O cheiro de café fresco e panquecas douradas dominava o ambiente da cozinha ampla e ensolarada. A manhã parecia comum, daquelas típicas de domingo em família. Se não fosse… pelo clima silenciosamente estranho no ar.
Helen girava freneticamente pela cozinha, com o cabelo preso num coque improvisado e uma expressão entre “está tudo ótimo” e “quero desaparecer da face da Terra”. Usava o avental florido favorito de April, como se tentasse se esconder atrás dele, e colocava as panquecas nos pratos com uma precisão quase cirúrgica, tudo para não ter que olhar nos olhos de ninguém.
— Alguém quer mais frutas? — perguntou com uma voz um pouquinho mais aguda que o normal. — Temos morangos, blueberries, bananas… ou… silêncio, quem quiser também pode pegar um pouco de silêncio!
David, sentado à mesa, encarava fixamente sua caneca de café como se ela fosse responder todas as perguntas existenciais da humanidade.
Tiago, ao lado dele, comia panquecas animadamente, fingindo naturalidade, mas com aquele sorrisinho maroto no canto da boca que dizia claramente: “eu sei demais”.
Tomás… ainda não sabia se devia falar ou ficar calado. Seus olhos verdes buscaram April e um sorriso genuino surgiu nos seus lábios. — ela é tão linda! — pensou sorrindo bobo.
April surgiu na cozinha sonolenta, com os cabelos soltos, usando uma camiseta da banda do irmão. Coçou os olhos e quando viu Tomas na mesa, passou as mãos pelos cabelos, sorriu e disse corando:
— Bo- Bom dia… Que clima estranho é esse? Parece que passou um furacão aqui.
Mel apareceu logo atrás, já penteada, com uma xícara de leite nas mãos.
— Pois é prima, o David tá com essa cara desde que desceu. E o Tiago tá rindo sozinho igual um psicopata… o que aconteceu?
Helen congelou no meio do caminho entre o fogão e a mesa.
— Nada! — respondeu rápido demais. — Absolutamente nada! Apenas uma… noite muito longa. Sim! A festa, né? Tanta emoção! A dança! As luzes… As panquecas! — respondeu Helen largando o prato de panquecas na frente de David com força demais.
— AHHH! — exclamou David. — Que susto mãe!
— Desculpa, desculpa! — Helen respirou fundo. — Vamos focar na comida. Alimentos. Família. Café da manhã feliz.
Ethan apareceu no arco da porta, com o cabelo bagunçado, uma camiseta preta simples e aquele sorriso maldito que ele usava sempre que estava prestes a provocar.
— Bom dia, minha gente. Dormiram bem?
David ergueu os olhos lentamente, como se a visão do pai ativasse um gatilho de guerra.
— Eu nunca mais vou dormir na vida, pai. Nunca mais.
— Ah, para com isso… — disse Ethan, pegando uma panqueca e colocando três colheres de geleia. — A vida é feita de experiências marcantes. Algumas você guarda. Outras você… supera na terapia.
April franziu o cenho, olhando da mãe para o pai, depois para os amigos.
— Espera… aconteceu alguma coisa?
— Claro que não — respondeu Helen, já empurrando o prato para ela. — Panqueca! Experimenta essa com gotas de chocolate. Sua favorita, lembra?
— Mãe… você tá… suando?
— Tô fervendo de amor por vocês! — respondeu ela, sorrindo forçado.
Mel cruzou os braços, desconfiada.
— Ok. Agora eu tô oficialmente assustada.
Ethan sentou à mesa com seu café e lançou um olhar dramático para David.
— Filho… um dia você vai entender. Quando amar uma mulher do jeito que eu amo a sua mãe…
Helen se engasgou com o próprio suco.
— ETHAN!
— Nada, meninas. Absolutamente nada que precise ser mencionado, analisado ou… registrado.
Ethan passou a mão no ombro dela com carinho.
— Amor, não fica assim. É só a nossa família… com um toque de comédia romântica com censura 16 anos.
— Censura 18, Ethan. DEZOITO.
— Uau… — April comentou, tentando entender. — Isso foi tipo… uma treta? Um drama? Uma tragédia?
— Um espetáculo — murmurou Tiago.
— Uma vergonha histórica! — corrigiu Helen, escondendo o rosto.
— Um exemplo de como manter o fogo aceso — completou Ethan, dando um beijo no topo da cabeça da esposa.
David se levantou e saiu andando lentamente.
— Eu vou… pra qualquer lugar. Menos aqui.
Tomás levantou a mão, tímido:
— Senhora Helen… a panqueca tá uma delícia.
Helen respirou fundo, fechou os olhos e murmurou:
— Obrigada, querido. Ao menos uma coisa nessa manhã é… normal.
Todos sorriam e Helen resolveu lavar a louça, deixando os meninos na mesa de café sozinhos.
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