CALIENTE (morro) romance Capítulo 86

- Jão -

Desgraça quando vem , nunca vem sozinha .

É um ditado que agora eu tô começando a botar fé.

O morro sendo invadido , Helena morrendo , Ben em cirurgia e minha filha sendo pega pra servir como moeda de troca.

Porra , e isso tudo por culpa minha que não matei a desgraçada da Tabita quando pude .

Teve que acontecer toda essa merda pra mim entender que gente ruim , traira não se deve manter na terra.

Mas isso acaba hoje , quero nem saber.

Entro na principal pilotando minha moto , de longe eu já vejo uma pá de neguin ao redor do safado de quase dois metros de altura que me surpreendeu ao deixar a putaria tão facilmente pra assumir minha menina e bater de frente com quem quer que viesse por ela , meu genro.

Parada estranha pra caralho de se falar. Eu eim.

Encosto não muito longe deles e de cara meu olhar vai pra minha deusa deitada no chão, as mãos no rosto e o choro abafado mostrando que ela tá sentindo algum tipo de dor .

Desço da moto segurando a mala com os bagulho de tortura que eu fiz questão de passar na base pra pegar e caminho em passos rápidos até ela ouvindo meu irmão dar algumas ordens pros meninos mais a frente.

-- Oi papai - coloco a mala no chão e me abaixo ao seu lado tocando seus cabelos - Tá sentindo o que minha deusa ?

Afrodite - Eu não tô , pai ... - ela desliza as mãos pra lateral do rosto limpando as lágrimas e então completa - Não tô sentindo meus bebês - ela chora - Nenhum dos três.

Minha garganta se fecha na hora , ver Afrodite chorando sempre me doeu mais do que eu gostaria . Pô , minha única filha , minha princesinha , tá ligado ?

Aquela que veio pra realizar meu sonho de ser pai e agora de ser avô .

Não falei pra ela mas eu tô tão animado pra ser avô que eu já comecei a reformar um dos quartos da minha casa pros meus netos ficarem , já comprei vários fardos de fraudas e uma pá de roupinhas pra eles , principamente pra princesinha que é a mais esperada por mim , uma mini deusa , nem nasceu e eu já daria a minha vida por ela , papo reto.

Respiro fundo , o nó na minha garganta dói , dói por tudo de ruim que tem acontecido com a gente desde que a Tabita nos traiu .

Ela é a culpada por tudo , eu também sou e se algo chegar a acontecer com meus netos eu tenho certeza que eu nunca vou me perdoar por isso .

Nem o Russo vai .

Solto o ar de uma vez e me inclino sobre ela deixando um beijo terno na sua testa.

-- Se acalma meu amor , fica quietinha - olho pra frente ao ouvir o ronco de um motor e vejo a caminhote blindada do Russo entrar na rua , volto meu olhar pro dela - Vai ficar tudo bem , tá ?

Devagar eu deslizo meu braço direito pela sua nuca e o esquerdo por suas coxas podendo sentir seu short molhado , me preocupo mais ainda em ser delicado na hora de tirar ela do chão e a levar até o carro .

Afrodite - O Bóris ... Não deixa nada acontecer com ele pai . Por favor , não deixa - olho rapidamente pra ele .

Imponente de braços cruzados enquanto observa os seus segurar os braços e pernas da Tabita deixando ela imobilizada no chão, ele com certeza está pensando em como vai acabar com a vida miserável dela , até parece que vai precisar da minha ajuda pra alguma coisa .

Vai porra nenhuma, mas mesmo assim eu falo o que minha menina quer ouvir , tudo pra deixar ela mais calma.

-- Eu não vou minha deusa. - observo o barriga abrir a porta do carona e deitar o assento pra ela que eu coloco devagar ali - Assim que acabar aqui a gente vai ir pra ficar com você. Se Deus quiser nada de ruim vai ter acontecido com os bebês.

Tento ser positivo.

Barriga - Eu mando notícias , chefia. Fica sussa. - encaro o gordo e aceno em concordância.

Russo - Não solta ela que eu já volto - me viro na direção da sua voz bem a tempo de ver ele correndo até nós - E aí irmão? - ele bate no meu ombro e faz gesto pedindo , ou melhor , mandando eu sair da porta .

Dou um beijo na testa da minha menina e obedeço , sei como é importante pra ela ter ele por perto e por isso não me oponho, não mais.

