- AFRODITE -
- Vamos nos dividir em dois carros ... - ouço a conversa atrás de mim mas continuo olhando pra porta pela qual eles passaram .
Não sei descrever o que eu estou sentindo agora , é uma mistura de medo , desespero... Tudo de ruim multiplicado por dez.
Eu costumava sentir isso sempre que tinha invasão e meu pai estava lá , na linha de frente , mas agora é diferente . O medo é mais intenso, não é só o meu pai que está lá fora , agora quem também está é o dos meus filhos , o homem pelo qual eu sou complementamente apaixonada e que só de imaginar algo acontecendo a ele me dói na alma .
Helena - Você está bem , minha menina ? - me assusto com seu toque que me tira dos pensamentos - Desculpe , não queria te assustar.
-- Tudo bem - coloco minha mão trêmula encima da sua no meu ombro - Eu estou tentando ficar.
Brenda - Eu não vou com vocês . Tá? - ela chega falando - Estão precisando de mim no hospital e a Marisa vai me levar até lá .
Respiro fundo .
Ben , Bóris , meu pai e agora ela vai me deixar .
-- Eu não quero ir sozinha - sussuro , depois de ver o Bóris apontando uma arma pro seu Pedro eu não tenho mais certeza de que confio nele .
Helena - Eu vou com vocês , filha - ela beija minha mão que está encima da sua - Não vou te deixar sozinha com esse velho maldito que eu pensei conhecer - ela fala com raiva , alto o suficiente pro outro escutar.
Pedro - Vamos ? - engulo a saliva quando ele pega na minha mão e leva um tapão da tia Helena - Lena isso não é brincadeira.
Helena - E me usar pra chegar na Afrodite e no Russo era ? - me encolho entre eles quando ela grita .
Pedro - Eu não usei ninguém. Muito menos você , Lena. Realmente te amo e se você não acredita nisso eu não posso fazer nada . Não agora . Não tenho tempo , aliás , nenhum de nós tem - ele fala sério, parecendo ser sincero quanto ao seus sentimentos - Vamos ? Os reforços chegaram e a nossa contenção também .
Mesmo a contragosto eu aceno em concordância e nós saimos rápido de casa , podendo ouvir ao longe as rajadas de tiros que não param por um segundo .
Nos dividimos em três pra cada carro.
Eu , tia Helena e seu Pedro no dele.
Brenda , o esquisito e a Marisa no dela .
Me acomodo no banco do carro sentindo ele se locomover com pressa pelas ruas do Vidigal e seguro a barra do colete do Bóris que está em mim , rezando baixinho pra Deus proteger ele , meu pai e meus amigos nesse confronto.
De repente , me assusto quando o carro freia bruscamente , meu corpo escorrega pra frente e é segurado pelo cinto que se aperta sobre a minha barriga .
Gemo de dor , levando em torno de cinco segundos pra entender que foi a tia Helena quem puxou o freio de mão propositalmente.
Pedro - Ficou maluca mulher ? Quer matar a gente ? - ele grita com ela e me olha pelo espelho interno - Se machucou jovem Afrodite?
Balanço a cabeça , sentindo uma dorzinha no pé da barriga que eu tento aliviar ao soltar o cinto e massagear a área dolorida .
Helena - Volta , volta agora ! - ela tenta abrir a porta mas todas estão trancadas - Eu preciso ...
Pedro - Viu o que você fez ? Machucou a garota - ele respira fundo - Porque isso agora , Lena ?
Helena - Me desculpe minha menina. Não queria te fazer mal , mas a tia Helena não pode te acompanhar . Ela precisa salvar o menino dela .
Ela usa de um segundo que eu e o seu Pedro nos olhamos confusos pela sua fala e aperta o botão , destravando as portas e sai do carro .
Os próximos segundos passam lentamente diante dos meus olhos .
Ela passando correndo ao lado da minha janela ...
O Ben saindo as pressas do beco mais atrás com o fuzil na frente do corpo ...
Ela correndo até ele mesmo que o moreno fizesse gesto pra ela voltar pro carro ...
A luz de um laser brilhando no peito do meu amigo e ela o abraçando um segundo antes do som ensurdecedor de um tiro ser ouvido por nós...
Prendo a respiração , meu mundo desabando lentamente encima de mim ao ver os dois cairem juntos no chão .
-- Não . Não . Não ! - grito desesperada sentindo meu peito doer diante da cena .
Tento sair do carro pra correr até eles , me recusando a acreditar no que vejo mas o seu Pedro me impede travando as portas novamente .
Ele fala algo sobre estamos no meio do confronto , mas eu não o escuto direito . Minha dor me deixa parcialmente surda e eu só consigo olhar na direção das duas pessoas que desde que eu me entendo por gente faziam parte da minha vida .
Os homens da nossa contenção disparam na direção de onde veio o tiro e correm pra eles , mexendo nos dois e balançando a cabeça em negativa ao constatar o óbvio.
Não , não quero acreditar que ambos estão mortos , não posso acreditar.
Grito de dor , raiva de mim mesma.
-- Isso tudo é culpa minha - choro deitando no assento em posição fetal , sentindo meus bebês agitados .
Eles estão sentindo a minha dor , tenho certeza .
Pedro - Droga ! - ouço ele socar o volante - Que merda , Lena . Sua teimosa do caralho ! - ele grita .
Fecho meus olhos chorando, meu coração doendo sem medidas .
Isso tem que ser um pesadelo, não pode ser real .
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