Após vinte dias, estávamos no avião, indo de volta para a fazenda. Noah já estava bem. Após o retorno com o Tácio, ele havia retirado o protetor que estava nos olhos e estava muito empolgado no colo do Saulo. O que me deixou um pouco preocupada sobre Denise, já que pensei que eles estariam juntos na fazenda, mas não, apenas ela havia voltado.
Os meninos estavam com todos os exames e vacinas em dia. Gael havia nascido primeiro, ele era bem dorminhoco, enquanto Henri vivia de olhos bem abertos e atento a tudo. Noah, que ficava com carinha de que não entendia nada, só encarava os meninos e ficava querendo pegá-los.
Ao chegarmos na fazenda, senti um misto de emoções. Eu estava morrendo de saudades daquele lugar, saí de lá uma pessoa e voltei outra totalmente diferente.
Abri a porta e meu coração chegou a errar as batidas, quando vi que Alice estava na sala de casa com Isa e Denise.
— Rora! — Ao me ver, ela correu em minha direção, mas parou no meio do caminho, andando bem devagarzinho e começou a falar. — A Isa falou que eu não posso pular no seu colo, porque você está com a barriga colada.
Todos na sala caíram na risada.
— Alice, meu amor. — Abracei minha irmãzinha, enquanto Denise pegava o Henri do meu colo. — Não acredito que esteja aqui. — Meus olhos começavam a encher de lágrimas.
— A mamãe deixou eu vir, Rora e advinha só, eu vou morar com você agora! — Disse animada.
— O quê? Como assim?
Olhei para Oliver e Saulo que se entreolharam.
— Depois a gente fala sobre isso, eu queria te fazer uma surpresa, ela veio com a Denise antes.
— É, só que logo abriu o berreiro e estranhou o lugar, e então tivemos que chamar sua amiga, que ela já conhecia e tinha costume para acalmá-la. — Denise já soltou o verbo, se referindo a Isa.
— Como você está, Rora? — Isa se aproximou, me abraçando e depois puxou minha orelha. — Se você não estivesse de resguardo, eu te bateria, só por saber de tudo que passou sozinha, sem me falar nada!
— Você estava ocupada demais com a faculdade, não poderia te atrapalhar.
— A faculdade nunca foi mais importante que a nossa amizade, dona Aurora.
— Meninas, vamos deixar essa conversa para depois? — Denise falou, cortando a DR entre as amigas. — Aurora, seu quarto está pronto, vá descansar que cuidaremos dos meninos. Você ainda não pode ficar muito tempo em pé, ainda mais após uma viagem cansativa dessas. Todos terão muito tempo para colocar as conversas em dia.
— Meu Deus, que mundo é esse em que resolvo concordar com a Denise pela primeira vez? — Oliver disse, caindo na gargalhada.
Notava-se no ar, a aura leve em que ele estava, toda aquela energia de cansaço e revolta saíram de seu redor, e no seu rosto, havia uma expressão leve, parecia que agora realmente ele havia deixado tudo que passou para trás.
— Vou acompanhar a minha mulher até o quarto e cuidarei dela, qualquer coisa me chamem, e Denise, me avise quando as babás que me indicou chegarem para a entrevista.
— Nada de furar o resguardo, está me ouvindo? Já há muitas crianças por aqui! — Saulo dizia, e enquanto o casal ia andando pelo corredor, dava para se ouvir as risadinhas de todos que ficavam na sala.
— As babás? — Falei enquanto a gente andava pelo corredor.
— Qual o motivo da surpresa? Acha que daremos conta dessa criançada sozinhos? Chamei quatro para a entrevista. — Riu, beijando minha bochecha.
— Quatro? — Ainda estava surpresa.
— O Noah, a Alice e os gêmeos, eu ainda acho pouco, porque temos que ver à noite e fins de semana, não quero que fiquemos tão sobrecarregados. Elas não criarão os nossos filhos e sim apenas nos auxiliarão no que precisarmos.
— Eu entendi, mas quero estar na hora da entrevista também, tudo bem? Preciso saber a que tipo de pessoa confiarei os meus filhos.
— Acho que não está apenas preocupada com os filhos… — Oliver sorriu descaradamente.
— Você é muito convencido, sabia? E quer saber de mais uma coisa? Se depois de tudo que passamos, você querer jogar tudo para o alto, entrando numa cilada de me trair, sinto muito em te dizer que quem perderá é você!
— Vamos cortar essa conversa por aqui? — Comentou sério, entrando no quarto. — Não quero que esses absurdos de conversas tenham algum rendimento. Sou louco por você, e eu sei que eu seria o homem mais estúpido do mundo, se fizesse algo para te magoar. Além disso, eu tenho meus filhos e quero que todos cresçam tendo um exemplo de pai e homem para se espelharem, e a Alice também, que eu já considero como se fosse minha filha. Quero que ela tenha uma boa lembrança de uma figura paterna, para quando crescer e querer se relacionar com alguém, tenha uma boa referência do que merece, um homem bom, que cuide, proteja e principalmente, a respeite em todas as suas escolhas. Que ela tenha consciência de não aceitar menos que isso!
