- AFRODITE -
O olhar de decepção do meu pai...
O tom de voz grave do Russo ao me defender ...
Os pedidos de perdão da Brenda ...
Tudo isso fica pra trás quando a dor dilacerante no meu peito se junta com a da minha nuca me fazendo desmaiar , mas não é um desmaio onde eu não sinto nada.
Nesse momento eu sinto tudo , principalmente um frio capaz de congelar a minha alma .
Eu ouço os gritos ao meu redor , sinto meu corpo ser suspenso, abraçado, beijado e molhado por lágrimas que não são as minhas .
Ouço a voz rouca e tento me concentrar nela , me apegar a ela ao sentir a escuridão me puxar.7
Eu não quero ir . Não agora que sei que meu sentimento por ele é recíproco .
Russo - Fica comigo , pretinha . Porra , eu ainda nem falei o quanto eu te ... - a frase se perde quando sinto uma fisgada no peito que faz meu corpo entrar em colapso e a escuridão se fazer presente em tudo .
Algum tempo se passa , eu não sei quanto . Mas quando eu volto a sentir e ouvir são várias vozes diferentes que ouço , mas o bip irritante é quem de certa forma me faz entender onde estou.
Hospital .
Sinto minha carne ser cortada , revirada e puxada por algo frio que ao sair de mim leva também meus sentidos .
Pisco meus olhos tentando me acostumar com a luz forte diante de mim e quando finalmente consigo rodo meu olhar pelo lugar .
É um quarto , tão branco que chega a doer nos olhos .
Ao lado da cama onde eu estou deitada tem uma pequena mesinha , encima dela uma fotografia de dois adultos e três crianças que por mais que eu force minha vista não consigo ver nitidamente o rosto de nenhum e isso me frusta .
Curiosa eu tento me mover , esticar meu braço pra pegar o tal retrato mas nenhum músculo do meu corpo responde ao comando do meu cérebro , a única parte que eu ainda consigo movimentar é a cabeça , com muita dificuldade e dor .
Flashs da minha queda passam na minha mente , focando no fato de eu ter batido forte com a nuca em algo e o medo se faz presente dentro de mim ao imaginar o pior .
Com isso as lágrimas saem sem controle , rolando pelo meu rosto deixando um rastro quente por onde passam .
"Volta pra mim , pretinha ... "
A voz embargada surge de algum lugar e eu me desespero ainda mais.
-- Bóris ? Cadê você ? - olho de um lado pro outro , procurando por ele ou por qualquer outro rosto familiar mas , não acho.
Eu estou sozinha .
-- Por favor , alguém ? - uso todo o ar dos meus pulmões pra gritar .
Mas ninguém aparece .
Fecho meus olhos com força pedindo interiormente pra acordar desse pesadelo ou seja lá o que isso for.
Não é real . Nada disso é real .
Repito inúmeras vezes pra mim mesma , até ser interrompida.
" O carma é uma droga né ?"
O tom feminino que eu bem conheço sussurra perto do meu ouvido e assustada eu tento me afastar .
Falho miseravelmente.
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