Afrodite - Eu tô com medo dos nossos filhos terem ... - ela não termina a frase mas eu sei que assim como eu ele também sabe qual é o medo dela , também é o nosso .

Russo - Ei , ei - ele segura o rosto dela e beija a ponta do seu nariz - São nossos filhos meu amor , são fortes como o pai e guerreiros como a mãe ...

Ele continua falando e é impossível controlar algumas lágrimas que escorrem pelo meu rosto , lágrimas de ódio.

Isso tudo é culpa minha - torno a repetir.

"Eu poupei a vida dela , mas e ela ? Vai poupar as nossas ?"

Foi o que eu falei pro Russo alguns dias depois de deixar a Tabita viva  .

Bom , depois dela tentar matar a nossa filha que já estava grávida no hospital eu acho que tive a minha resposta.

Russo - Dessa vez é pra ir até o fim - paro de pensar quando sinto seus dois tapa no meu braço e o encaro confuso - Eu vou começar e tú vai terminar essa porra porque eu tô cansado da minha mulher sofrer as consequências da tua compaixão por quem só merece uma bala no meio da testa.

Aceno em concordância sabendo do que ele está falando e olho por um instante pro lado vendo a caminhonete dobrar a esquina com rapidez.

Que Deus proteja minha filha e meus netos .- peço mentalmente e ergo a mão colocando por dentro do colete puxando a corrente com pingente de crucifixo que a minha deusa me deu e beijo com toda a fé que eu tenho antes de devolver pro seu lugar.

Afinal , Deus não compactua com o que vamos fazer a seguir.

☡-☡

Abro a mala tirando os bagulho de dentro e levanto olhando pra ela , toda arranhada , com sangue seco nas roupas me olhando enquanto chora.

Tá achando que esse choro falso vai me convencer como convenceu na primeira vez .

Vai porra nenhuma , dessa vez eu vou até o fim . Doa a quem doer.

Tabita - Por favor, João , pensa em tudo que a gente viveu e não deixa ele me matar. Por favor ...

-- Assim como tú pensou no fato da Afrodite ser nossa filha quando tentou matar ela estrangulada ?

Tabita - Não fala daquela ingrata ! - ela berra - Aquela garota sempre teve tudo que quis , mais atenção, mais amor - ela tenta se soltar do aperto dos mano e eles rir apertando ainda mais os pulsos e calcanhares dela contra o asfalto frio - Nunca mereceu nem a metade de tudo que fizeram por ela .

Russo - Inveja ... - ele mete a mão no bolso da sua calça jeans e tira o canivete suíço rodando ele na mão , parece está tranquilo mas seu olhar queima como o inferno de tanto ódio - Levanta ela - manda e os meninos obedecem - Fez tudo isso por inveja da tua própria filha ?

Tabita - Inveja daquela vagabunda ? Por favor né , nem sonhando. Cuidado viu , ela é uma puta e quando você perceber vai está com um belo par de chifres enfeitando sua cabeça .

Ela rir destilando seu veneno, tirando todo o restinho de paciência que eu e ele tinhamos.

Caminho até ela com a intenção de fazê-la calar a boca mas nem tenho chance pois o Russo dá um murro tão forte nela que os meninos quase caem pra mantê-la em pé.

Russo - Lava a porra da tua boca pra falar da minha mulher , sua desgraçada - ele dar outro socão e nesse seu nariz quebra e começa a sangrar - Bota o caralho da língua pra fora , agora !

Ela nega reprimindo os lábios, a coragem de meio segundo atrás indo embora ao ver ele tirar a lamina do canivete pra fora .

Russo - Vai botar não ? Beleza - ele se vira pra mim - Pega o sulfúrico e trás pra cá.

Me abaixo pegando a pequena garrafa de vidro e caminho até eles abrindo, mó cuidado pra não pingar em mim .

Essa porra queima .

Russo - Me dá aqui - entrego pra ele que nem pisca antes de jogar o ácido na coxa ferida dela .

Tabita - Seu filho da puta ! Me mata logo - ela grita .

Russo - Te matar Tabita ? Não . Tú vai sofrer pra caralho antes de ser mandada pro inferno que é o lugar que tu pertence. Vai ser torturada no talentinho por tudo de ruim que já fez nesse mundo.

Ele fala enquanto sobe deslizando a ponta do canivete e jogando o ácido pelo corpo dela que se debate e grita de dor ao sentir o líquido queimar sua pele recém cortada .

