CALIENTE (morro) romance Capítulo 46

- AFRODITE -

Um ...

Dois ...

Três ...

Contei mentalmente quando os fogos explodiram no céu escuro , esperei pelo barulho dos tiros mas eles não vieram .

Respirei aliviada por isso .

Pode ser algum maluco fazendo gracinha , sempre tem um pra isso.

Brenda - Quer comer , amiga ? - sua voz soou pelo pequeno quarto de hospital - Não comeu nada desde que acordou .

-- Eu estou bem , obrigada . Talvez mais tarde - sorrio pra ela parada na porta vestida com o jaleco branco , tá linda , exalando aquele ar de mulher empoderada - Minha médica particular - penso em voz alta tirando um sorriso do seu rosto.

Brenda - Minha gravidinha - faço cara fofa movendo a cabeça lentamente sentindo o colar no pescoço - Vou atender um paciente ali e já volto pra ficar com você. Tudo bem ? - faço um joinha e ela some da minha vista.

- De qual foi ? Dá um tico dessa gororoba aí , Jão . Larga mão de ser miserento.

Jão - Sai , seu passa fome . Isso é pras minhas netas - ouço ele do lado de fora e logo sua cabeça platinada surge na porta , desço meu olhar pra sua mão que tem um copo descartável com alguma coisa branca dentro - É mingal de aveia - faço careta , até hoje eu não comi um que valesse a pena - Com leite "condenado" , a dona da cozinha falou que é bom pra grávida, ajuda na "fabricação" do leite .

-- E eu vou fazer o que com leite agora ? Sendo que ainda falta quase oito meses pros bebês nascerem .

Jão - Mas tá respondona , Deus é mais - resmunga vindo até mim , ele puxa uma cadeira do canto e senta na minha frente - Abre a boca ai , vai comer o bagulho porque eu não fiquei meia hora ouvindo a velha lá me paquerando atoa não - veio com a colher cheia pro meu lado .

Dou uma olhada no mingal dentro da colher , algumas bolhas encima e a textura estranha .

Parece gala . Penso , e com esse pensamento abro a boca comendo da aveia que depois da quinta colherada fica uma delícia .

-- Até que não é ... - sou interrompida pelo barulho do seu rádio que apita no banheiro do quarto - Ue , como ele foi parar lá ? - meu pai me olha desconfiado e levanta deixando o copo nas minhas mãos.

Observo ele ir e voltar rápido falando com alguém que eu julgo ser o Russo , até tento conversar com ele mas assim que eu acho que consigo o rádio descarrega , ou sei lá o que .

Acho mesmo que ele nem prestava mais .

-- Tem que trocar por um novo - comento devolvendo o aparelho pro dono - Não é porque o senhor tá velho que as suas coisas tem que ser também.

Jão - Ó Afrodite , eu acabei de fazer 40 anos , tô na flor da idade , dá licença - ele se abaixa deixando um beijo terno na minha testa - Russo vai fazer 41 mês que vem . Fosse assim teu macho tava com o pé na cova .

Pronto , com isso ele me fez pensar em nunca mais brincar com a sua idade .

-- Credo pai , não sabe brincar não desce pro playground - ele dá risada - Seu tóxico.

Jão - Volto logo , tá ? - ele desce depositando um beijo na minha barriga , me deixando sem reação pelo seu ato - O vovô volta logo , minhas princesas. - dito isso ele sai .

Fico toda emotiva e começo a chorar igual uma condenada , eu ainda não parei pra pensar direitinho em como vai ser daqui pra frente comigo grávida . Sei que meus bebês estão aqui e tô feliz de ter eles mas , sei lá ... É um tipo de amor novo , sem medidas que me deixa tão vulnerável .

Com tanto medo de ficar sem eles por causa da loucura que virou a minha vida .

Ultimamente eu só tenho me fodido , e nem é no sentido sexual da palavra , quem dera fosse.

Fungo olhando pro copo na minha mão, ainda tem um pouco de mingal , termino de comer enquanto choro.

