Caminho Traçado - Uma babá na fazenda romance Capítulo 97

No escritório, um homem estava sentado, refletindo e encarando a parede, havia acabado de fazer a cirurgia do filho de seu “rival”.

Seus pensamentos foram interrompidos por batidas na porta, logo após, Rafaela entrava com um envelope na mão.

— O que é isso, Rafa? — Perguntou desanimado.

— Essa é a minha carta de demissão. — Respondeu séria.

— Demissão? — Imediatamente, concentrou-se na mulher que estava à sua frente. — Por que isso?

— Preciso de um tempo para mim, estou precisando descansar um pouco. Minha faculdade está acabando e eu quero dar novos rumos à minha vida. Tácio, ficar aqui me prende demais.

— Como assim? Se você acha que sua carga horária está muito pesada, nós podemos diminuí-la, e se quer descansar, eu posso te dar férias, não precisa pedir para sair.

— Eu não estou me referindo a descansar meu corpo em relação ao trabalho, eu preciso descansar minha mente. Tácio, preciso ficar longe de você!

— Rafa, está tudo bem? O que fiz que pode ter te ofendido? Sinceramente, eu não estou me lembrando de algo, mas, por favor, seja o que for, me perdoe. Ando um pouco desligado esses dias e...

— Não é isso! — Interrompeu a fala do homem. — Tácio! — Respirou fundo antes de continuar. — Trabalho para você há tantos anos. No começo, eu pensava apenas no trabalho, mas logo comecei a sentir algo por você, tentei evitar e achar que era coisa da minha cabeça, mas isso não passava e só aumentava cada dia mais. Daí, você começou a namorar e eu tive que fingir que isso não me afetava emocionalmente. Eu até estava achando que havia passado esse sentimento, mas aí, você terminou seu relacionamento e novas faíscas de esperança apareceram em meu coração. Eu sempre quis te falar, mas nunca tive coragem. Daí a Aurora apareceu e você começou a gostar dela, ou seja, eu percebi que nunca terei a oportunidade de ocupar seu coração, se eu continuar aqui, outras pessoas aparecerão, entende? Nunca serei eu a pessoa que ocupará seu coração.

— Rafa… Eu nem sei o que dizer, eu… — O homem processava as palavras da moça. — Sinto muito, nunca havia percebido esse seu sentimento por mim, e não sabia o que se passava em sua cabeça e coração, jamais tive a intenção de te magoar.

— Eu sei, e isso não importa mais, estou me sentindo mais leve agora, após te falar isso. Sei que não posso ter seu amor, então o que posso fazer é tentar mudar a minha vida, frequentar outros lugares, conhecer outras pessoas, ficar sem te ver será melhor, afinal, minha mente já entendeu que nada acontecerá entre nós, eu só preciso explicar agora para o meu coração.

— Rafa, eu sinto muito por não poder corresponder a seus sentimentos, mas eu te considero muito, você além de ser uma ótima funcionária, é como uma irmã para mim, por que isso logo agora? Não quero que vá. Leve o tempo que precisar para descansar, mas quero que volte, não quero outra pessoa ocupando o lugar que é seu.

— Sinto muito mesmo, Tácio, mas minha demissão é uma decisão definitiva, essa é uma decisão bem pensada, já arrumei uma pessoa qualificada que virá me substituir, vocês se darão muito bem. Quando eu voltar de viagem, quero trabalhar com minha família na pousada, até que minha faculdade seja concluída. Adeus, Tácio!

A mulher abriu a porta para sair, mas antes ouviu o homem responder, dizendo.

— Isso não é um adeus.

[…]

— Denise, você pode pegar um copo de água para mim, antes de a gente voltar para o quarto? Estou sentindo uma dorzinha chata aqui no pé da barriga.

— Senta aí, Aurora, eu vou pegar.

Denise foi em direção à copa, enquanto eu me sentava na poltrona ao lado da mesa da Rafaela, que saía da sala do Tácio com uma cara triste.

— Aconteceu alguma coisa, Rafa? — Perguntei preocupada.

— Nada de mais, só fiz o que deveria ter feito há muito tempo.

— Você falou dos seus sentimentos para o Tácio? — Perguntei, surpresa.

— Falei. — Sentou-se na sua cadeira arrumando algumas coisas.

— E aí. Como foi?

— Me sinto mais leve, tirei um peso da minha consciência, estou triste agora, mas sinto que foi o melhor a ser feito. Tirarei algum tempo para mim e viajar. Sempre tive vontade de ir para Nova York e caminhar nas calçadas da Times Square, quem sabe eu esbarre e conheça o amor da minha vida por lá.

