CALIENTE (morro) romance Capítulo 85

- RUSSO -

Raiva , ódio . Isso é tudo que eu tenho sentido desde que me passaram a visão que a Helena morreu , que o Ben foi levado as pressas pro hospital porque também estava morrendo e que tinham pegado a minha mulher .

Porra , a minha mulher !

Então eu lembrei do que o velho Pepe, aquele maldito a quem eu confiei a segurança da minha família e que não cumpriu com o combinado , disse .

" Sangue se paga com sangue "

Pô , eu fui cego , possuído mermo .

Desci da lage em que eu estava dando cobertura pros menor que iam pelo chão e fui atirando em quem via pela frente até a base que a gente usa pra torturar os filhos da puta .

Entrei indo direto pra sala de tortura em que a desgraçada da Tabita estava amarrada com as mãos pra cima e dei um tiro na corda que se rompeu no tamanho certo pra mim pegar e arrastar ela morro abaixo sem me importar com seus gritos e pedidos de socorro que só pararam depois que ela desmaiou ...

Jão - Irmão? Cadê tú ? - sua voz saiu do rádio que eu peguei do colete e apertei no botão dando minha resposta.

-- Tô descendo pra principal - parei um momento ao entrar no beco e olhei pra cima vendo o Gege e o Sabiá pular de uma lage a outra me dando a cobertura pra nada me pegar de surpresa - Pegaram a Afrodite .

Jão - Filhos da puta ... Vai fazer o que ?

-- Vou mostrar pra esse desgraçado o que acontece com quem encosta na minha mulher.

Jão - Eu tô indo prai ... Fiquei sabendo que os homens do Pepe tão botando pra fuder junto com os nossos e os verme tão recuando .

-- Vai deixar a Brenda sozinha ? - perguntei .

Logo depois que ficamos sabendo que tinham matado a Helena ele largou tudo e correu pra ficar com ela no hospital , fez o papel que qualquer homem deveria fazer numa situação igual aquela .

Jão - Deram um bagulho pra minha loira se acalmar e ela acabou dormindo . Não tenho mais o que fazer aqui . Depois que tudo acabar eu volto .

-- Beleza então. Vem preparado .

Jão - Sempre irmão. Se cuida . Morre não que eu tô chegando.

-- Morrer e deixar a tua filha pra ela arrumar outro pros meus filhos chamarem de pai ? Deus me livre .

Jão - Chei das idéia errada. Marca cinco que eu chego aí .

Me despedi dele e guardei o rádio , no mesmo instante que ouvi o grito que eu reconheceria a km de distância . O da minha mulher, que fez eu apressar meus passos pra chegar o quanto antes nela.

-

Analiso toda a cena enquanto caminho até eles , minha pretinha me olha assustada e é impossível controlar meus olhos que descem do seu rosto pra sua barriga notando a arma ser pressionada ali e param nas suas pernas que brilham como se algo estivesse sido derramado nelas .

Engulo a saliva , algo na minha mente me alertando que tem parada errada relacionada aos nossos filhos .

- Ela está morta ? - o policial magro e alto atrás da Afrodite pergunta sem tirar os olhos da pessoa desacordada que eu solto entre nós três .

Minha vontade é de descer o tiro nessa cara de puta que ele tem mas eu respiro fundo e tento me convencer que agora não é a melhor hora .

Afrodite está entre nós e qualquer tiro mal calculado pode pegar nela .

-- Não sei . Confere aí - olho sério pra ele , controlando meu timbre de voz .

Eu tô ciente que esse corno tá sozinho porque a tropa dele recuou , tá confiante só porque tem a minha mulher como escudo humano mas isso vai mudar logo logo .

Ele vira de lado segurando a Afrodite que geme com o seu movimento e ergue o pé mexendo na preta desarcordada que está toda ralada e ensanguentada no chão .

Uma fala , um segundo e um piscar de olhos é tudo que eu preciso pra libertar minha família .

E então acontece...

Afrodite - Viu só ? Seu filho não existe , nunca existiu. Se ela estivesse mesmo grávida você não acha que ela estaria sangrando agora ? - sua fala soa sufocada , como se estivesse usando todo o restinho de forças que ela tem pra fazer isso.

Meu peito dói , aquele tipo de dor que me dá só de imaginar algo de ruim acontecendo com ela.

- Se ele não existe , os seus também não vão ! - ele grita tirando a arma da barriga dela , subindo pra cabeça , e antes que ela chegue ao seu destino final eu ajo.