— Ainda não consigo acreditar que conseguiu convencer minha mãe a deixar ela ficar comigo.
— Aurora… — Oliver ficou em silêncio e caminhou comigo até a cama. — Preciso te falar algo. — Ele continuava sério.
— O que houve? — Perguntei preocupada.
— Olha, me escuta com atenção, tudo bem? — Nos sentamos e ele me olhou nos olhos, segurando a minha mão. — A sua mãe procurou o Saulo e fez uma proposta para ele.
— O quê? Como assim, o que ela falou? — Fiquei irritada logo na primeira frase.
— Escuta primeiro, e depois eu te respondo tudo que quiser, tudo bem?
— Sim, tudo bem, mas fala logo, o que ela propôs?
— Pensei muito em ocultar esse assunto e deixar essa conversa apenas entre Saulo, sua mãe e eu, mas sou uma pessoa que odeia mentiras, então não acho certo a gente esconder algo um do outro. Sua mãe pediu uma quantia em dinheiro para o Saulo, em troca de assinar todos os papéis, passando a guarda da Alice para você. Sei que tomar essa atitude sem a sua permissão foi muito errada, mas no momento, eu só pensei em você e nela. Ela é uma criança que merece viver com uma boa qualidade de vida, e não falo em relação a bens materiais, e sim, em relação ao emocional e ao psicológico. Ela merece crescer ao lado de quem a ama e sempre cuidou dela desde o primeiro dia de vida, e é você essa pessoa. Aceitei fazer tudo isso, pensando que aqui, ela, em companhia dos meninos, possa crescer saudável e longe de toda a maldade e passado ruim, que apesar de serem bem novos, já passaram.
— Oliver, eu não posso dizer que não estou feliz com o que me disse, mas me preocupa saber que fez tudo isso sem conhecer do que minha mãe é capaz, ela pode retroceder, ou pedir mais dinheiro para você.
— Saulo já tratou de tudo, isso não pode acontecer, porque a lei está do nosso lado agora, Alice é nossa por direito, e sua mãe assinou todos os papéis, passando toda a responsabilidade para a gente.
— Eu não sei o que dizer, são tantas informações simultaneamente.
— Temos todo tempo do mundo para conversarmos, mas agora quero que tome banho e descanse, você continua de resguardo e precisa repousar.
— Oliver… — Olhei nos seus olhos. — Me ajuda a tomar banho? — Um sorriso malicioso apareceu em seus lábios. — Não se atreva a pensar besteira, homem, você sabe que preciso descansar.
— Eu te ajudo meu amor, e não estou pensando besteiras, só estou feliz em saber que posso ser útil para esfregar suas costas.
Riu, enquanto me ajudava a tirar a roupa, eu estava feliz demais em estar de volta a fazenda, meu coração dizia que ali era o meu lar, e que estava rodeada de pessoas que amava. Eu tinha tudo o que sonhava em ter na vida.
Jamais reclamaria do caminho traçado para mim, e que mesmo estando totalmente louca, em sair andando sozinha numa estrada desconhecida, agradeço por cruzar meu destino, com aquele homem na ponte.
[…]
Três anos após.
Após o casamento de Aurora e Oliver, que aconteceu dois meses após o nascimento dos gêmeos, aquela mansão ficou movimentada, afinal, uma família enorme morava ali agora.
No quarto, Aurora vestia sua roupa. Havia acabado de sair do banheiro, após tomar um banho relaxante, enquanto as crianças estavam na sala brincando. Agora, em frente ao espelho, tentava vestir um vestido que Oliver havia lhe presenteado em seu aniversário de vinte e um anos, mas por ter um zíper atrás, as coisas ficavam difíceis.
Hoje, eles sairiam sozinhos para jantar fora e dormiriam na capital. Aurora amava os filhos, mas sabia que deveria tirar mais tempo para ficar com o marido. A porta do quarto foi aberta e Oliver entrou.
— Amor, você viu o Noah por aí? — Perguntou, procurando o menininho tagarela de quatro anos.
— Não o vi não, acabei de sair do banho, ele não está lá na sala com as outras crianças?
— Não, Alice disse que ele veio em direção ao nosso quarto.
— Ele deve estar aprontando algo, será que foi para o quarto dele de novo? Depois que você comprou os materiais escolares dele, toda hora, ele abre aquela bolsa e fica admirando os cadernos.
— Já fui olhar lá, ele deve estar se escondendo de novo, me fazendo de besta para procurá-lo.
— Me ajuda com meu zíper aqui, que iremos procurar aquele toquinho de gente juntos.
Oliver se aproximou das costas da mulher.
— Como você está cheirosa. — Disse, cheirando seu pescoço e sussurrando em seu ouvido. — Está ouvindo isso? — Perguntou, beijando seu pescoço.
— Eu não ouço nada. — Afirmou.
— Isso mesmo, sinta o som do silêncio. Que tal aproveitarmos que estão todos lá embaixo? — Disse, descendo o vestido da esposa. — Ah, Aurora, se você soubesse o que quero fazer com você hoje. — Deu um tapa na bunda da esposa e a jogou na cama, subindo em cima dela imediatamente.
