CALIENTE (morro) romance Capítulo 87

- AFRODITE -

Oligodrâmnio , em outras palavras : perda de líquido amniótico .

Foi o que eu tive .

Minha gravidez se tornou de risco por causa de vários fatores mas o principal deles é um pequeno furo na minha "bolsa" pelo qual saiu uma boa quantidade de líquido amniótico, aquele responsável pelo bom desenvolvimento dos meus bebês .

Meu parto que já era esperado pra 35° semana de gestação por se tratar de uma gravidez múltipla foi antecipado pra 30° , ou até menos . Tudo vai depender de como meus bebês vão reagir ao pouco nível do líquido essencial pras suas existências.

Se vão sobreviver a mais essa ...

Deslizo minha mão por minha barriga agora murchinha sentindo falta dos movimentos dos meus guerreiros e respiro fundo.

Juro , estou tentando ser forte e positiva depois de tudo o que aconteceu mas eu não tô conseguindo , o medo de mais alguém próximo a mim partir me assombra intensamente .

E isso pesa tanto que eu não consigo se quer fechar os olhos pra dormir .

Russo - Pretinha ? - ele abre a porta do quarto hospitalar e olha preocupado ao me ver deitada na maca com uma intravenosa conectada ao dorso da mão - Ainda não conseguiu dormir ?

Nego vendo ele se aproximar.

-- Quando vai ser ? - engulo a saliva e também a vontade de chorar .

Dói muito lembrar da perca que eu tive noite passada , mas eu estou tentando ser forte .

Embora eu esteja cansada eu estou tentando , por mim , pela Brenda , pelos meus filhos e principalmente pelo meu amigo que depois da cirurgia de remoção da bala - que atravessou o corpo da tia Helena e por pouco não atingiu seu coração - foi levado pra UTI de um hospital fora do morro .

Russo - O enterro vai ser as seis da tarde - ele fala baixo , desconfortável com o assunto .

Reprimo meus lábios ao sentir meus olhos encherem de lágrimas e puxo o ar lentamente pelo nariz na tentativa de impedir o choro que vem assim que ele deita ao meu lado na maca e me envolve com seu amor e braços fortes.

Russo - Tá tudo bem meu amor , pode chorar - ele afaga meus cabelos e deixa que eu expulse toda essa dor através do choro que me sufoca - Sei como dói perder alguém que se ama.

-- Dói muito . Eu nem me despedi dela , amor - falo no meio do choro apertando o tecido da sua camiseta - Nem a agradeci por todos os sorrisos , pelas broncas , pelo amor que ela me deu - soluço - Não falei que a amava .

Meus olhos queimam com as lágrimas quentes que brotam deles e escorrem pelo meu rosto , os fecho com força pedindo pra acordar desse pesadelo , pra ter de volta a única figura materna que eu tive como exemplo , pra vê-la nem que seja por uma última vez...

?

- Você vai cair ! Desça agora - grita a versão mais nova da tia Helena . Eu estou em pé na beira da sua lage.

Faço que não e sento olhando pra ela lá embaixo.

- A senhora não sabe como é . Ela me odeia .

Tia Helena abre os braços e os ergue na minha direção.

- Realmente , eu não sei minha menina. Mas se ela te odeia , eu te amo . E muito.

Ergo minha mão limpando as lágrimas antes que elas escorram pelo meu rosto e faço uma careta quando ela abre e fecha as mãos pra mim.

- Eu não vou pular ! - ela me olha como se me desafiasse a fazer àquilo - E se eu morrer ?

- Você já não ia pular antes ? - movo a cabeça pra cima e pra baixo - Então , a diferença é que agora eu estou aqui pra te segurar .

Faço um bico e com cuidado me inclino pra frente tomando impulso antes de cair diretamente pros seus braços que me envolvem enquanto seus lábios beijam minha cabeça.

- Nunca mais faça isso , por mais difícil que as coisas estejam ; não faça. Seja forte e enfrente tudo que vier de cabeça erguida . Prometa pra mim.

-- Eu prometo , tia . Vou ser forte ...

?

Uma fisgada no dorso da minha mão direita me acorda , me tira daquela lembrança que de certa forma me faz recuperar as forças perdidas .

Marisa - Me desculpe, eu não queria te machucar - diz recolhendo a bolsa de soro vazia , o canudo e agulha que a ligavam a mim.

Jogando ambas no lixo.

Olho pro meu dorso dolorido sentindo o frio do algodão molhado com álcool nele e ergo meu olhar pro da morena que a pouco descobri que além de ser filha de um dos fundadores do CV também é uma ótima médica.

-- Já posso ir pra casa ? - a porta do quarto se abre e meu olhar vai pro homem que entra empurrando uma cadeira de rodas , o meu homem.

