As duas faces do meu chefe romance Capítulo 2

Meses antes.

A vésperas de Natal combinei com Jana de irmos ao shopping, o Rio estava movimentado, as ruas cheias de pedestres em busca dos preparativos para ceia, mas esse ano tive a brilhante ideia de comprar uma árvore de natal maior, pois queria proporcionar para minha filha Daisy, uma nova experiência, enfeitar nossa casa com mais luzes e colocar os presentes embaixo da árvore. Ivan não gostou muito da ideia, disse que são coisas supérfluas, gasto desnecessário para um dia que passará tão rápido, mas tenho certeza que nossa filha irá amar a surpresa.

Claro que não discordo com o fato de ser um gasto a mais, mas não considero desnecessário e supérfluo como Ivan diz. Sempre amei a época de natal e desde pequena sonhava em ter uma árvore grande como via nos filmes da sessão da tarde que assistia deitada no tapete da sala da minha vó, então para mim o natal é um dos melhores feriados do ano por isso quero que Daisy tenha essa mesma sensação de amor, paz e prosperidade, mas para Ivan tudo isso é irrelevante e para ser sincera não sei até quando irei aguentar sua arrogância, nosso casamento já não é mais o mesmo tem alguns meses e as brigas têm se tornado frequentes.

Ivan sempre foi um homem amoroso, carinhoso e gentil, gostava de sair e passear, levar nossa filha em um pequeno ressorte a alguns quilômetros do Rio, uma fazenda aconchegante, com um pequeno riacho e muitos animais, além das piscinas de águas termais e da comida feita típica sem agrotóxicos e conservantes que deixa tudo mais saboroso. Daisy sempre se encanta com os cavalos, ela parece ter um imã para os animais de grande porte e Ivan sempre amou compartilhar esses momentos conosco, mas nos últimos meses as coisas estão bem diferentes, sua mudança brusca de humor e comportamento as vezes me assusta e sinceramente não sei ao certo o que devo fazer quanto a isso, mas sinto falta do homem que ele já foi, pois ultimamente as coisas estão indo de mal a pior e talvez esse seja o maior motivo de querer tornar nosso natal ainda mais especial, mostrar para Ivan a família linda que ele tem e tentar apimentar um pouco mais nossa relação com os novos conjuntos de lingeries que comprei para usar com ele.

— Terra chamando Hana. –Jana estala os dedos em frente aos meus olhos e saio do meu torpor.

— O que foi? — Pergunto aturdida.

— Aquela. — Jana aponta para uma grande árvore no fundo da loja e meu coração se aquece ao observa-la. — Eu acho que é perfeita.

Sim essa árvore com certeza é a certa e caberia com perfeição ao lado do sofá da sala.

— Daisy vai amar. — Vibro em felicidade e Jana acompanha minha empolgação.

Jana é linda, com seus cabelos Chanel matizados em tons de branco e um corpo malhado nos lugares certos. Desde de pequena sempre foi muito magra, mas aprendeu a valorizar seu corpo e suas curvas conforme crescíamos. Hoje é uma mulher que chama a atenção por onde passa e seus doces olhos amendoados sempre refletem seus mais puros sentimentos. Minha amiga de infância hoje mora nos Estados Unidos e vem visitar seus pais nas férias de dezembro. Não teria companhia melhor para ajudar na escolha da árvore, sem contar que aproveitamos para colocar as novidades em dia e um ano separadas rende muita conversa pessoalmente.

Aproveitamos as compras no shopping o máximo que podíamos, compramos tudo que uma boa árvore de natal precisa e tenho certeza que Daisy se encantará com os pequenos enfeites de papai noel, além das luzes coloridas para enfeitar a árvore e deixa-la ainda mais bela, os olhos da minha menina irão brilhar de alegria e ansiedade ao nós ajudar a montar tudo.

Mesmo ansiosa para chegar em casa e começar os preparativos junto a Daisy e Jana que garantiu ajudar assim que passasse na casa dos seus pais para deixar o bolo que compramos na confeitaria “Brummond”, resolvo fazer uma surpresa para Ivan na tentativa de reconciliar a briga que tivemos ontem à noite. Deixo Jana em sua casa sigo para a livraria que vem se destacando entre os comércios da cidade, a Mr. Book ainda é pequena, mas vem se destacando entre as outras por ter um espaço aconchegante e silencioso para os leitores usufruírem por tempo ilimitado dentro da livraria. Faço questão de ajeitar meus cabelos, passar um batom suave nos lábios e retocar a maquiagem, queria estar apresentável, até mesmo abusei no salto alto está tarde como apelo, pois sei que Ivan adora.

Ao chegar sou recepcionada por Amanda que cuida da limpeza, acho estranho ela estar no lugar da secretaria, mas resolvo não questionar, afinal, talvez Karina precisou ir ao banco fazer algum depósito.

— Senhora, posso ajuda-la? — Pergunta com um sorriso no rosto, mas visivelmente inquieta.

— Amanda, tudo bem? Karina precisou sair? — Questiono e ela aperta as mãos em um sinal de desconforto.

— Ela só me pediu para ficar no lugar dela por alguns minutos.

— Tudo bem, você saberia me dizer se Ivan está em reunião?

— Não senhora.

— Por favor me chame de Hana, isso faz com que eu me sinta tão velha. –Acabo rindo e ela concorda ruborizando.

— Me desculpe, Hana. — Ela olha para trás apreensiva e ergo a sobrancelha a observando.

