- AFRODITE -
Um ...
Dois ...
Três ...
Contei mentalmente quando os fogos explodiram no céu escuro , esperei pelo barulho dos tiros mas eles não vieram .
Respirei aliviada por isso .
Pode ser algum maluco fazendo gracinha , sempre tem um pra isso.
Brenda - Quer comer , amiga ? - sua voz soou pelo pequeno quarto de hospital - Não comeu nada desde que acordou .
-- Eu estou bem , obrigada . Talvez mais tarde - sorrio pra ela parada na porta vestida com o jaleco branco , tá linda , exalando aquele ar de mulher empoderada - Minha médica particular - penso em voz alta tirando um sorriso do seu rosto.
Brenda - Minha gravidinha - faço cara fofa movendo a cabeça lentamente sentindo o colar no pescoço - Vou atender um paciente ali e já volto pra ficar com você. Tudo bem ? - faço um joinha e ela some da minha vista.
- De qual foi ? Dá um tico dessa gororoba aí , Jão . Larga mão de ser miserento.
Jão - Sai , seu passa fome . Isso é pras minhas netas - ouço ele do lado de fora e logo sua cabeça platinada surge na porta , desço meu olhar pra sua mão que tem um copo descartável com alguma coisa branca dentro - É mingal de aveia - faço careta , até hoje eu não comi um que valesse a pena - Com leite "condenado" , a dona da cozinha falou que é bom pra grávida, ajuda na "fabricação" do leite .
-- E eu vou fazer o que com leite agora ? Sendo que ainda falta quase oito meses pros bebês nascerem .
Jão - Mas tá respondona , Deus é mais - resmunga vindo até mim , ele puxa uma cadeira do canto e senta na minha frente - Abre a boca ai , vai comer o bagulho porque eu não fiquei meia hora ouvindo a velha lá me paquerando atoa não - veio com a colher cheia pro meu lado .
Dou uma olhada no mingal dentro da colher , algumas bolhas encima e a textura estranha .
Parece gala . Penso , e com esse pensamento abro a boca comendo da aveia que depois da quinta colherada fica uma delícia .
-- Até que não é ... - sou interrompida pelo barulho do seu rádio que apita no banheiro do quarto - Ue , como ele foi parar lá ? - meu pai me olha desconfiado e levanta deixando o copo nas minhas mãos.
Observo ele ir e voltar rápido falando com alguém que eu julgo ser o Russo , até tento conversar com ele mas assim que eu acho que consigo o rádio descarrega , ou sei lá o que .
Acho mesmo que ele nem prestava mais .
-- Tem que trocar por um novo - comento devolvendo o aparelho pro dono - Não é porque o senhor tá velho que as suas coisas tem que ser também.
Jão - Ó Afrodite , eu acabei de fazer 40 anos , tô na flor da idade , dá licença - ele se abaixa deixando um beijo terno na minha testa - Russo vai fazer 41 mês que vem . Fosse assim teu macho tava com o pé na cova .
Pronto , com isso ele me fez pensar em nunca mais brincar com a sua idade .
-- Credo pai , não sabe brincar não desce pro playground - ele dá risada - Seu tóxico.
Jão - Volto logo , tá ? - ele desce depositando um beijo na minha barriga , me deixando sem reação pelo seu ato - O vovô volta logo , minhas princesas. - dito isso ele sai .
Fico toda emotiva e começo a chorar igual uma condenada , eu ainda não parei pra pensar direitinho em como vai ser daqui pra frente comigo grávida . Sei que meus bebês estão aqui e tô feliz de ter eles mas , sei lá ... É um tipo de amor novo , sem medidas que me deixa tão vulnerável .
Com tanto medo de ficar sem eles por causa da loucura que virou a minha vida .
Ultimamente eu só tenho me fodido , e nem é no sentido sexual da palavra , quem dera fosse.
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