Marisa - Ainda não. Mas depois do seu marido conversar "civilizadamente" comigo para que eu te liberasse pro enterro - meu peito se aperta e eu a olho - Eu não só vou te dar algumas horas pra isso como vou te acompanhar para ter certeza que você não vai levantar da cadeira ou então se esforçar .

Mordo meu lábio , sem reação.

Eu nem me despedi dela ... - foi o que eu falei pra ele e ele como sempre deu um jeitinho pra que eu fizesse isso.

Respiro fundo sentindo ele passar os braços pelo meu corpo , me levando pra cadeira de rodas.

-- Eu te amo - seguro seu rosto e olho no fundo dos seus olhos - Obrigado por tudo que fez e faz por mim .

Ele sorrir me dando um selinho .

Russo - Também te amo pretinha - outro selinho - Não faço mais que a minha obrigação - ele me coloca devagar na cadeira - Vamo tomar um banho ?

-- Juntos ? - pergunto confusa e ele sorrir nervoso.

Russo - Não , eu não tenho esse auto controle todo - ele beija a pele próxima ao meu ouvido e então sussurra : - Ia logo era te prensar na parede e te foder bem gostosinho até ver tú gozando na minha pica - suspira - Porra , foi mal pretinha - ele levanta e me olha como se tivesse cometido o pior pecado do mundo - A doutora vai te ajudar aí . Eu preciso ir alí . Depois eu volto.

Ele aponta pra trás e sai logo em seguida me deixando confusa .

Será que ele enlouqueceu ?

Marisa - E então ? Vamos ? - toca meu ombro esperando por minha resposta.

Ergo meu olhar pro azul dos seus e então aceno em concordância.

-

Passo as mãos alinhando meu vestido preto na altura dos joelhos e me ajeito na cadeira de rodas sentindo ela deslizar pelo corredor do hospital aqui do morro.

Me sinto desconfortável por estar nela mas sei que é por um bem maior , o bem dos meus filhos .

Não posso andar , me esforçar e muitas outras coisas que o repouso absoluto que o meu obstetra pediu envolve .

Olho pra paisagem do lado de fora do hospital e suspiro fundo .

Chuva ...

Daquelas que deixam o céu totalmente escuro com direito a trovões e relâmpagos.

Marisa - Eu vi que essa chuva é geral - comenta ao parar minha cadeira na entrada do hospital - Não gosto quando ela é assim . Tem uma energia ruim e me deixa melancólica.

Ela tem razão na sua última frase.

Tem uma energia ruim .

Me mantenho calada só esperando aquele que foi buscar o carro e que segundos depois surge parando com ele quase dentro da recepção.

-- Você é maluco ? - ele sorrir passando as mãos nos seus cabelos úmidos da chuva e é impossível não suspirar igual uma rendida pra ele .

Homem lindo da porra .

Russo - Por você ? Sem sombra de dúvidas - ele se abaixa me tirando da cadeira e o Gege salta de um carro que para atrás do dele e vem na nossa direção - Põe no porta malas Gege .

O moreno obedece e sorrir pra mim.

Gege - Como estão os herdeiros , patroa ?

Abraço o pescoço do Bóris e o respondo .

-- Fazendo jus aos sobrenomes que eles vão carregar .

Russo - Meus gurerreiros - sussurra ao me levar pro carro embaixo de um guarda chuva que a Marisa nos oferece - Escuta , eu não vou poder ir contigo porque marquei de ter um a sós com o Pepe e ele acabou de chegar . Mas o Gege vai levar e trazer vocês em segurança. Tudo bem ?

-- Tudo bem - pego seu maxilar coberto pela barba cheirosa e o trago pra perto de mim dando um selinho na boca roxinha com gosto de maconha .

Bóris desliza a mão pra minha nuca e faz do selinho um beijo lento que a gente só encerra ao ouvir um raspar de garganta.

Gege - Assim , não é querendo interromper. Tá ligado ? Mas geral tá descendo pro cemitério já.

Sua fala é como um choque de realidade em mim e eu estremesso tão violentamente que o homem inclinado a minha frente percebe .

Russo - Ei ? - ele olha nos meus olhos -Quer que eu vá contigo ? É só tú falar que eu deixo tudo aqui e vou .

Meu peito dói só de imaginar ele fora do morro e eu nego instantaneamente.

Não é que eu não o queira por perto - eu quero , a todo segundo - mas eu sei que depois de tudo o que rolou o que mais tem fora desse morro é policiais atrás dele , agora mais do que antes.

-- Eu vou ficar bem - forço um sorriso e dou um último selinho nele que respira fundo antes de se afastar.

Russo - Cuida dela Gege - o moreno sentado no banco do motorista faz um joinha pra ele que faz tsc me olhando como se não quisesse que eu fosse - Ela vai ficar bem - ele repete baixo , como se tentasse convencer a si mesmo disso e então fecha a porta .

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