— Sai de cima da minha mamãe!
— Como é esta história mesmo, hein?
A voz de Saulo ecoou pela sala, ele acabava de entrar e ouviu o que o menininho acabava de falar.
— Tio Saulo, que bom que chegou. — Noah abraçou o tio, pulando nele e grudando em seu pescoço. — O senhor também brinca de subir em cima da tia Denise na cama?
Todos os adultos ali ficaram constrangidos.
— Meu Deus, o que essa criança andou vendo por aqui mesmo? — Fazia cara de indignado. — Vocês não trancam a porta do quarto?
— É uma longa história, Saulo, não dá corda. — Oliver se explicava.
— Noah, meu lindinho, vamos tomar um copo de leite quente? — Lúcia apaziguou a situação.
Noah acompanhou Lúcia até a cozinha.
— Vim buscar a princesa Alice. — Saulo anuncia.
— Eu já estou pronta, tio.
Alice estava com a bolsa de lado, ela dormiria na casa de Denise, já que as duas se davam muito bem.
— Papai Oliver, posso levar o Salaminho? — Alice perguntou em relação ao seu coelhinho de estimação, que havia ganhado do Oliver duas semanas atrás.
— Só se prometer não o deixar fugir, e nem roer os móveis da casa do tio Saulo. Alice se acostumou a chamar Oliver de pai. Nunca a questionaram, quanto à Aurora, ela continuava a chamar de Rora.
Como não ficou sabendo do que Sandro aprontou, ela amava o pai e às vezes falava dele.
Falando no demônio, três meses após ter seus filhos, Aurora recebeu a notícia da morte de Sandro na prisão. Ele havia sido transferido para outra penitenciária e, quando souberam de sua ficha, os detentos não deram mole, no primeiro banho de sol, ele dançou.
Não iria dizer que Aurora ficou feliz com a morte de alguém, mas estava aliviada.
Sua mãe nunca mais apareceu, Aurora não teve notícias de seus rastros.
No ano passado, Túlio foi preso. Ele foi condenado por tentar desviar dinheiro de uma empresa em que estava trabalhando. Com as buscas que fizeram em sua casa e em seu computador, descobriram os desvios que fez na fazenda São Caetano. Oliver conseguiu recuperar uma boa quantia de volta.
— Bem, crianças, nós vamos indo.
Oliver e Aurora se despediram dos filhos.
No caminho para a capital, Oliver resolveu parar na ponte em que se conheceram. Ele desceu do carro junto à esposa, os dois andavam de mãos dadas pelo acostamento, olhando para a água que corria forte lá embaixo.
— Um dia resolvi tomar uma atitude muito errada contra a minha vida e vim aqui tentar acabar com ela, mas acabei encontrando outra pessoa, que fazia algo muito errado também, caminhava sozinha numa estrada desconhecida à noite. — Abraçou Aurora. — A junção de duas pessoas irresponsáveis fez com que elas se reencontrassem dentro de si novamente. Me arrependo amargamente em pensar que tentei fazer algo contra mim, não pensando que o amanhã poderia ser diferente, mas sou feliz por ter te encontrado.
O céu estava sem estrelas, só a lua iluminava aquele ambiente, refletindo sua luz sobre a água. Estava um pouco frio, mas o casal que estava sobre a ponte queimava.
Seus corações estavam ligados mutuamente, o que os fazia ficar imunes ao clima externo. Havia paz naqueles dois.
— Morro de medo quando penso no risco que corri e me arrependo da minha falta de responsabilidade, mas quando me lembro que foi você, quem encontrei, meu coração descansa.
— Eu te amo tanto, Aurora, que meu coração chega a doer. Não queria outra pessoa no mundo que não fosse você, hoje consigo entender realmente o que significa a palavra amor, hoje consigo sentir o que essa palavra transmite.
Os dois se beijaram ali, num beijo cheio de ternura e afeto, como se fosse a primeira vez. O contato de seus lábios selava o amor recíproco que sentiam um pelo outro.
Quem passava por aquela ponte sabia da história de amor que se iniciou ali. Dois perdidos, que se encontraram no caminho que o destino traçou.
Um beijo, com amor, @euceliaoliveira_
Conheça minhas outras histórias.😘
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Caminho Traçado - Uma babá na fazenda
Os capítulos 73. 74 estão faltando ai ñ da para compreender e ficamos perdidas...
Alguém tem esse livro em PDF ?...
Do capítulo 70 em diante não se entende mais nada, pulou a história lá pra frente… um fiasco de edição!!!...
A partir do capítulo 10, vira uma bagunça, duplicaram a numeração dos capítulos, para entender é preciso ler apenas os lançados em outubro de 2023, capítulo 37 está faltando, a rolagem automática não funciona, então fica bem difícil a leitura! Uma revisão antes de publicar não faria mal viu!!!...
Nossa tudo em pe nem cabeça, tufo misturado, não acaba estórias e mistura com outro, meu Deus...
Lindo demais...