— Você é doidinha, Rafa, é por isso que gosto de você, ai! — Outra vez, uma dor, mais forte do que a outra. — Denise está demorando com minha água, acho que vou lá ver o que aconteceu.

Antes que me levantasse, senti um líquido escorrer por minhas pernas.

— Aurora, sua bolsa rompeu! — Rafa gritou eufórica.

Denise apareceu no corredor com o copo de água. Ao ver o desespero de Rafa, correu em minha direção, deixando o copo voar no ar e depois cair forte no chão.

— Acho que os gêmeos estão vindo! — Falei, sentindo outra dor mais forte, que me fez cair sentada na cadeira.

— Vou chamar o Oliver imediatamente. — Denise falou, correndo em direção ao quarto onde ele estava com Noah.

Após um tempinho, ele apareceu.

— Aurora. — Oliver estava assustado.

— Temos que levá-la para o andar de baixo, o centro obstétrico é lá. — Rafa falou.

— Vem.

Oliver me pegou no colo e me levou para o elevador, enquanto Rafa vinha atrás.

Eu sentia muita dor e não conseguia falar mais nada, só me lembro de algumas enfermeiras me ajudando a trocar de roupa, sendo colocada numa maca e entrando numa sala com uma luz enorme próxima ao meu rosto.

Após uma injeção na minha coluna, eu não senti meu corpo da barriga para baixo.

— Está tudo bem, eu estou aqui com você.

Ouvi a voz de Oliver, então percebi realmente onde estava, fiquei feliz ao vê-lo ao meu lado, segurando a minha mão.

— Oliver, ainda é muito cedo para eles virem ao mundo, eu estou com medo de algo ruim acontecer.

— Não se preocupe, eu tenho fé que tudo dará certo!

— Você devia ficar com o Noah, ele vai acordar e sentir sua falta.

Disse sorrindo, aquele sorriso que me fazia estremecer.

Após ele desligar o telefone, Tácio bateu na porta do quarto onde estava.

— Posso entrar?

— Claro.

Os meninos estavam dormindo e Rafa disse que voltaria mais tarde.

— Queria ter vindo antes, estou feliz por tudo ocorrer bem, seus filhos são lindos.

— Obrigada, Tácio.

— Aurora. — Começou sem jeito. — Me desculpa pelo clima estranho que ficou entre nós, não me leve a mal, nunca quis seu mal, eu só estava tentando te ajudar do meu modo, só não havia percebido que não estava te deixando à vontade.

— Tudo bem, eu sou muito grata a você por tudo que fez por mim, desde o primeiro dia que cheguei aqui. Você é um homem muito bom, Tácio.

— Já deve saber sobre a Rafa, não é mesmo?

— Ela me contou. Sinto muito por vocês dois.

— Agora consigo te entender melhor, sabia? — Falava sério, mas notava tristeza em sua voz. — Por mais que a Rafa seja uma mulher maravilhosa e eu goste muito dela, isso não é o suficiente para ficarmos juntos. O amor é algo muito importante. Mesmo que haja respeito, cumplicidade, amizade e um monte de sentimentos bons, sem amor, não dá para começar um relacionamento.

— Não vai impedi-la de ir?

— Não. Quero que ela encontre alguém que dê a ela tudo que realmente merece. Não me perdoaria jamais, a tentar algo, sabendo que posso magoá-la no futuro.

— Parabéns por sua responsabilidade emocional, ainda bem que me entende agora, jamais aceitaria sua proposta, sabendo que não poderia corresponder igualmente a seus sentimentos.

— O Oliver é um ótimo homem, percebe-se o quanto ele te ama e o quanto você o ama também.

— Tácio, eu tive que sair da fazenda para proteger o Oliver de uma injustiça, eu sumi do mapa e não dei notícia alguma. Para que nem ele, nem o Noah, corressem perigo. Ele nunca me deixou, nem me abandou.

— Por que está dizendo isso logo agora?

— Porque, por mais que eu dissesse que não te devia satisfação, sinto que deveria ter sido mais clara com você, no fundo, eu sei que suas intenções foram sempre pensando no meu bem.

— Aurora, obrigado por ser sincera. Espero, do fundo do meu coração, que você seja muito feliz, tenho que ir agora, desejo uma boa recuperação para vocês.

Tácio me deu um beijo na testa e saiu do quarto, mas antes de fechar a porta, eu disse.

— Tácio, obrigada pelo que fez por mim e obrigada pelo que fez por meu Noah.

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