A cena me lembrando o meme daquela menininha gordinha .

Ô vida !

-

Coxilo um pouco e acordo com a sensação de estar sendo observada .

Meu olhar vai direto pra janela de vidro aberta , o vento da madrugada que entra por ela me faz estremecer de frio .

Respiro fundo puxando o lençol até cobrir meus ombros , engolindo a saliva ao sentir minha garganta seca , quando fica assim é quando ela mais dói.

- É verdade - me assusto com a voz do meu lado , olho na direção pegando o olhar do coroa baixinho em mim - Que você está grávida ? - aponta pra minha barriga.

-- Oi ? - franzo o cenho tentando entender como essa praga entrou - Acho que isso não te interessa - sou ríspida.

Zeca - Não precisa ficar na defensiva , eu só vim te pedir um favor - me mexo , desconfortável com minha posição , estranhamente eu não estou com medo , não parece que ele veio pra me machucar - Quer ajuda ?

Confirmo e ele se aproxima regulando a inclinação da maca pra me deixar na posição desejada .

Ficamos nos olhando por um tempo até ele falar novamente.

Zeca - Eu não quero problemas - fala com a voz cansada me olhando do mesmo jeito - Só quero o meu muleque . Fiquei sabendo a pouco tempo que o Russo pegou ele e vim , vim sozinho pra ter um contigo . Tô até desarmado pra tú entender que eu não tô de maldade - ele ergue a camiseta dando uma volta , mostrando que fala a verdade - Russo já sabe que eu tô aqui contigo e se ele se importa como eu fiquei sabendo que sim , hora dessa ele deve tá chegando aí - aponta pra trás - Eu só preciso que tú interceda pelo meu Gam , pelo pai do teu filho .

-- O pai do meus filhos é o Russo - afirmo encarando ele - E porque eu ajudaria ? Leonaro tentou me sequestrar, Zeca , e o outro ...

Zeca - Não fala do Wid , aquele desgraçado. Maldita foi a hora que eu tirei ele da rua e criei como se fosse meu , fui bom pra ele a vida toda e aquele ingrato só levando meu menino pro mal caminho . Tu sabe , Di , Gam não é ruim . Não do jeito que o Wid é . Eu sei que tú sabe .

Respiro fundo , concordando .

-- Mas hora dessa eles devem estar mortos , os dois - comento , me ouvir falar isso me faz sentir um mal estar enorme .

Zeca - Não fala assim - ele se aproxima , me olhando preocupado - Tá passando mal ?

-- Eu acho que vou vomitar - aviso sentindo o ácido na garganta , Zeca age rápido pegando o lixeiro e trazendo pro lado da maca , ele me ajuda com todo cuidado do mundo a ficar de lado.

No mesmo instante que eu começo sentindo as mãos dele segurar meus cabelos pra trás a porta é arrombada e um brutamontes barbudo com a roupa suja de sangue e olhar assassino entra por ela .

Logo atrás dele , os dois morenos mais lindos desse Vidigal .

Porra !

Se eu não tivesse tão desesperada tentando parar de vomitar eu até daria a atenção que essa cena merece.

Jão - Sai de perto da minha filha , seu fodido de merda - eu sinto o Zeca ser puxado quase me fazendo cair sem o sustento que ele estava me dando e logo em seguida os braços fortes do meu homem tomarem o seu lugar .

Russo - Ele te machucou ? - nego em meio ao choro , ouvindo o Zeca gemer no chão ao ter meu pai e o Ben descendo a porrada nele .

De repente, é como se eu entendesse ele . Zeca sempre fez de tudo pelo Gam , sei que é capaz de dar a vida dele pela do filho , da mesma forma que eu daria pelos meus ou minhas .

Pensando assim eu reúno toda coragem , pedindo mentalmente pra não me arrepender lá na frente e então falo :

-- Não machuca ele - peço, me compadecendo da dor do outro - Deixa ele ir embora com o Gam , faz isso por mim Russo , por favor.

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