O sol já começava a se despedir atrás das árvores do quintal quando o som da campainha ecoou pela casa. Ethan, ainda rindo da tarde caótica, gritou da varanda:
— Helen! Acho que os reforços chegaram!
Helen apareceu na porta com o avental amarrotado e o rosto ainda corado das confusões do dia. Quando abriu, lá estavam Zoe e Liam, os pais de Mel, e logo atrás deles, Tânia e James, os pais de Tiago. O abraço foi coletivo, barulhento, cheio de afeto e risadas.
— A festa ontem foi linda! — disse Zoe, animada, tirando os óculos escuros enquanto adentrava a casa. — Mal pude acreditar que a April já tem quinze anos!
— E esse quintal maravilhoso… — completou Tânia, com um sorriso largo. — Parece que tudo ficou mais vivo por aqui.
Os homens seguiram para a varanda, onde Ethan já preparava os copos. As mulheres, claro, foram direto para a cozinha, como sempre faziam, o quartel-general das confissões e das risadas.
Helen estava distribuindo fatias de bolo quando Zoe se aproximou, pegando uma xícara de café.
— Então… — começou Zoe, cruzando os braços e apoiando-se na bancada. — A Mel comentou que o David estava… como posso dizer… traumatizado hoje de manhã?
Helen travou por um instante. Depois soltou um suspiro tão profundo que parecia vir da alma.
— Ai, meu Deus. Sim. Ele e os amigos.
Tânia ergueu as sobrancelhas com interesse, já sorrindo com malícia.
— O que foi? Vai, solta! A cara da Mel estava ótima quando me contou que tinha alguma coisa hilária envolvendo vocês dois.
Helen passou a mão no rosto, claramente morta de vergonha.
— Eu e o Ethan… depois da festa… demos uma escapadinha pro escritório.
Zoe e Tânia se entreolharam, cúmplices.
— Escapadinha tipo… escapadinha? — Zoe perguntou, a voz já em tom de deboche.
Helen apenas assentiu, encolhendo os ombros. Mas o pior veio depois:
— E os meninos ouviram. Todos eles. David, Tiago, Tomás… estavam na sala ao lado. Eu queria morrer. M-O-R-R-E-R!
Zoe gargalhou tão alto que precisou se apoiar no balcão. Tânia engasgou com o café de tanto rir.
— Amiga, pelo amor de Deus! — disse Tânia, limpando os olhos. — Você e o Ethan sempre foram fogo na roupa! Eu lembro quando a gente trabalhava junto… vocês transaram em TODOS os lugares daquela empresa. Até na sala de reuniões!
— Tânia! — Helen quase caiu para trás, entre rindo e morrendo de vergonha. — Zoe! Não espalha isso! Eu tenho filhos adolescentes!
— E uma reputação a zelar? — Zoe arqueou a sobrancelha. — Helen, você é uma lenda! A mulher mais quente do marketing!
— Ai, socorro…
— Conta direito — pediu Tânia. — O que foi que os meninos ouviram?
— Ah, Tânia, pelo amor de Deus… foi tudo. Gemidos, barulho de mesa, grito abafado… o David tá traumatizado. Disse que nunca mais vai pisar no escritório da casa.
— Isso merece um prêmio! — exclamou Zoe, batendo palmas. — Melhor ainda é o Tiago dizendo que o Ethan é o herói dele!
Helen caiu na risada. As três já choravam de tanto rir quando Ethan surgiu na porta com um copo na mão.
— Tudo bem aí dentro?
— NÃO! — gritou Helen, empurrando ele com um pano de prato. — Sai daqui, fogaréu ambulante!
Ethan piscou para as amigas, deu um gole em seu uísque e desapareceu de volta para a varanda.
— Ai, Helen — Zoe disse, secando as lágrimas. — Eu juro que quero chegar aos meus cinquenta transando na sala de casa igual você.
— Igual nós, né? — Tânia deu uma cotovelada amiga. — Porque aqui também não tem nada morto, não.
Helen cobriu o rosto com as mãos.
April, vermelha de vergonha, apenas sussurrou:
— Eu preciso de um passaporte novo.
— Eu preciso de um travesseiro pra gritar — comentou Tomás, afundando na borda da piscina.
Mel jogou água nele e disse, rindo:
— Fiquem felizes, pelo menos temos pais apaixonados. Já pensou se eles se odiassem?
— Preferia — murmurou David.
E então, do alto da varanda, Helen surgiu de novo com as mãos na cintura:
— NINGUÉM vai falar do que aconteceu ontem! É proibido! Entenderam?
Tiago respondeu:
— Claro, tia Helen. A gente só vai relembrar discretamente pro resto da vida.
— Tiago!
— Já falei que o tio Ethan é o meu ídolo — ele disse, antes de mergulhar.
Zoe surgiu atrás da amiga e gritou para os jovens:
— Aproveitem! A vida é curta! Mas… não usem o escritório! Ou usem, só limpem depois!
Helen virou-se devagar, em câmera lenta, com uma expressão de “vou te matar”.
E todas riram. Riram até a barriga doer. Porque aquela era uma daquelas tardes que entravam para a história da família Carter: com amor, confissões impróprias e gargalhadas que atravessavam gerações.

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