— Aconteceu alguma coisa Amanda? Você parece meio assustada.

— Não é que o senhor está meio ocupado agora, talvez devesse voltar mais tarde. — Sorri sem graça.

— Ivan está no escritório? — Pergunto desconfiada.

— Sim senhora. — Ela desvia o olhar.

— Com quem Amanda? Me diga. — Sinto o nervosismo tomar meu corpo.

Já desconfiava que ele estivesse me traindo, mas bem embaixo do meu nariz era demais. O desgraçado não tem a decência de ir para o motel, está usando a livraria para seus shows.

— Pode deixar que eu mesmo tiro minhas próprias conclusões. — Afirmo caminhando para os fundos em direção ao escritório de Ivan. Os sons dos meus saltos ecoam pelo piso que imita madeira seguindo as batidas frenéticas e descompassadas do meu coração.

Ao meu aproximar escuto barulhos de gemidos exagerados o que faz meus olhos se enxerem de lágrimas. Já sabia da verdade, só não queria acreditar e agora a dor se espalha por meu peito e tremores de ódio e raiva tomam meu corpo. Apesar das nossas brigas e das minhas desconfianças queria acreditar com todo o meu ser que Ivan não teria coragem de me trair.

Os sons aumentam e a dor em meu peito também, as lágrimas já rolavam solta por meu rosto e sei que deveria ir embora, mas não antes de ver com meus próprios olhos e ter a absoluta certeza de que ele realmente estava fazendo aquilo, destruindo o nosso casamento, a nossa família por momentos e em um rompante de raiva abro a porta confirmando com meus próprios olhos o que os meus ouvidos já sabiam.

Ivan segurava Karina debruçada sobre a mesa de madeira enquanto movia o quadril com força penetrando-a por trás, os gemidos que ecoam de sua garganta me enojam e o prazer estampado em seus rostos me causa ânsia. O suor escorre do rosto de Ivan descendo por seu pescoço enquanto ele segura os cabelos de Karina com força, seus cabelos castanhos estão bagunçados e a pele de seu peito marcada com os dedos de Karina.

O ódio que sinto é tão grande que minhas mãos tremem. Ódio por todas as nossas brigas, por todas as vezes que desconfiei da sua fidelidade ao sentir cheiros de perfumes femininos em suas camisas e ele me chamar de louca, por todos as noites que ele me recusou quando o procurei.

— Hana? — Saio do meu torpor quando vejo Ivan procurando as calças e Karina tentar tampar sua nudez com a camisa preta com detalhes vermelhos que eu dei de presente no seu último aniversário.

O ódio que sentia era tanto que minha única vontade era avançar em Ivan e esbofeteá-lo até sentir minhas mãos doerem, entretanto contenho minha raiva fecho a porta e sigo em direção a saída a passos rápidos e decididos.

— Hana minha flor. — Ouço Ivan gritar e bato a porta de entrada com força o deixando lá dentro.

O ódio só aumenta ao ouvir aquele apelido que tinha tanto significado para mim, já que foi escolha dos meus pais por amar a cultura japonesa escolher um nome com esse significado. Sabendo disso, Ivan sempre me chamou de minha flor, confesso que gostava do gesto de carinho e me sentia especial, mas agora o odeio com todas as minhas forças.

Mal vejo os pedestres que caminham e acabo trombando em alguns, as lágrimas embasavam minha visão e a dor que consumia cada cantinho do meu coração não colaboravam em nada. Continuo meu percurso sem rumo por mais tempo do que deveria e meu celular vibra incansavelmente dentro da bolsa que levava agarrada ao corpo como um porto seguro. Ignoro todas as chamadas e me sento em um banco de uma praça observando o nada e o tudo ao mesmo tempo. Minha mente parecia vazia e tão cheia, os sons dos carros, crianças correndo, casais rindo, dos pássaros voando, deveria ser tudo tão significativo e belo, mas era tão sem sentido naquele momento.

Estava me sentindo suja, trocada, feia e me perguntava o que Karina tinha que eu não tinha. O que Ivan via nela que não via em mim? Eu realmente queria saber, entender o que se passava na cabeça dele. Nos últimos meses me esforcei tanto, me arrumei, cuidei de mim, passei a frequentar salões de beleza todas as semanas, apenas para ser notada, mas de nada adiantou.

Meu telefone toca novamente e descido ver quem insistia em me ligar. Se fosse Ivan queria manda-lo para puta que o pariu com todas as forças que eu tinha, mas ao ver que era Jana atendendo sua ligação.

— Hana onde você está? Estou te esperando. — Diz animada.

— Acabei de pegar Ivan me traindo com Karina. — Desabafo e o silêncio do outro lado da linha não é nada reconfortante.

— Onde você está? Estou indo para sua casa agora. — Diz preocupada e as lágrimas tornam a descer.

— Não sei bem, caminhei até uma praça, mas vou pegar um táxi, Daisy está com Barbara, preciso voltar pela minha filha, mas não quero Ivan lá dentro. — Afirmo com raiva.

— Se acalme, vá para casa que chego lá em alguns minutos.

— Ok. — Digo cansada e essa não era bem minha vontade.

Se eu pudesse e não tivesse uma filha pequena esperando por mim em casa, pegaria o primeiro ônibus e iria para um lugar qualquer espairecer minha mente, deixar a raiva em meu peito se dissipar e só então retornaria para ir atrás dos meus diretos, mas não posso fazer isso. Não posso deixar minha filha nas mãos de um sem vergonha que só pensa nele mesmo.

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