Desvio meu olhar pra mala vendo um consolo ali e a idéia atravessa a minha mente.

-- Qual foi , Tucano ? - olho pro garoto narigudo sentado na calçada rindo ao olhar pra cena , o psicopata do grupo - Quer fazer uma introdução não ? - ele aponta pra Tabita - É pô . Em quem mais ?

Tucano - Cadê ? Me dê papai - ele vem pulando como uma criança - Meu sonho vai se realizar - eu pego o baguho de quase 30cm e entrego pra ele - Ih ala , é a rola de um negão aqui - ele mostra pros outros - Vai fazer nem cosca na piranha , tem mó cara de ser arrombada.

Tabita - Jão , não faz isso comigo - sua voz soa fraca , olho pra ela que tem o olhar desesperado em mim e fico calado .

Não vou ter dó . Ela não teve da minha filha , não teve de mim , não teve de ninguém a quem ela já fez mal - me lembro de tudo ao ouvir seus gritos quando dois meninos começam a rasgar suas roupas .

A pele negra cortada começando a descascar ficando totalmente nua diante de nós.

Tabita - Eu nunca vou te perdoar por isso Jão - ela grita usando toda a sua força restante - Te desejo uma morte lenta e que aquela desgraçada da sua filha morra carregando aquelas coisas no ven...

-- Já chega ! - paro diante dela e ergo a mão dando um tapão na sua cara - Tú se faz de coitada mas eu sei que se lembra de todo o mal que  já fez pra tá aqui agora - fecho minha mão no seu maxilar apertando com força - Eu te dei uma chance da primeira vez , fiz o que nenhum envolvido faria depois de descobrir que foi corno . Eu te deixei ir Tabita. Deixei porque pensei que tú ia viver a tua vida . Mas não , eu errei e minha filha pagou por isso . Não vou errar de novo - me viro pro Russo que olha pra cena com o maxilar trincado , o ódio em pessoa - Tú quer a língua ?

Russo - Pra fazer ela calar esse bueiro ambulante ? Com certeza.

-- Toda sua - forço ela abrir a boca e ele se aproxima parando do meu lado.

Russo - Quero ver tú falar da minha mulher agora - ele força a mão na boca dela puxando a lingua pra fora e corta um pedaço grande se afastando rápido comigo quando o sangue jorra.

Tabita pende a cabeça pra frente , sua boca e nariz jorrando sangue enquanto seus olhos , lágrimas.

É uma questão de tempo pra ela morrer agora.

-- Tucano ! - chamo o muleque que aparece igual assombração do meu lado - Jesus - coloco a mão no peito.

Tucano - Obrigado , nunca me chamaram assim - sorrir falso - Geralmente me chamam de demônio, atentação ... - os cara tudo rir.

Russo - Para de graça e vai logo fazer o teu - ele corta o barato do outro que se apruma rápido.

Tucano - É pra já, chefe - ele roda o consolo na mão e me olha - Na frente ou atrás ?

Respiro fundo indo pro lado do Russo esperando que ele responda por mim, o cara manja mais de tortura que eu.

Felizmente ele entende minha atitude e responde:

Russo - Atrás . Ela vai sentar e tú vai enfiar na bruta . Sem dó - ele aponta - Não gostou de sentar numa piroca que nem dela era na época? Vai gostar de sentar nessa daí também.

O garoto obedece e força o consolo todo nela que chora e geme na mesma intensidade , bagulho feião de se ver.

Os caras que até então estavam mantendo ela em pé a soltam no chão e ela fica lá se debatendo , já nas últimas.

Russo - Acaba com isso - volto meu olhar pro dele que me estende sua glock prateada - Quero ter a certeza que essa daí nunca mais vai fazer mal pra ninguém antes de sair daqui e ir ficar com a minha mulher.

Aceno em concordância e pego da mão dele conferindo rapidamente o pente.

Puxo o ar com força pelo nariz e aponto a arma pra mulher no chão.

Aquela a quem eu jurei amar até o fim , a quem eu escolhi pra gerar a minha filha , a quem dediquei 20 anos da minha vida pra só no fim descobrir que sempre me traiu e que nunca me amou de verdade.

Aquela que agora está mutilada e que mais alguns minutos vai estar morta sem precisar da minha ajuda pra ir  mais rapido pro inferno .

Exito por um instante mas ao lembrar que algo pode ter acontecido com meus netos por culpa dela, eu disparo.

Uma , duas , três ... Até esvaziar o pente.

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