Ergo minha mão numa velocidade fodida e a fecho no seu pulso torcendo com toda a força que eu tenho pra trás das suas costas , forçando ele largar a arma no chão .

Ele grita de dor .

Num segundo eu vou parar atrás dele deslizando meu antebraço pelo seu pescoço , num mata leão .

-- Solta ela - mando , ouço ele grunhir e Afrodite gemer , um gemido de dor que faz meu peito pegar fogo de tanta raiva - Agora seu fodido !

- Se eu morrer , ela e os bebês também vão - ele fala com dificuldade e eu percebo quando seu braço fica rígido deixando evidente que ele aumentou a força ao redor do pescoço dela.

-- Ahh , mas não vão mesmo - respiro fundo trincando meu maxilar , não gosto de fazer isso mas nesse momento eu não tenho outra escolha .

Um piscar de olhos , é o que eu uso pra soltar a mão dele e subir com a minha pro topo da sua cabeça enquanto a outra eu encaixo no seu maxilar.

Puxo ambas ao mesmo tempo , como se fosse só estralar mas com a força suficiente pra quebrar.

O crack que deixa claro que seu pescoço foi quebrado é ouvido por mim e seu corpo amolece instantanemente assim como o da Afrodite que eu seguro antes que caia no chão.

Desmaiada.

A levo pra longe dos dois e a coloco no chão devagar conferindo seu pulso.

Fraco , quase inexistente.

-- Merda - me viro pra trás vendo os meus tudo de olhos arregalados olhando pra cena e volto a olhar pra ela , desesperado , ela não pode me deixar , não depois de tudo que a gente passou pra ficar junto - Pretinha ! - toco seu rosto me debruçando sobre ela - Pelo amor de Deus Afrodite. Não faz isso comigo .

Me afasto um pouco , pensando.

Eu não posso perder essa mulher , não posso perder meus filhos .

Respiro fundo , sentindo meus olhos arderem e as lágrimas se acumularem neles .

-- Tú não vai me deixar , sua filha da puta - coloco minhas duas mãos no seu peito , fazendo pressão por cima do colete .

Eu não sei se vai dar certo mas eu rezo mentalmente pra funcionar.

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- AFRODITE -

Sinto uma pressão em meu peito e puxo o ar lentamente , enchendo meus pulmões, antes de abrir meus olhos e encarar a imensidão acinzentada que me olha aliviado.

Russo - Oi meu amor - sorrio pra ele sentindo meus olhos encherem de lágrimas - Pensei que tinha te perdido , pretinha - ele se abaixa me dando um selinho - Não faz mais isso comigo.

-- Você nunca vai me perder , amor - toco seu rosto puxando ele pra pertinho e o abraço sentindo toda a segurança que ele me dá - Você está bem , tá machucado ? - tento levantar e sinto uma fisgada na lombar que irradia pro meu corpo todo me fazendo gemer de dor.

Russo - Eu tô bem - ele se afasta um pouco e olha preocupado pro meu rosto - O que foi ? Tá sentindo o que ?

Puxo o ar pela boca , prendo e solto devagar pelo nariz antes de falar :

-- Eu não sei ... - arfo - Eu senti um líquido escorrer , minha barriga doia muito e os bebês estavam agitados - levo minha mão até meu ventre e não sinto eles movimentarem , me desespero e começo a chorar - Eles não estão mexendo amor .

Bóris acompanha meu movimento e volta seu olhar pro meu , umedece os lábios e levanta fazendo sinal pra mim ficar quietinha.

Chorando , eu observo ele tirar o radinho do bolso do colete que ele está usando e apertar o botão ...

Russo - Qual foi barriga . Chega aqui na principal , tô precisando de um carro pra levar minha mulher pro hospital .

Barriga - Marca dois , chefe . Vou só soltar os fogos pra avisar que a barra tá limpa pros morador ficar mais tranquilo e vou.

Russo - Não , filho da puta . Tú vai mandar outro fazer isso e vai vim fazer o que eu mandei . Agora porque é a vida dos meus filhos que estão em jogo .

Barriga - Jaé , jaé . Tô indo .

Ele guarda o rádio e respira fundo me olhando , seus olhos brilham com as lágrimas acumuladas mas ele não as deixa cair .

Gege - Ou , fica no chão piranha ! - ouço ele gritar e giro minha cabeça na sua direção vendo o moreno encima da lage apontando pra algo no chão, não tão longe da gente .

Meu coração palpita ao lembrar da Tabita .

É pra ela que ele está apontando , tenho certeza.

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