriu sentindo o coração acelerado. Ethan, percebendo a mudança sutil na expressão dela, pegou a mão dela com calma.
— Mas se quiser ir devagar… eu te espero. Deitado, coberto, em silêncio…— ele sorriu. — Mentira, não consigo ficar em silêncio. Mas eu tento.
Ela riu, encostando a testa na dele.
— Você é insuportável… e maravilhoso.
— E gostoso, não esquece.
— Também — sussurrou.
Ficaram assim por um momento. O ar entre eles estava de novo carregado, mas agora de algo mais doce. Era desejo, sim. Mas era também segurança. Era o tipo de provocação que vinha embalada em amor.
— Helen…
— O quê?
— Quando a gente terminar esse café, e a casa estiver silenciosa de novo… — ele roçou os lábios no canto da boca dela. — Você me traz a sobremesa?
Ela mordeu o lábio, os olhos semicerrados.
— Se você prometer se comportar…
— Vou tentar.
Ela se levantou, pegando a bandeja com um sorriso malicioso.
— Vai mesmo?
— Helen…
— O quê?
— Eu nunca tento. Eu provoco, você que cede.
Ela balançou a cabeça, caminhando até a porta.
— Vai ficar ai mesmo?
— Depende. Vai voltar com a sobremesa?
— Quem sabe.
E antes de sair, ela se virou, ainda com o robe solto nos ombros, os olhos brilhando.
— Ethan?
— Hum?
— Às vezes… eu gosto de ceder.
E saiu, deixando a porta apenas entreaberta.
Ethan fechou os olhos e sorriu.
— Essa mulher vai acabar comigo…

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Após o Divorcio Meu Marido Se Arrependeu